Rio Grande do Sul
Estado do Rio Grande do Sul | |
Lema: Liberdade, Igualdade, Humanidade | |
Hino: Hino Rio-Grandense | |
Gentílico: gaúcho; sul-rio-grandense [1] | |
Localização | |
- Região | Sul |
- Estados limítrofes | Santa Catarina (norte), Argentina (oeste) e Uruguai (sul) |
- Regiões geográficas intermediárias | 8 |
- Regiões geográficas imediatas | 43 |
- Municípios | 497 |
Capital | Porto Alegre |
Governo | |
- Governador(a) | José Ivo Sartori (PMDB) |
- Vice-governador(a) | José Paulo Cairoli (PSD) |
- Deputados federais | 31 |
- Deputados estaduais | 55 |
- Senadores | Ana Amélia (PP) Paulo Paim (PT) Lasier Martins (PSD) |
Área | |
- Total | 281 730,223 km² (9º) [2] |
População | 2018 |
- Estimativa | 11 329 605 hab. (5º)[3] |
- Censo 2010 | 10 693 929 hab. |
- Densidade | 40,21 hab./km² (13º) |
Economia | 2014 |
- PIB | R$ 357,816 bilhões[4] (4º) |
- PIB per capita | R$ 31.927,16 (6º) |
Indicadores | 2010/2015[5][6] |
- Esper. de vida (2015) | 77,5 anos (5º) |
- Mort. infantil (2015) | 9,9‰ nasc. (24º) |
- Alfabetização (2010) | 95,8% (5º) |
- IDH (2010) | 0,746 (6º) – elevado [7] |
Fuso horário | UTC−03:00 |
Clima | subtropical Cfa/Cfb |
Cód. ISO 3166-2 | BR-RS |
Site governamental | http://www.rs.gov.br |
Nota: RS redireciona para este artigo. Para outros significados de RS, veja RS (desambiguação).
Rio Grande do Sul (pronúncia em português: [ʀˈiw ɡɾˈɐ̃dɘ du sˈul]) é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está situado na Região Sul e tem por limites o estado de Santa Catarina ao norte, Argentina ao oeste e Uruguai ao sul, além do Oceano Atlântico ao leste. É dividido em 497 municípios e sua área total é de 281 730,223 km², o que equivale a 3,3% da superfície do Brasil, sendo pouco maior que o Equador.[8] Sua capital é o município de Porto Alegre e seu atual governador é José Ivo Sartori. As cidades mais populosas são: Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas, Canoas e Santa Maria. O relevo é constituído por uma extensa baixada, dominada ao norte por um planalto. Antas, Uruguai, Taquari, Ijuí, Jacuí, Ibicuí, Pelotas e Camaquã são os rios principais. O clima é subtropical e a economia baseia-se na agricultura (soja, trigo, arroz e milho), pecuária e indústria (de couro e calçados, alimentícia, têxtil, madeireira, metalúrgica e química).
Com mais de onze milhões de habitantes, ou cerca de 5,4% da população brasileira, é o estado mais populoso da Região Sul e o 5º do Brasil, podendo ser comparado com a Ruanda no número de habitantes. A população gaúcha é uma das mais diversificadas do país e descende principalmente de italianos e alemães, que começaram a emigrar para o país no fim do século XIX. Sua população é em grande parte formada por descendentes de portugueses, alemães, italianos, africanos e indígenas, em pequena parte por espanhóis, poloneses e franceses, dentre outros imigrantes.
Em 1627, jesuítas espanhóis criaram missões jesuíticas próximas ao rio Uruguai, mas foram expulsos pelos portugueses em 1680, quando a Coroa Portuguesa resolveu assumir seu domínio, fundando a Colônia do Sacramento. Os jesuítas espanhóis estabeleceram, em 1682, os Sete Povos das Missões. Os portugueses chegaram em 1737 com uma expedição militar de José da Silva Paes. As lutas pela posse das terras entre portugueses e espanhóis continuaram, e somente tiveram fim em 1801, quando os próprios gaúchos dominaram os Sete Povos, incorporando-os ao seu território. É criada em 19 de setembro de 1807 a Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul. Em 28 de fevereiro de 1821 torna-se a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, que viria a se tornar o atual estado do Rio Grande do Sul, após a Proclamação da República do Brasil. Com a chegada de outros povos a partir de 1824, a sociedade estancieira passou então a coexistir com a pequena propriedade agrícola, diversificando a produção. Durante o século XIX, o Rio Grande do Sul foi palco de revoltas federalistas, como a Guerra dos Farrapos (1835-45), participou da luta contra Rosas (1852) e da Guerra do Paraguai (1864-70). As disputas políticas locais foram acirradas no início da República e só no governo de Getúlio Vargas (1928) o Estado foi pacificado.
É o estado mais meridional da federação, conta com o quarto maior PIB, superado apenas por São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o quinto mais populoso e com o sexto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais elevado do país.[3]
Em certos locais do estado, como a Serra Gaúcha e a região rural da metade sul, ainda é possível ouvir dialetos da língua vêneta (talian) e do alemão (Hunsrückisch, Plattdeutsch). O Rio Grande do Sul foi apontado em 2014 pelo jornal americano The New York Times como o lugar com mais traços europeus do Brasil.[9] Embora o estado esteja enfrentando uma crise econômica acentuada, é onde há o maior número de idosos e a segunda maior expectativa de vida e onde os trabalhadores são mais bem remunerados, tendo uma das menores taxas de analfabetismo, e mortalidade infantil do país.[10][11][12] Mesmo com bons indicadores sociais, o Rio Grande do Sul sofre com a disparidade econômica entre a metade norte, considerada industrial, e a metade sul, considerada agrária.[13]
Índice
1 Etimologia
2 História
2.1 Povos indígenas
2.2 Colonização europeia
2.2.1 Os Sete Povos
2.2.2 A expansão
2.3 A demarcação
2.4 As comandâncias
2.5 A integração
2.6 Emancipação nacional e império
2.7 República
2.8 Presença de Vargas
2.9 Depois de 1930
3 Geografia
3.1 Geologia e relevo
3.1.1 Planície costeira
3.1.2 Planalto Dissecado de Sudeste
3.1.3 Depressão Central
3.1.4 Planalto Basáltico
3.2 Ecologia
3.3 Clima
3.4 Hidrografia
3.5 Vegetação
4 Demografia
4.1 Municípios mais populosos
4.2 Composição étnica
4.3 Idiomas
5 Governo e política
6 Subdivisões
7 Economia
7.1 Turismo
8 Infraestrutura
8.1 Energia
8.2 Educação
8.3 Transportes
8.4 Saneamento básico
9 Cultura
9.1 Acervo arquitetônico
9.2 Eventos
9.3 Esporte
9.4 Culinária
9.5 Literatura
9.6 Feriados
10 Ver também
11 Notas
12 Referências
13 Ligações externas
Etimologia
O nome do estado originou-se de uma série de erros e discordâncias cartográficas, quando se acreditava que a Lagoa dos Patos fosse a foz do Rio Grande, que já era demonstrado em mapas neerlandeses, décadas antes da colonização portuguesa na região. Pelo que se sabe até agora, o primeiro cartógrafo dos Países Baixos a registrar a Lagoa dos Patos, ainda considerada o Rio Grande, foi Frederick de Wit, em seu atlas de 1670. Já o primeiro registro cartográfico feito por um neerlandês a mostrar o suposto rio com um formato próximo ao que é conhecido hoje da referida lagoa foi Nikolaus Visscher, em 1698. Apesar de ele não ter sido o primeiro a mencionar os índios Patos que habitavam suas margens e boa parte do litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, foi ele quem associou o nome à lagoa. Por volta de 1720, açorianos vindos de Laguna vieram à região de São José do Norte buscar o gado cimarrón vindo das missões, possibilitando a posterior fundação da cidade de Rio Grande, no ano de 1737. A partir do nome do município, surgiu também o nome do estado do Rio Grande do Sul.[carece de fontes]
