Forró
Nota: Este artigo é sobre a festa popular. Para o tipo de música, veja Forró (gênero musical).
Forró | |
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Casal dançando forró se apresenta na Virada Cultural de São Paulo em 2008. | |
Contexto cultural | Final do século XIX, no Sertão nordestino |
Instrumentos típicos | Sanfona, Triângulo, Zabumba |
Popularidade | Em todo o Brasil, especialmente nas regiões Nordeste e Norte do Brasil[1] |
Formas regionais | |
Região Nordeste |
O Forró é uma festa originária da Região Nordeste do Brasil,[2][3] bastante popular e comum, especialmente nas festas juninas. O nome da festa forró é usado para nomear distintos gêneros musicais como o xote, baião, arrasta-pé e o xaxado, por isso quem não conhece suas histórias, as confundem com um gênero único.[4][5] As músicas são executadas tradicionalmente por trios instrumentais com acordeon(sanfona), zabumba e triângulo.[6]
Forró também é um dos gêneros musicais da festa forró, o qual foi criado por Luiz Gonzaga em 1958.[7] A dança do xote(dois pra lá e dois pra cá) passou a acompanhar as músicas desse novo gênero e a ser chamada de dança do forró.
Os gêneros musicais executados nos forrós, desde a década de 90 também são chamados agrupadamente de forró pé-de-serra.
Conhecido e praticado em todo o Brasil, o forró é especialmente popular nas cidades brasileiras de Caruaru e Campina Grande, que sediam as maiores festas juninas do país. Já nas capitais Aracaju, Fortaleza, João Pessoa, Natal, Maceió, Recife, Teresina e Salvador, são tradicionais as festas e apresentações de bandas de forró em eventos privados que atraem especialmente os jovens.
Índice
1 Origem do nome
2 História
2.1 Modernização
2.2 Revitalização
3 Tipos de danças
4 Ver também
5 Bibliografia
6 Referências
7 Ligações externas
Origem do nome |
O termo "forró", segundo o filólogo pernambucano Evanildo Bechara, é uma redução de forrobodó, que por sua vez é uma variante do antigo vocábulo galego-português forbodó, corruptela do francês faux-bourdon, que teria a conotação de desentoação.[8] O elo semântico entre forbodó e forrobodó tem origem, segundo Fermín Bouza-Brey, na região noroeste da Península Ibérica (Galiza e norte de Portugal), onde "a gente dança a golpe de bumbo, com pontos monorrítmicos monótonos desse baile que se chama forbodó".[9][10][11]
Na etimologia popular (ou pseudoetimologia) é frequente associar a origem da palavra "forró" à expressão da língua inglesa for all (para todos).[9] Para essa versão foi inventada uma engenhosa história: no início do século XX, os engenheiros britânicos, instalados em Pernambuco para construir a ferrovia Great Western, promoviam bailes abertos ao público, ou seja for all. Assim, o termo passaria a ser pronunciado "forró" pelos nordestinos. Outra versão da mesma história substitui os ingleses pelos estadunidenses e Pernambuco por Parnamirim (Rio Grande do Norte) do período da Segunda Guerra Mundial, quando uma base militar dos Estados Unidos foi instalada nessa cidade.[12]
Apesar da versão bem-humorada, não há nenhuma sustentação para tal etimologia do termo. Em 1912, estreou a peça teatral "Forrobodó", escrita por Carlos Bettencourt (1890-1941) e Luís Peixoto (1889-1973), musicada por Chiquinha Gonzaga[13] e em 1937, cinco anos antes da instalação da referida base militar em território potiguar, a palavra "forró" já se encontrava registrada na história musical na gravação fonográfica de “Forró na roça”, canção composta por Manuel Queirós e Xerém.[10]
História |
Os bailes populares eram conhecidos em Pernambuco por "forrobodó" ou "forrobodança" ou ainda "forrobodão" já em fins do século XIX.[14]
O forró tornou-se um fenômeno pop em princípios da década de 1950. Em 1949, Luiz Gonzaga gravou "Forró de Mané Vito", de sua autoria em parceria com Zé Dantas e em 1958, "Forró no escuro". No entanto, o forró popularizou-se em todo o Brasil com a intensa imigração dos nordestinos para outras regiões do país, especialmente, para as capitais: Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Nos anos 60, além de Luiz Gonzaga, destacaram-se artistas como Marinês, Ary Lobo, Zito Borborema, Luiz Wanderley, Sebastião do Rojão, Jacinto Silva e muitos outros.