Os habitantes naturais do Rio Grande do Sul são denominados gaúchos, rio-grandenses-do-sul ou sul-rio-grandenses.[14] O gentílico no masculino do singular é gaúcho e no feminino do singular gaúcha.[15] É uma palavra oriunda do castelhano gaucho[nota 1], um adjetivo que, aplicado a pessoas pode significar "nobre, valente e generosa" ou "camponês experimentado em pecuária tradicional", ou ainda "velhaco, astuto, dissimulado ou ardiloso experiente",[17] mas também pode ter o sentido de "vagabundo, contrabandista, desregrado e desprivilegiado".[18]
História
Ver artigo principal: História do Rio Grande do Sul
Povos indígenas
Na época do Descobrimento do Brasil, a região que hoje forma o Rio Grande do Sul era habitada pelos índios minuanos, charruas e caaguaras, que viveram há 12 mil anos a.C.[19][20] Eram bons ceramistas e, na caça, usavam as boleadeiras, até hoje um dos instrumentos do peão gaúcho.[21][22]
Essas tribos viveram muito tempo sem contato com os brancos colonizadores.[22] As disputas entre Portugal e Espanha sobre os limites de suas possessões na América fizeram com que a região só fosse ocupada no século XVII.[23] Os padres jesuítas espanhóis foram os primeiros a se estabelecer no local.[22][24]
Colonização europeia
As peculiaridades geográficas do atual estado do Rio Grande do Sul, dividido em 11 diferentes regiões fisiográficas,[25] influíram para retardar a ocupação da terra, a leste, pelo conquistador europeu.[26][27] Outro fator negativo foi o Tratado de Tordesilhas, de 1494, que dividiu a soberania sobre os descobrimentos entre Portugal e Espanha por um meridiano ideal.[28] No caso do Brasil, o meridiano estendia-se das proximidades da ilha de Marajó até a baía da Laguna, em Santa Catarina.[28][29][29][30] Ante as dúvidas surgidas sobre o ponto exato em que deveria passar a linha convencionada e achando-se o rio de São Pedro justamente na zona cuja confrontação se discutia, nenhuma daquelas duas nações se apressou a ocupá-lo, pelo temor de novas dificuldades diplomáticas. Contudo, em princípios do século XVII a Espanha penetrava na margem esquerda do Rio Uruguai, por intermédio dos jesuítas que, a partir do Paraguai, estabeleceram suas reduções em vários pontos, chegando mesmo às cercanias da futura cidade de Porto Alegre e, de modo geral, senhoreando-se de todo o oeste rio-grandense.[29][30]
A seguir, os bandeirantes destruíram a província do Guairá, desceram à província do Tape, no coração do Rio Grande, e à província do Uruguai, desbaratando as aldeias e aprisionando os índios, que levavam como escravos para suas lavouras.[31] Antônio Raposo Tavares foi um dos maiores chefes dessas expedições predatórias.[31] As aldeias foram arrasadas, seus habitantes mortos ou aprisionados, e os sobreviventes fugiram com os jesuítas, para o sul, onde se fixaram junto à margem direita do rio Uruguai.[29][30] Ao levar a catequese, o aldeamento, as estâncias e os ervais a uma larga faixa do território, entre 1632 e 1634 os jesuítas estabeleceram reduções no alto Ibicuí (São Tomé, São Miguel, São José, São Cosme e São Damião). Ampliaram a área de penetração, alcançaram a bacia do Jacuí e fixaram outras reduções, inclusive para além da província do Tape (Santa Teresa, Santa Ana, São Joaquim, Natividade, Jesus Maria, São Cristóvão).[29][30]
A vitória alcançada contra os paulistas na batalha de Mbororé, em 1641, não foi suficiente para permitir a fixação das reduções.[32] O êxodo das populações indígenas—já iniciado depois do assalto da bandeira de Raposo Tavares, em 1637—se intensificou, com a transferência dos jesuítas e dos índios para a margem direita do rio Uruguai, na fértil mesopotâmia do Paraná.[29][30][33]
Concluiu-se, por força de tais acontecimentos, a primeira fase da civilização jesuítica no território do atual Rio Grande do Sul, com o abandono de terras abertas aos que primeiro chegassem para ocupá-las, aventureiros e colonizadores.[34] Somente depois de 1680, com a fundação da Colônia do Sacramento, na margem superior do rio da Prata, a região passou a ser objeto de disputa política por parte de portugueses e espanhóis.[29][35][36]
Os Sete Povos
Ver artigo principal: Sete Povos das Missões, Escultura dos Sete Povos das Missões, Missões jesuíticas na América
A pressão dos bandeirantes não pôs fim à presença dos jesuítas na margem oriental do rio Uruguai.[36] Retornaram os religiosos cinqüenta anos depois do êxodo, atraídos pelas disponibilidades econômicas da região, sobretudo pelo gado.[36] Inaugurou-se, na volta ao território perdido, a segunda fase da penetração jesuítica,[37] que na realidade só terminou com a fulminante ação militar de 1801—precedida de longas e indecisas ações diplomáticas --, a qual incorporou definitivamente a região ao Rio Grande do Sul.[29][36][38]
A segunda fase cifra-se na história dos Sete Povos das Missões, com o marco inicial de 1687 (São Francisco de Borja, São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, Santo Ângelo Custódio).[37] O perigo dos paulistas não cessara, embora se tornasse menos ameaçador, concentrada a ação do poder dos portugueses na faixa litorânea, de que a Colônia do Sacramento seria o ponto extremo.[29][36]
Situados em terras de domínio nominal da Espanha, sob o comando de Buenos Aires, os Sete Povos abrangiam, as extremas dos grandes rebanhos de gado, que se concentravam nas vacarias—as Vacarias do Mar, que alcançavam o extremo sul do atual Rio Grande do Sul, penetrando em território uruguaio, e a Vacaria dos Pinhais, na região da hoje ainda chamada Vacaria, no nordeste do estado.[29][39][36]
Ao fato da coincidência geográfica do território, acentuado por alguns historiadores para vincular a história do Rio Grande do Sul às missões jesuíticas, agregam outros estudiosos o motivo econômico, sobretudo baseado na expansão do gado. As duas fases das Missões assinalam diferenças qualitativas. Na primeira predominou o zelo evangelizador, integratório dos indígenas na civilização espanhola; a segunda foi marcada pelo fundamento econômico da expansão, de índole utilitária e dominada por preocupações agora marcadamente políticas, de exclusivismo nacional, embora, em certo momento, arredia e até hostil à autoridade espanhola.[29][36] O gado, de início aclimatado na margem do rio Uruguai, é de origem paulista, introduzido em São Vicente, onde Martim Afonso estabelecera o principal curral. Invadindo o Paraguai, depois de proliferar, irradiou-se pelas pastagens vizinhas, com a distribuição, pelos jesuítas, de 99 cabeças para cada aldeamento, em 1634. A matança foi proibida nos primeiros anos. Provavelmente, esse núcleo original se havia ampliado com cabeças vindas do Peru, já a partir de 1569, acrescidas das manadas que se projetaram da atual província de Corrientes, na Argentina. A bagualada já campeava livremente nos pampas, trazida pela expedição de Pedro de Mendoza, que em 1535 desembarcou no Prata 72 cavalos e éguas.[29][36]
Os rebanhos, alimentados pelas pastagens naturais e protegidos pelos acidentes das florestas e rios (os rincões), proliferaram com abundância, espraiando-se nas Vacarias do Mar e prolongando-se na Vacaria dos Pinhais, onde se localizou extenso depósito de gado para o abastecimento das aldeias. Aos currais das aldeias somaram-se os das invernadas, os campos de cria, alimentados com rebanhos nascidos em regiões mais distantes. Ovelhas e cabras, de procedências várias, completavam o rico plantel das Missões, que só começou a ser saqueado por elementos estranhos, portugueses e espanhóis, depois da fundação da Colônia do Sacramento, em 1680, e no segundo decênio do século XVIII, com a gente de São Paulo e Laguna, que o explorou para satisfazer às necessidades da população de Minas Gerais, durante o ciclo do ouro.[29][36]
A civilização jesuítica, um caso de subcultura regional, mesmo na herança fluida e fantasmagórica que deixou ao império lusitano, ao ser incorporada definitivamente em 1801, foi apenas um corpo estranho, jamais absorvido no processo histórico português e brasileiro. Tenazmente combatido pelas armas e interiormente desintegrado, não deixou a permanente junção da continuidade histórica. A conquista do Rio Grande e seu povoamento, de caráter luso, legado ao império brasileiro, serão obra da gente portuguesa, paulista e lagunista de diversas procedências, gente de toda a colônia. As Missões Orientais são um episódio malogrado da corrente que procurou o Atlântico, de Buenos Aires e, depois, do vice-reinado do Prata.[29][36]
Tal ponto de vista, acentuando essas razões e desfazendo equívocos, será confirmado em obra de 1945, de autoria de Serafim Leite, insuspeito de antipatia à causa jesuítica. Para esse historiador, as Missões jesuíticas do Rio Grande do Sul se incluem na história da Espanha e, por via desta, na do Paraguai. Seriam portanto desligadas da futura história do extremo-sul, diretamente vinculado ao processo civilizatório do Brasil. O resíduo espiritual das Missões tem significado irrelevante. Ao serem absorvidas pelo Brasil, já se haviam desintegrado; o próprio contingente de sua população praticamente nada representava: cerca de 14.000 pessoas numa área de 170.825km2, em 1801.[29][36]
A expansão
O litoral do atual território do Rio Grande do Sul só foi explorado pela expedição de Martim Afonso de Sousa, cabendo-lhe provavelmente a primazia na descoberta da barra do rio Grande ou rio de São Pedro. O mapa de Martim Viegas, de 1534, consigna o local e o nome, aludindo ao Tratado descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa, em 1587, as relações comerciais entre os vicentinos e os indígenas do litoral sulino, referências confirmadas por documentos posteriores.[29][40]
O Tratado de Tordesilhas não impediu que a coroa portuguesa se atribuísse o território que hoje compreende o Rio Grande do Sul e a República Oriental do Uruguai. Era a Capitania d'El-Rei ou província d'El Rei e figura num mapa de 1562 com o nome "d'el Rei Nosso Senhor". Em 1676 o regente D. Pedro doou ao visconde de Asseca e a João Correia de Sá duas parcelas de terra, desde Laguna até a foz do rio da Prata. Ainda em 1676 o bispado do Rio de Janeiro se estendia até o rio da Prata, provavelmente em consonância com as reivindicações portuguesas. As capitanias, não exploradas, reverteram, em 1727, ao patrimônio real, negando-se D. João V a confirmá-las.[29][40] A partir de meados do século XVII, sob o estímulo e o comando oficial, a expansão portuguesa para o sul tomou o rumo da costa atlântica ou junto à margem oceânica, sempre com apoio marítimo. Em 1647 fundou-se Paranaguá, com a fixação, sete anos depois, de Curitiba, em movimento que tornaria impossível, no futuro, um avanço capaz de separar São Paulo e o Rio de Janeiro do extremo-sul. Em 1658 já existia São Francisco, como ponto de apoio, plantado no território do atual estado de Santa Catarina.[29][40]
A metrópole deliberou expandir-se para o sul, tendo por ponto de apoio a ilha do Desterro, em Santa Catarina. Com uma pequena força, o governador do Rio de Janeiro, Manuel Lobo, construiu uma fortaleza, a Colônia do Sacramento, no estuário dos rios Paraná e Uruguai, em pleno rio da Prata, de onde se iniciaria o processo de consolidação da presença portuguesa na região. Com base no Tratado de Tordesilhas, o governador de Buenos Aires, José de Garro, se opôs à ocupação e deu início a um conflito que só teria fim 150 anos depois, com a criação definitiva de um novo país soberano, a República Oriental do Uruguai.[29][40] Entre o Rio de Janeiro e a Colônia do Sacramento, com os pontos intermediários de Paranaguá, São Francisco e a ilha do Desterro, a fundação de Laguna seria decisiva para fixar as comunicações e estreitar o espaço da ocupação do solo. Suas bases povoadas, com estrutura administrativa, seriam criadas em 1688, quando Domingos de Brito Peixoto, com seus dois filhos, aí estabeleceu casais, agregados e aderentes, fazendo plantações e promovendo o convívio com os índios. Laguna passou a vila em 1774, data em que, ainda por iniciativa oficial, se cogitou do caminho terrestre para o rio de São Pedro. O hiato de 150 léguas, bloqueado pela costa carente de acessos naturais, iria fechar-se no curso do século XVIII.[29][40]
O General João Borges Fortes, em sua obra "Rio Grande de São Pedro", observou que ao bandeirante Francisco de Brito Peixoto deve-se o pioneirismo na ocupação das terras que ficam entre Laguna e Colônia do Sacramento, dando início à presença luso-brasileira no Rio Grande do Sul.[41] A partir daí, colonos procedentes de Laguna dirigiram-se ao Rio Grande, ocupando as regiões do Viamão.[42] Em 1732, são concedidas as primeiras sesmarias.[42] Não há dúvida de que antes da conquista e do povoamento, aventureiros de procedências várias viveram das Vacarias do Mar, explorando o comércio e o artesanato de couros, em precárias vias de trânsito, num roteiro conhecido desde 1703. Dentre esses aventureiros—guerreiros e empresários a sua custa—destacou-se Cristóvão Pereira, que se dedicou à extração, compra e exportação de couros da Colônia do Sacramento, penetrando as planuras e alcançando São Paulo por via terrestre.[29][40] A partir dessas duas linhas de penetração (Colônia do Sacramento e Laguna), fechou-se progressivamente o intervalo territorial, praticamente terra de ninguém. As iniciativas pioneiras, ambas da primeira metade do século XVIII, tiveram índole diversa. De Laguna partiu para o sul, sob o fascínio de grandes rebanhos de gados e cavalos, a incursão povoadora de João de Magalhães, que em 1725 fixou invernadas até o rio Grande (rio Guaíba), com a distribuição, mais tarde, de sesmarias aos colonizadores. Em 1727 abriu-se o caminho chamado de estrada dos Conventos, de Araranguá a Lajes, daí alcançando os campos curitibanos até chegar a Sorocaba, o grande entreposto, ainda nesse século, dos rebanhos de gado vacum, cavalar e muar. No seu contingente e nas suas inspirações, foi essa uma obra dos paulistas.[29][40]
Em seqüência ao impulso do norte, de povoamento e exploração do gado, que em breve se consolidaria nas estâncias de criação, a metrópole incumbiu o general Gomes Freire de Andrade, governador da capitania do Rio de Janeiro, de ocupar e fortificar o porto de Rio Grande. A chefia da empresa coube a seu substituto, brigadeiro José da Silva Pais, que, dentro de um plano que envolvia a defesa da Colônia do Sacramento e a tomada de Montevidéu, ocupou, em 19 de fevereiro de 1737, a barra do rio Grande.[29][40] Desde alguns meses, aguardava-o em terra Cristóvão Pereira, com 160 homens. Construiu o forte Jesus-Maria-José, onde depois se localizaria a cidade do Rio Grande. O comandante cuidou de colonizar as redondezas, com casais trasmontanos e do Rio de Janeiro, fortificando-se com reforço de homens e munições.[40] As concessões de terras fixaram as populações no esboço da área urbana e nas regiões vizinhas, onde se iniciou o plantio, o recolhimento e a criação de gado.[43] Os dragões de Minas Gerais ali se estabeleceram, com regimento regular. Em 1743 chegou o primeiro visitador apostólico (representante do Papa), o padre Antônio Pestana Coimbra.[44] Em 1747 o aldeamento fortificado se constituiu em vila.[29][45]