Nos anos 1970, surgiram, nessas e em outras cidades brasileiras, "casas de forró". Foi nessa década que surgiu a moda do forró de duplo sentido, consagrada pelas composições e interpretações de João Gonçalves. Outros grandes cantores do período foram Zenilton e Messias Holanda. No fim desta década, intrumentos como a bateria, o baixo elétrico e a guitarra elétrica já eram introduzidos nas gravações de discos de vários artistas, como Dominguinhos e o Trio Nordestino.
A década de 1980 foi de crise para o forró, o que fez com que grandes nomes do gênero aderissem ao duplo sentido das letras para atrair a atenção do público. Foi a década do chamado "forró malícia" representado por nomes como Genival Lacerda, Clemilda, Sandro Becker, Marivalda entre outros. Foi nessa década que a bateria (esporadicamente utilizada nos anos 70) foi inserida oficialmente na instrumentação do gênero, assim como a guitarra, o baixo elétrico e, mais raramento, os metais. A década de 1980 terminou sem que o gênero conseguisse recuperar o prestígio e, nos anos 1990, surgia um movimento que procurou dar novo fôlego ao forró, adaptando-o ao público jovem; era o nascimento do reinado das bandas de "forró eletrônico", surgidas no Ceará, cuja pioneira foi a Mastruz com Leite. Outros grandes nomes desse movimento são Calcinha Preta (que impulsionou o crescimento do forró pelo Brasil e pelo mundo a fora), Cavalo de Pau, Magníficos e Limão com Mel.
Modernização |
Ver artigo principal: Forró eletrônico
A modernização musical do forró iniciou no final da década de 1970, quando a bateria passou a ser utilizada de forma sutil em disco de artistas como Trio Nordestino, Os 3 do Nordeste, Genival Lacerda e outros. Na década de 1980, a bateria, guitarra elétrica e baixo elétrico faziam parte oficialmente da instrumentação dos discos de forró. Luiz Gonzaga passou a fazer uso constante desses instrumentos a partir do seu álbum de 1980, "O homem da terra".
No início da década de 1990, surgiu no Ceará um novo meio de produzir músicas de forró, com a introdução de instrumentos como o teclado e o sax e a retirada da zabumba, mesclando com elementos da lambada, música pop e axé music, o movimento ficou conhecido como forró eletrônico ou estilizado. Seu precursor foi o produtor musical e empresário Emanuel Gurgel, responsável pelas bandas Mastruz com Leite, Forró Cavalo de Pau, Mel com Terra e Catuaba com Amendoim. O principal meio de divulgação foi a rádio Som Zoom Sat e a gravadora Som Zoom Estúdio pertencentes a Gurgel. Tal pioneirismo recebeu críticas por transformar o forró num produto.[12]
Várias bandas de forró notabilizaram-se por fazer versões de clássicos do rock e do pop internacional.