Em 1750 o Tratado de Madri, entre Portugal e Espanha, pôs termo ao núcleo de expansão, cedendo a esta o estabelecimento às margens do rio da Prata, que ficou desimpedido das incursões e embaraços lusitanos. Ao domínio português passariam as Missões Orientais do Uruguai, que se trasladariam, com sua gente e bens, para a outra margem do rio, continuando a reforçar econômica e militarmente o território espanhol. Embora o tratado não respeitasse, quanto às Missões, o princípio do uti possidetis, depois consagrado como dogma nas disputas territoriais, o grande ministro de D. João V, Alexandre de Gusmão, artífice principal das negociações entre as duas coroas, estabeleceu uma variante: a fixação da fronteira tendo em vista os fatores naturais. O realismo prevaleceu contra o mito da linha do Prata, insustentável com os recursos bélicos e humanos então possíveis.[29][45]
A demarcação
Na demarcação dos novos limites, Gomes Freire de Andrade, o conde de Bobadela, governador do Rio de Janeiro e capitão-general da Repartição do Sul, encontrou tenaz resistência dos jesuítas espanhóis e seus catecúmenos aldeados. Estes—entre os quais se destacava o índio Sepé Tiaraju, que o exagero e a inversão da perspectiva histórica quiseram batizar de primeiro caudilho rio-grandense—enfrentaram as tropas portuguesas e espanholas no sangrento Batalha de Caiboaté. No combate pereceu Nicolau Neenguiru, herói de Mbororé, dias depois da morte de Sepé Tiaraju, que a lenda popular elevaria à categoria de santo não canonizado—o são Sepé.[29][45]
Além de fixar populações, com a concessão de sesmarias, e de patrulhar o território desde os campos da Vacaria dos Pinhais a Chuí, a incursão demarcadora de Gomes Freire de Andrade conquistou e consolidou a base hidrográfica interior, da barra do rio Grande até o extremo dos rios interiores. No futuro, essa ocupação tornaria a região incólume às investidas castelhanas e forneceria as bases, já independente o país, ao resguardo da autoridade central. Foi durante a incursão de Gomes Freire de Andrade que surgiu a tranqueira do rio Pardo, em 1752, invicta nas lutas posteriores e que serviria de base para o domínio do território das Missões.[29][45]
A par da empresa de conquista, a obra de colonização se acentuou pela introdução dos açorianos. Em sincronia com o movimento militar que ocuparia as Missões, encaminharam-se estes para o porto de Dorneles, depois Guaíba, para se entrosarem com os colonizadores dos Campos de Viamão. A ocupação açoriana, cujo contingente não raro tem sido exagerado em sua quantidade, visou, numa primeira fase, de 1751 a 1759, a finalidade precípua de substituir-se ao índio nas aldeias missioneiras; o povoamento metódico, com a distribuição de glebas aos povoadores, só teria início mais tarde. O curso da distribuição seguiu o seguinte: Rio Grande; Capela Grande do Viamão, compreendendo o porto de Viamão, mais tarde Porto Alegre; Triunfo; Santo Amaro; e Rio Pardo. À margem da bacia fluvial formou-se o cinturão de lavouras que abasteciam as tropas responsáveis pela colonização do território.[29][45]
Mais tarde, na segunda fase, caracterizada pela valorização do gado no mercado interno, o trabalho agrícola foi substituído pela pecuária e a região se transformou em fonte de abastecimento das minas em prosperidade galopante, no ciclo de ouro das Gerais.[29][45] O traçado inicial da conquista—do Rio de Janeiro (depois, de Laguna) à Colônia do Sacramento—sofreu, a partir de 1750, uma retificação, com o eixo Rio Grande-Porto Alegre-Rio Pardo. A inflexão para o oeste, com a base do Rio Pardo dominando a bacia fluvial, configurou a fisionomia política e econômica do Rio Grande, agora definitivamente.[29][45] Em 1761, o Tratado de El Pardo anulou o Tratado de Madri, devendo a Colônia do Sacramento e as Missões Orientais voltar aos antigos senhores. A Espanha, preocupada em combater a influência inglesa, concertou em 1761 o "pacto de família", que permaneceu algum tempo secreto. Portugal, vinculado à Inglaterra, não aderiu, contando que, somente com o amparo inglês, poderia proteger seu domínio ultramarino.[29][45]
O primeiro golpe desfechado contra o extremo-sul do território português foi a tomada, ainda uma vez, da Colônia do Sacramento, em 1762, pelo governador de Buenos Aires, Pedro de Ceballos Cortés y Calderón, que, depois de atravessar a planície uruguaia, ocupou a vila do Rio Grande, em 1763, lançando uma cabeça-de-ponte em São José do Norte. O governador do Rio Grande, coronel Elói Madureira, transferiu a sede do governo para Porto Alegre, onde permaneceria definitivamente. Em 1763 o Tratado de Paris pôs termo à beligerância, mas veio a ser desobedecido pelas autoridades do Prata, que apenas devolveram a Colônia do Sacramento.[29][45]
Ao contrário da esperada paz, o novo governador de Buenos Aires, Juan Ortiz y Salcedo, chegou às portas da tranqueira do Rio Pardo, em 1773, mas a resistência que teve de enfrentar, sob o comando do governador do Rio Grande, coronel Marcelino de Figueiredo, conseguiu deter as posições-chave -- São José do Norte e Rio Pardo --, graças a um elemento novo e surpreendente, os guerrilheiros locais, treinados nas estâncias, comandados pelo primeiro caudilho rio-grandense, Rafael Pinto Bandeira, ex-coronel de milícias e grande proprietário rural.[46] Contudo, somente uma ação de grande envergadura, com a mais numerosa força militar já concentrada em território brasileiro (6.800 homens), sob o comando do tenente-coronel João Henrique Böhm, conseguiu expulsar os espanhóis do Rio Grande, em 1776, depois de 13 anos de ocupação.[29][45]
As comandâncias
A expansão militar espanhola obedecia a um plano, documentado com o ato de criação do vice-reinado do Rio da Prata, em 8 de agosto de 1776, abrangendo o território atual da Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Rio Grande do Sul. O Tratado de Santo Ildefonso, de 1º de outubro de 1777, encerrou a atribulada história diplomática do extremo-sul, que consolidaria em poder da Espanha a Colônia do Sacramento e as Missões Orientais. O acertado no tratado já se mostrava patentemente anacrônico, diante do predomínio social da região em favor dos portugueses.[29][45] Na verdade, o território das Missões, encurralado pela criação de gado e pelos sesmeiros, tornara-se um satélite do Rio Grande. Em 1801 uma manobra guerreira nativa, sob o beneplácito dos poderes oficiais, incorporou, num golpe de audácia, toda a região ao Rio Grande. Na operação se destacaram os descendentes da escola guerrilheira de Rafael Pinto Bandeira—o filho de estancieiro José Borges do Canto e o aventureiro Manuel dos Santos Pedroso. A antiga civilização jesuítica não passava de uma sucessão de ruínas, de população escassa, só realmente povoada e colonizada pela gente de São Paulo, que desceu de Curitiba e Lajes, ao lado dos soldados aquinhoados, pelos seus títulos, com ricas sesmarias. Completou-se, assim, a integração geográfica do extremo-sul.[29][45]
A estrutura administrativa deu consistência e coesão à obra de conquista militar e de povoamento. Fundada a fortaleza Jesus-Maria-José às margens do rio Grande, Gomes Freire instituiu um órgão de direção e coordenação, que recebeu o nome de comandância militar, nos moldes das já existentes em Santos e na Colônia do Sacramento. Instituiu-se assim a Comandância Militar do Rio Grande de São Pedro, subordinada à capitania do Rio de Janeiro, guarnecida inicialmente pelos dragões, de gloriosa e tumultuada história, no núcleo inicial e no rio Pardo. A administração do território cabia aos comandantes, como se fossem governadores-gerais.[29][45] O regime das comandâncias estendeu-se de 1737 a 1760, sob a chefia, sucessivamente, do brigadeiro José da Silva Pais, do mestre-de-campo André Ribeiro Coutinho e do coronel Pascoal de Azevedo. Desde 1710, a administração do extremo meridional subordinava-se à capitania de São Paulo, passando, em 1738, a constituir juntamente com Santa Catarina uma comarca sob o comando da capitânia do Rio de Janeiro, com sede administrativa na Ilha de Santa Catarina, onde ficava a residência do governador. Através da carta-patente de 9 de setembro de 1760 o governo do Rio Grande de São Pedro se tornou independente do governo de Santa Catarina, permanecendo, no entanto, como comarca do Rio de Janeiro.[29][45]
A autonomia de fato só ocorreu em 19 de setembro de 1807, quando o regente D. João criou a capitania de São Pedro, subordinada, como as outras, ao vice-rei e capitão-general do estado do Brasil. A escolha do primeiro governador e capitão-general recaiu no conselheiro e brigadeiro D. Diogo de Sousa Coutinho, depois conde do Rio Pardo, que assumiu suas funções em 1809. Os corpos de milícias, criados com o recrutamento local, completaram a muralha militar que se articulou, no pampa e nas regiões agrícolas, contra o castelhano. Os chefes dessas forças, vinculados à estância e nomeados pelo rei, reuniam, pela lealdade e pela dependência, a peonada, que se compunha de índios, brancos e mestiços.[47] Essa foi a origem dos heróis nativos Pinto Bandeira, Borges de Canto e Santos Pedroso, que deixariam, no curso da história futura, grande e não raro turbulenta descendência.[29][45]
Na base dos organismos militares, uma faixa de população se formou, à margem do trabalho agrícola e do pastoreio organizado. Para abastecer as charqueadas, estabelecidas desde 1780, em busca da courama, entregaram-se esses aventureiros à preia do gado sem dono na fronteira retrátil, em expedições chamadas arriadas. Para a aventura do saque e da guerra, o regime do latifúndio enviou a legião nômade, os que seriam chamados de gaudérios, e depois de gaúchos, em sentido depreciativo. Matéria-prima das arriadas e guerrilhas, sua colaboração limitava-se às incertezas do gado a arrebanhar, desligando-se das obrigações militares ao seu arbítrio. Só no século XIX a expressão gaúcho perdeu o caráter depreciativo para adquirir índole respeitosa, na medida em que desaparece o nomadismo e se organizam as estâncias.[29][45]
A integração
Um fator econômico, de relevância política e social, encerrou o processo de integração do Rio Grande do Sul colonial ao território lusitano. As necessidades prementes de muares e carne no ciclo do ouro exigiram a importação do extremo-sul, o que incentivou a abertura de estradas. Cessada a febre do ouro, o abastecimento das populações escravas e proletárias do café se fez à custa de charque, estimulada sua produção depois que o Ceará reduziu suas exportações, assolado pela seca de 1777. Encerrou-se o período de conquista predatória do território e consolidou-se a estância como centro produtor, complementada pela charqueada, servida esta com mão de obra escrava. O comerciante de gado (muares, cavalos e vacas), o tropeiro, enriqueceu e adquiriu relevo social.[29][45]
A natureza econômica da região se definiu na economia subsidiária, com relação ao país, e na economia de subsistência, baseada sobretudo no trigo e na colonização açoriana. A valorização dos muares e da carne levaria, no entanto, ao abandono a cultura dos cereais. Em 1822, o Rio Grande, antes exportador de trigo para o mercado interno, passou a importar o cereal dos Estados Unidos. A paisagem se modificou, com o florescimento da região de São Francisco de Paula (depois, Pelotas), que desenvolveu uma próspera rede de charqueadas. O produto sulino, baseado no trabalho escravo, só alcançaria, todavia, preços compensadores nos momentos de crise no Prata, que, além disso, fornecia charque da melhor qualidade.[29][45]
O caráter subsidiário da economia, cada vez mais relevante, criou uma unidade diferenciada de produção, ligada ao mercado nacional, mas isolada dos interesses exportadores. Os grupos dominantes no país não se associariam às reivindicações do extremo-sul, antagônicas aos seus objetivos de alimentação barata para a escravaria. O grupo exportador de produtos de aceitação européia, sempre estimulado pelo centro político, no seu exclusivismo, infundiria, à sociedade rio-grandense, a consciência de isolamento econômico, social e político, que os componentes da formação militar tornariam, em certos momentos, explosiva.[29][45]
Em 1807, quando da criação da Capitania de São Pedro, já se definira a sociedade rio-grandense, dissolvendo-se a pequena agricultura, gradativamente, na expansão da grande propriedade estancieira, gerada sobre as sesmarias prodigamente concedidas. A campanha, com seus núcleos pastoris, só encontrou, com outro espírito, os centros urbanos e os evanescentes grupos agrícolas, pacíficos e situados a leste, em torno de Porto Alegre, mais tarde, com as pequenas propriedades advindas com a colonização alemã, que se desenvolveu a partir de 1824.[29][45]
Emancipação nacional e império
Ver artigos principais: Guerra dos Farrapos, Proclamação da República Rio-Grandense e República Rio-Grandense
Nas lutas em torno do domínio do Uruguai, que iriam redundar na criação da Província Cisplatina e sua transformação em país independente em 1828, sofreu o território rio-grandense forte sangria de homens e recursos. A região das Missões Orientais, ainda mal povoadas, servira de teatro às incursões determinadas por José Gervásio Artigas, que nela se abasteceria de cavalhada e gado. Para sustento dessa campanha malograda, o Rio Grande mobilizou todos os seus recursos humanos e materiais.[29][45] Ao lado das tropas regulares que a corte enviou ao sul, os milicianos locais retemperaram nova camada militar, agora unida estreitamente à estância, com suas reservas do proletariado rural, o gaúcho. Entre os chefes, surgiram nomes gloriosos, que iriam influir no futuro: Bento Gonçalves da Silva, José de Abreu, João de Deus Mena Barreto, José Antônio Correia da Câmara, Manuel Marques de Sousa.[29][45]