A banda de rock Raimundos fez muito sucesso nos anos 1990 com o gênero, forrocore, um misto de forró com o hardcore, desde a composição musical até as letras.[15]
Revitalização |
Ver artigo principal: Forró universitário
No fim da década de 1990 e início da de 2000 em São Paulo, as músicas do forró pé-de-serra foram revitalizadas na grande mídia com o surgimento de grupos e artistas solo como o Rastapé, Bicho-de-pé e o Falamansa. O estilo desses artistas ficou conhecido como "forró universitário", o nome é devido a se apresentarem em festas universitárias paulistanas. Ele executa gêneros musicais do forró original com acréscimos ou mudanças instrumentais.[16]
O estilo musical pé-de-serra e universitário são na prática muito parecidos e são geralmente diferenciados pela localização geográfica dos artistas e pelo período histórico.[17]Forró pé-de-serra, também conhecido como forró tradicional, é a expressão utilizada para designar os estilos mais tradicionais (xote, baião e arrasta-pé), que possuem como instrumentos característicos o sanfona, zabumba e triângulo, diferentemente dos estilos mais estilizados que usam instrumentos elétricos, como o forró eletrônico.[18][19][20]
O forró pé-de-serra designa um estilo com sonoridade de músicos tradicionais do interior do nordeste brasileiro e principais representantes de sua música, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro e Sivuca.[21]
Em comparação com o forró pé-de-serra, a dança no universitário sofreu muitas alterações e tornando-se completamente diferente no nordeste (pé-de-serra) e no sudeste (universitário).
Tipos de danças |
O forró é dançado em pares, e evoluiu para vários estilos que têm raízes em diversos outras danças, adaptadas para o molde e a estética que a cultura e a música do forró apresenta. O estilo de música, bastante abrangente dentro do forró, também irá variar com as danças.
O forró é dançado ao som de vários gêneros musicais brasileiros tipicamente nordestinos, além do gênero musical forró, entre os quais destacam-se: o xote, o baião, o arrasta-pé, o xaxado, a marcha (estilo tradicionalmente adotado em quadrilhas) e coco, e algumas vezes, o maracatu. Todos esses gêneros musicais são próximos, mas não são o mesmo que música forró.
[4]
Danças tradicionais ou populares:
- Dança em casais. A característica em comum e clássica entre elas é o abraço fechado:
Xote: conhecida também como dança (tradicional) do forró. O passo original é chamado de dois para lá de dois para cá. Também são executados outros passos na mesma marcação. Ela acompanha músicas do xote e de outros gêneros como baião, coco, forró (gênero musical), rojão e toada. É a dança mais praticada nos forrós.
Baião: Tem passo de marcação binária, uma troca de pé de apoio, seguido de um quique de sola do outro pé. Ela acompanha as músicas do baião.
Arrasta-pé: executada no passo de marcha. Ela acompanha músicas do arrasta-pé/polca e frevos executados por grupos de forró.
- Danças individuais, menos frequente nos forrós:
- Xaxado: dança trocando o pé de apoio marcando o tempo e contratempo das músicas do xaxado. Há versão estilizadas que não marca o contratempo.
- Coco: passos com soladas no chão marcando o ritmo. Ela acompanha músicas do coco.
Danças de salão
Surgiram no fim dos anos 90 em escolas de dança profissional. A partir de misturas da dança do xote/forró com outras danças. Elas acompanham alguns gêneros musicais como o xote, baião, forró (gênero musical), coco, rojão e toada. As principais danças são:
- O forró roots (ou de raiz, "pé-de-serra"), no modo raiz, ela é dançada em abraço fechado e contato corporal total, característica identitária da dança (tradicional) do forró, sem fazer movimentos em posições abertas. Sua criação começou nos eventos de forró de Itaúnas/ES, que introduziu principalmente movimentos intrínsecos e complexos de pernas, em sua maioria originados e modificados do tango e samba de gafieira.
- O forró eletrônico, dançado com mais malícia e com um apelo maior para a sexualização dos pares, tem grande influência da lambada, salsa e até mesmo a bachata dominicana.
- O forró universitário a maioria das figuras são em posições abertas com movimentos de braços de salsa cubana e/ou salsa L.A.(Los Angeles). Há movimentos de outras danças, como zouk e lambada em posição aberta ou no abraço do xote/forró.
Ver também |
- Cultura Nordestina
Bibliografia |
Enciclopédia da Música Brasileira: Erudita, folclórica, popular. 2ª. ed. rev. e atual. Art Editora/Itaú Cultural, 1998.- Alvarenga, Oneyda. Música Popular Brasileira. São Paulo. "Lundu e Danças Afins". P.177. 2ª Edição. Livraria Duas Cidades, 1942.
- Carvalho, Rodrigues de. Cancioneiro do Norte. Paraíba do Norte. 71. 2º Edição, 1928.