Nos sucessos da independência, governava a capitania, como capitão-general, o brigadeiro João Carlos de Saldanha, depois duque de Saldanha. Em 1821 criadas as províncias, em caráter provisório, por decreto das cortes de Lisboa, nas quais deveriam eleger-se juntas governativas subordinadas a Portugal, Saldanha foi eleito presidente.[45] Os eleitores paroquiais, todavia, não cumpriram totalmente o decreto, considerando não escrito o artigo que vinculava o governo a Lisboa.[48] O vice-presidente, marechal-de-campo João de Deus Mena Barreto, desconfiado da lealdade portuguesa de Saldanha, criou as condições para o bloqueio político do presidente, que em dezembro de 1822 se retirou para o Rio de Janeiro, sem articular a defesa da união dos reinos, com a hegemonia portuguesa.[29][49] Em seguida ao Fico, as câmaras municipais consolidaram o sentimento nativista, impossibilitando a reação, já ocupado o governo por Mena Barreto. Firmaram-se, nessa ação, sobre a rala camada militar portuguesa, o miliciano local, o estancieiro, a burguesia urbana e o gaúcho.[29][49]
O Rio Grande expandira sua população e suas riquezas. Em 1780, segundo o primeiro recenseamento geral da capitania, a população era de cerca de 18 000 habitantes, enquanto, em 1814, já alcançava a casa dos 71 000.[29][49] O número de escravos aumentou largamente no interregno desses 34 anos, de 5 000 para 20 000, concentrando-se inicialmente nas zonas de produção de trigo, atingidas pela escassez de braços. Com a decadência do trigo, o escravo se trasladou, em pequena proporção, para a estância, já transformada em unidade produtiva e não mais de apropriação, e, em larga escala, para as charqueadas. A estância necessitava de pouca mão de obra, embora se costume exagerar a exiguidade do número de escravos nela empregados.[29][49]
No curso do século XIX, as charqueadas assumiram incremento crescente, ao ponto de desarticular a economia de subsistência, que, pouco antes, tornava a estância um centro quase autárquico, servido pela chácara. O pastoreio e o charque tomaram conta da economia e imporiam a importação de gêneros alimentícios, se a colonização alemã não preenchesse, em breve, o hiato.[29][49] Prosperaram, então, os núcleos comerciais, com a ascendência de Porto Alegre, que centralizou as trocas das populações de leste, de origem açoriana, incentivando focos redistribuidores até as Missões. Ao lado de Pelotas, projetou-se a abertura marítima da província, Rio Grande, único porto da costa, embora de acesso difícil. Continuavam a ter relevo as vias terrestres, que levavam a produção pastoril ao norte, por via da feira de Sorocaba, principal centro distribuidor de São Paulo, Minas Gerais e Goiás.[29][49] Boa parcela do progresso se deveu ao consumo dos efetivos militares, sem embargo dos confiscos arbitrários, não raros em toda a região. Para uma população de 110 000 habitantes, no início do império, o rebanho bovino elevava-se a 5 000 000 de cabeças, com 1 000 000 de cavalos. As Missões Orientais povoaram-se com as sesmarias concedidas, em largas extensões, aos militares que se deslocaram na guerra e aos aventureiros que desciam de São Paulo, avolumados pelo êxodo de Santa Catarina e Paraná, para o pastoreio em glebas férteis.[29][49]
Organizado o sistema político do império, ocupou a presidência do Rio Grande do Sul o desembargador José Feliciano Fernandes Pinheiro, visconde de São Leopoldo, futuro senador do império. Inaugurou-se, como para todo o país, o período das administrações curtas, incapazes de obra contínua, com 54 presidentes efetivos e 24 interinos, desde Fernandes Pinheiro a Justo de Azambuja Rangel, em 1889.[29][49] No século XIX, os índios caingangues que ocupavam as áreas montanhosas da Região Sul do Brasil foram desalojados violentamente por ação de matadores de indígenas chamados de "bugreiros". Estes haviam sido contratados para abrir espaço para a instalação, por parte do governo imperial brasileiro, de imigrantes europeus na região, visando a um "embranquecimento" da população brasileira, até então majoritariamente negra e mestiça.[50]
Em 1824, em virtude de plano elaborado nos conselhos da corte, desembarcaram em Porto Alegre os primeiros imigrantes alemães, destinados à agricultura. Retomou-se, com essa medida, a experiência da pequena lavoura açoriana (78 hectares para cada família), que, seduzida pela criação do gado, se rarefizera e fora atraída para a grande propriedade. A partir da margem esquerda do rio dos Sinos, onde depois se situaria a cidade de São Leopoldo, expandia-se, em levas contínuas, o mais importante impulso agrícola da época, assegurando a economia de subsistência, já praticamente em abandono.[29][49] Os imigrantes, que prosperavam na lavoura, no artesanato e na pequena indústria, equilibraram a paisagem pastoril com sua sociedade pacífica, sem vínculos com o patriarcado militar e alheia às tensões da economia do gado. Porto Alegre, o centro administrativo, viu com isso acentuada a sua posição de coordenadora da autoridade, subordinada à capital do império. Não obstante o ingresso de imigrantes agrícolas, até que a sociedade se transformasse, no longo processo de aculturação, predominavam as estâncias pastoris, cujos interesses, no curso do século XIX, já se haviam amalgamado ao patriciado militar, que se "afazendara", na obtenção de sesmarias e gado.[29][49]
O dissídio entre o centro e a província, amortecido na Guerra Cisplatina, se intensificou nas primeiras três décadas do século, até a Revolução Farroupilha de 1835. Produtores de charque e derivados do gado e fornecedores de muares, os rio-grandenses não dispunham de meios para influenciar as linhas de conduta político-econômica do centro.[49] Incapaz de concorrer com a produção platina, mais bem aparelhada e com custos inferiores, via-se a economia rio-grandense sujeita à instabilidade, em detrimento dos criadores e charqueadores.[51] A carga tributária sobre a produção gaúcha tornou-se sufocante. As rendas fiscais, carreadas para o centro, revertiam em parcela mínima para o sul. De outro lado, os presidentes da província, agentes do Rio de Janeiro, não se mostravam solidários com os interesses locais.[29][52]
A revolução decorrente desse estado de coisas, exaltada com o nome de Farrapos ou revolução Farroupilha e liderada pelo deputado provincial e coronel de milícias Bento Gonçalves da Silva, duraria dez anos—a década heróica da história do Rio Grande do Sul: de 19 de setembro de 1835 até 1 de março de 1845, quando foi assinada a paz com o governo de D. Pedro II, depois que Luís Alves de Lima e Silva, então barão de Caxias, assumiu a província e o comando de suas armas.[29][52] Cuidou Caxias, depois de pacificar os ânimos, de atender algumas das mais urgentes reivindicações republicanas dos revolucionários, concernentes à instrução pública e às comunicações terrestres. As campanhas nacionais que se seguiram, com o Rio Grande por cenário—a luta contra Rosas, em 1852, e a guerra do Paraguai, de 1864 a 1870—fortaleceram a economia sulina. Enquanto a revolução Farroupilha esgotou as reservas da principal riqueza da província, essas guerras, apesar dos sacrifícios com soldados (33.803 soldados rio-grandenses na guerra do Paraguai, a quarta parte dos combatentes), exigiram grande consumo de produtos agrícolas e pecuários, indenizados pelo justo valor. A agricultura, que a colonização alemã tornara florescente, contribuiu amplamente para alimentar as tropas. O Banco da Província, fundado em 1858, e ainda existente, seria uma das fontes de estímulo da riqueza local.[29][52]
Não obstante a recuperação econômica, mantinham-se as causas do desequilíbrio regional, em desfavor da produção local. Também foi mantida a política econômica, ditada pelo centro e considerada espoliativa pelos estancieiros e charqueadores, acentuando o isolamento do Sul. A exigência de redução dos direitos sobre os couros, de 15 para 5%, e sobre o sal, de 240 para 50 réis por alqueire, permaneceu sem resposta. No que se referia ao charque, a exportação se achava com direitos mais altos do que o similar platino; o sistema escravocrata das charqueadas onerava a produção ao impedir a retração da mão-de-obra e exigir maior capital fixo.[29][52] Surgiu, então, um líder, Gaspar Silveira Martins, que, em 1861, se propôs, constituindo o Partido Liberal Histórico, a criar uma base de operações políticas, de baixo para cima, nas estâncias e nos ranchos, com a pregação de casa em casa. Queria libertar sua terra da "asfixiante, vergonhosa tutela do poder central". Depois de 11 anos de luta, após dominar a assembléia provincial, Silveira Martins levou à Câmara dos Deputados uma bancada liberal, eleita sob gabinete conservador. Entre 1868 e 1878 o "Sansão do império", como era chamado, tornou-se o ídolo dos liberais.[29][52]
Em 1874, foi instalado, em Porto Alegre, o Tribunal da Relação, libertando a província da dependência do Rio de Janeiro. Ao elenco das iniciativas oficiais se acrescentou o incremento das correntes migratórias -- entre 1875 e 1889 chegaram ao Rio Grande do Sul mais de sessenta mil italianos—que, sobre a base agrícola, expandiram sua atividade no artesanato de produtos de couro e têxteis e na produção do vinho. O carvão passou a ser explorado a partir de 1866.[29][52] No quadro do progresso, um desajuste interno perturbou a sociedade. A estância, cada vez mais estruturada como empresa lucrativa, limitadas suas necessidades a poucos braços, abandonou o excedente, sem que este se adaptasse às zonas agrícolas — onde, de resto, não lhes davam terras. Uma camada nômade, que se engrossou com os libertos, passou a errar pelos campos, vivendo das ocupações eventuais e do crime. O Partido Liberal, como resultado paradoxal de sua política de vínculo com o centro, perdeu o ímpeto popular. Fundou-se, então, o Partido Republicano, no qual desde logo se destacou, como jornalista, Júlio Prates de Castilhos.[29][52] A oficialidade que servia no Rio Grande do Sul, entre a qual se contava Deodoro da Fonseca, ligou-se aos rebeldes, sendo a união cimentada pelo positivismo, estuário comum de civis e militares. Tão veemente seria o vínculo que, em 21 de março de 1889, os propagandistas traçaram, como linha de ação, o levante armado, na eventualidade do terceiro reinado.[29][52]
República
Ver artigo principal: Revolução Federalista
O ousado plano da rebelião armada frustrou-se por obra das circunstâncias, diante da surpresa da proclamação da república por Deodoro, comunicada aos propagandistas e conjurados pelo telégrafo.[52] Dias antes Silveira Martins transmitira o governo a Justo de Azambuja Rangel.[53] Este, por intimação de Deodoro, passou o cargo ao marechal José Antônio Correia da Câmara, visconde de Pelotas, de extração liberal.[29][54]
Gaspar Silveira Martins, então senador, chamado pelo imperador para organizar o derradeiro gabinete do império, foi preso e deportado. Com o visconde de Pelotas tentou-se a conciliação local. Seus secretários, entre eles Júlio de Castilhos e Ramiro Barcelos, rejeitaram a conciliação, mantendo a linha partidária. Entre os liberais e os republicanos não havia meio-termo possível, definidos os últimos na carta estadual autocrática de 14 de julho de 1891, promulgada entre ásperas dissensões, que culminariam na revolução de 1893.[29][54] Em pouco mais de três anos, 15 chefes do governo estadual, com o interregno de uma junta governativa, definiram a profundidade da instável situação política. Somente em 25 de janeiro de 1893 Júlio de Castilhos assumiu a presidência do estado, para, completando o mandato de cinco anos, transmiti-la a Antônio Augusto Borges de Medeiros, que, apenas com o hiato de um qüinqüênio, governaria o Rio Grande até 1928.[29][54] Já então o Rio Grande se dividia entre gasparistas -- Silveira Martins retornou do exílio em 1892—e castilhistas—já com Júlio de Castilhos na chefia incontestável dos republicanos. Ambas as facções se definiam pelo federalismo, bandeira que, depois de arvorada pelos farroupilhas, se incorporou ao ideário gaúcho.[29][54]
A ferro e fogo, o Partido Republicano conquistou as bases eleitorais e o controle político, reforçado, mais tarde, por uma poderosa milícia estadual, a Brigada Militar. Na revolução Federalista, que se prolongou por trinta meses, com dez mil mortos, na mais cruenta das guerras civis brasileiras, o castilhismo impôs-se ao estado, abatendo a oposição, sem a aniquilar. Os chefes, formados na tradição do cavalheirismo, não puderam deter a onda de terror que invadiu os campos e extravasou, nas colunas revolucionárias e legalistas, nos outros dois estados do Sul, Paraná e Santa Catarina.[29][54] A insurreição, apesar de mobilizar milhares de combatentes, limitou-se à guerrilha, incapaz de assegurar posições estáveis. Tampouco conseguiu sensibilizar os imigrantes, seus descendentes ou a população do leste, onde Porto Alegre avultara como centro econômico, político e administrativo.[29][54]
A Revolução Federalista de 1893 revelou o extraordinário talento guerreiro de Gumercindo Saraiva. Sua coluna, abandonando a orla da fronteira uruguaia, ao longo de 18 meses de combates, empreendeu uma marcha de 2.500 km até Itararé, onde se deteve, incapaz de penetrar no estado de São Paulo. No seu encalço, o chefe legalista Pinheiro Machado combateu-o tenazmente, repelindo a surpresa do ataque com a surpresa do revide.[29][54] Morto o chefe rebelde em 10 de agosto de 1894, a guerra entrou em rápido declínio, limitada a irrupções momentâneas e descoordenadas. A paz, assinada em 23 agosto de 1895, depois que os insurretos fracassaram em Campo Osório, pôs termo ao dissídio, sem que o Partido Republicano pudesse ditar, sob o controle de Prudente de Morais, os termos da vitória.[29][54]
Presença de Vargas
Ver artigos principais: Revolução de 1930 e Era Vargas
Já estava quase no fim o longo consulado de Borges de Medeiros. O castilhismo, de que se fizera continuador, perdera substância. Uma nova mentalidade exigia reformas sociais e postulava mudanças de estrutura, não mais se contentando com o simples jogo das influências partidárias. Foi nesse ambiente que Getúlio Vargas, então modesto advogado de São Borja, começou sua carreira política. Deputado estadual e federal, líder da bancada gaúcha na Câmara Federal e depois ministro da Fazenda, acabou por eleger-se presidente do estado em 1928. Sua primeira preocupação no governo foi pacificar os espíritos, para o que constituiu a Frente Única, integrada inclusive pelo Partido Libertador, herdeiro do Partido Federalista e em cujas fileiras passariam a militar muitos dos revolucionários de 1923.[29][54]
A habilidade de Vargas conquistou confiança e repercutiu de imediato em outros pontos do país, sensibilizando a opinião e atraindo a simpatia de políticos como Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, presidente de Minas Gerais, que se uniu ao da Paraíba para lançar a Aliança Liberal, em favor da candidatura do presidente gaúcho à sucessão de Washington Luís. A vitória de Júlio Prestes, candidato do oficialismo, num ambiente de opressão e fraude, descontentou a opinião pública, levando-a a prestigiar a liderança que articulou a revolução de 1930.[29][54]