- Câmara Cascudo, Luís da. Vaqueiros e Cantadores. p. 143 (em Almeida RJ, José Alberto de. 1997. Os Cantadores de Cordel do Nordeste Brasileiro: Relentara de Uma Prática Medieval. p. 6. Universidade Estadual do Ceará. CNPq - PIBIC).
- Câmara Cascudo, Luís da. Dicionário do Folclore Brasileiro. 2ª ED. Rio de .Janeiro. Instituto Nacional do Livro. Ministério da Educação e Cultura, 1962.
- Câmara Cascudo, Luís da. Dicionário do Folclore Brasileiro. 6ª Edição. Belo Horizonte, Itatiaia - São Paulo. p. 95. Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
Enciclopédia Brasileira Globo. Vol.II - 14ª. Porto Alegre. Edição. Editora Globo, 1975.- Buarque de Holanda Ferreira, Aurélio. Minidicionário da Língua Portuguesa. 1ª Ed. 5ª Impressão. Rio de Janeiro. p. 207. Editora Nova Fronteira, 1977.
- Phaelante, Renato. Forró: Identidade Nordestina. Fundação Joaquim Nabuco (Instituto de Pesquisas Sociais, Departamento de Antropologia). Recife, 1995.
Referências
↑ Izel, Adriana (16 de fevereiro de 2016). «Invasão do forró: Gênero popular no Nordeste conquista espaço no Brasil». Correio Braziliense. Consultado em 12 de abril de 2017. Cópia arquivada em 12 de abril de 2017
↑ «"forró", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013»
↑ «Signficado de Forró no Dicionário online Aulete Digital»
↑ ab «Dominguinhos apresenta as diferenças entre forró de pé de serra, baião, arrasta-pé, xote, xaxado»
↑ «Origem da Palavra Forró».... o forró é o espaço onde se dança, não a música que se canta. Alguém se aproveitou de Jackson, de Gonzaga, de Marinês… E tudo virou forró – garante Marinês.
↑ «Significados de Forró no Dicionário Michaelis»
↑ «Chamego, baião, xote: as várias facetas do gênero que imortalizou Luiz Gonzaga»
↑ BECHARA, Evanildo (2009). Minidicionário da Língua Portuguesa. [S.l.]: Nova Fronteira. 957 páginas. ISBN 9788520921852
↑ ab Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, verbete "forrobodó"
↑ ab Sobre Palavras - Forró vem de "for all"? Conta outra!, Sérgio Rodrigues, Revista Veja, 4 de agosto de 2011
↑ José Augusto Carvalho. «A origem forrobodó». Editora Escala. Conhecimento Prático Língua Portuguesa (53)
↑ ab Mvirtual. «Forró - Origens e Manifestações atuais». Consultado em 13 de janeiro de 2012
↑ ChiquinhaGonzaga.com - peças teatrais
↑ Enciclopédia da Música Brasileira: p. 301.
↑ Ricardo Schott (Janeiro de 1995). «Raimundos: A corrida do ouro». Super Interessante
↑ «O velho Forró conquista seguidores entre a classe média urbana»
↑ «Diferença: forró-pé-serra x forró universitário»
↑ Daniel Buarque (20 de junho de 2011). «Conheça as origens e a evolução do forró, o ritmo da festa de São João». G1. Consultado em 7 de março de 2017
↑ Lopes, Ibrantina (2007). Forró pé-de-serra: descompasso entre letra e música (PDF) (Monografia). Recife: Faculdade Frassinetti
↑ José Carlos dos Anjos Wallach (22 de maio de 2016). «Atenção ao pé-de-serra: Carlinhos Brown sente falta do forró tradicional». Correio da Paraíba. Consultado em 7 de março de 2017
↑ Gabriel Serravale (14 de junho de 2016). «Forró tradicional, xote e baião animam noites de Salvador». A Tarde. Consultado em 7 de março de 2017
Ligações externas |
- Artigo - Forró Universitário: a tradução do forró nordestino no Sudeste brasileiro