Depois que São Paulo, por via revolucionária, tentara reaver o comando político da nação, em 1932, a vida do país havia retornado à normalidade constitucional, com Getúlio Vargas à frente do governo, em 1934, até a implantação do centralismo de 1937, o qual viria a afetar substancialmente a autonomia gaúcha, tanto quanto a das demais unidades da federação. A nova estrutura nacional impunha assim sua configuração às mudanças internas ocorridas no estado.[29][54]
A tendência então era de superar o isolacionismo econômico e político em que até então se mantivera o Rio Grande do Sul. A indústria e a agricultura conquistariam gradativamente relevo no confronto com a estância. A criação do Banco do Rio Grande do Sul, durante o governo de Getúlio Vargas, reanimaria as atividades pecuárias e agrícolas do estado.[29][55]
Depois de 1930
O estado, embora sem veleidades hegemônicas, conquistara o poder supremo da república. Por imposição de forças de caráter nacional -- Exército, povo e indústria --, modificou-se substancialmente a estrutura federal. Rivais de velha data, os partidos tradicionais rio-grandenses, o Republicano e o Federalista, este último depois denominado Libertador, engajaram-se no movimento político decorrente da ação revolucionária de São Paulo, ao passo que a massa popular gaúcha se manteve fiel aos princípios de 1930. O general Flores da Cunha, interventor federal no Rio Grande, valeu-se desse choque de correntes para organizar, sob sua presidência, um partido local—o Partido Republicano Liberal Rio-Grandense (PRL) --, no qual se reuniram dissidentes daqueles dois partidos, comandantes dos corpos provisórios da milícia estadual e prefeitos municipais.[29][56]
Na Assembleia Constituinte, de cuja atuação resultaria a Carta de 1934, quase toda a bancada gaúcha era integrada por elementos do novo partido. Flores da Cunha, nessa data, eleito indiretamente, passaria a governador do estado, mas sem dispor de maioria que lhe permitisse agir inteiramente livre da partilha do poder com o adversário. Dissensões locais acabaram por atingir o PRL, quando o agravamento das condições de vida política do estado chegou ao ponto de levar o governador a desavir-se com o presidente da república. Com o golpe de 1937, Flores da Cunha renunciou. O estado, antes das eleições fixadas pela constituição de 1946, teria sete interventores, inclusive um interino.[29][56]
No setor das obras públicas, de 1930 ao início do Estado Novo, registrou-se sensível desenvolvimento das rodovias e estradas de ferro estaduais; quanto ao fluxo do comércio marítimo, iria incrementar-se por meio da aquisição, pelo governo, da frota rio-grandense. Uma política de continuidade e de planejamento, no tocante à rede viária, só seria adotada a partir da criação, após 1938, do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER).[29][56] Reaberto o debate partidário em fins de 1945, os velhos partidos e os velhos políticos não lograram restaurar as lealdades antigas e a bandeira de suas reivindicações anteriores a 1930. Somente resistiu, limitadíssimo no número de partidários, o Partido Libertador (PL), sobrepujado pelo Partido Social Democrático (PSD), que na primeira eleição elegeu quase a totalidade dos deputados federais, e pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de fulminante crescimento.[29][56]
O primeiro governador eleito seria Walter Jobim, do PSD, seguido pelo general Ernesto Dorneles, do PTB. Em seqüência, elegeu-se o engenheiro Ildo Meneghetti, sucedido pelo engenheiro Leonel Brizola, do PTB, que, por sua vez, com a derrota de seu partido, não evitou o retorno daquele.[29][56] Na verdade, depois de 1945, o estado se dividiu em dois partidos—o PSD e o PTB—coligados, eventualmente, aos menores. Somente na década de 1960 prepararam-se no estado as bases para a implantação da grande indústria, além da exploração, em moldes capitalistas e modernizados, da pecuária e da agricultura, particularmente o arroz, o trigo e, mais tarde, a soja.[29][56]
O estado desempenhou importante papel na evolução da ordem política nacional, sobretudo a partir do movimento militar de 1964, durante o qual três gaúchos, escolhidos pelo Exército Brasileiro, assumiram a presidência da república: Arthur da Costa e Silva. Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel. No governo do estado, o coronel Válter Peracchi Barcelos, eleito indiretamente em 1967, deu início à implantação de amplo programa energético. Com a ajuda do poder central, as administrações de seus sucessores Euclides Triches, Sinval Sebastião Duarte Guazzelli e José Amaral de Sousa construíram rodovias modernas e ampliaram o porto do Rio Grande. Outro fator de progresso foi o reaparelhamento da Viação Aérea Rio-Grandense (Varig), que se tornou a mais importante empresa aérea do país,[29][56] extinta em 2006 e comprada em 2007 pela Gol Transportes Aéreos. Em 1983 assumiu o governo Jair de Oliveira Soares, sucedido por Pedro Jorge Simon e, depois, por Guazzelli foi substituído em 1991 por Alceu Colares, que 1995 empossou seu sucessor, Antônio Britto.[29][56]
Geografia
Ver artigo principal: Geografia do Rio Grande do Sul
O estado do Rio Grande do Sul ocupa uma área de 281 730,223 km²[2][nota 2] (cerca de pouco mais que 3% de todo território nacional, equivalente ao do Equador)[57] e com fuso horário -3 horas em relação a hora mundial GMT.[58]
Todo o seu território está ao sul do Trópico de Capricórnio.[59] No Brasil, o estado faz parte da região Sul,[60] fazendo fronteiras com o estado de Santa Catarina e dois países: Uruguai e Argentina.[61] É banhado pelo oceano Atlântico e possui duas das maiores lagoas do Brasil: a Lagoa Mirim e a Lagoa Mangueira, além de possuir uma das maiores lagunas do mundo: a Lagoa dos Patos, que possui água salobra.[61] Sua população constitui cerca de 6% do número de habitantes do país.[57]
Geologia e relevo
O estado do Rio Grande do Sul apresenta, em sua maior parte, relevo baixo, com setenta por cento de seu território a menos de 300m de altitude. A única porção elevada, com mais de 600m de altitude, no nordeste, compreende 11% da superfície total. Podem-se descrever quatro unidades morfológicas no estado: a planície litorânea, o planalto dissecado de sudeste, a depressão central e o planalto basáltico.[62][63]
Planície costeira
Também conhecida como planície litorânea. Toda a fachada leste do estado é ocupada pela planície litorânea, que consiste em terrenos arenosos com cerca de 500 km de extensão no sentido nordeste-sudoeste e largura muito variável. Os areais se desenvolvem tanto nas margens orientais quanto nas ocidentais das lagoas dos Patos e Mirim. Essas lagoas apresentam um desenho característico, com recorte lobulado, em virtude das pontas de areia que de uma e outra margem se projetam para dentro delas. Ao contrário do que acontece no interior das lagoas, a linha da costa apresenta traçado regular. A planície litorânea é constituída pela justaposição de cordões litorâneos (restingas), que às vezes deixam entre si espaços vazios ocupados por lagoas alongadas ou banhados (antigas lagoas colmatadas).[62][63]
Planalto Dissecado de Sudeste
Também denominado impropriamente Serras de Sudeste, o planalto dissecado de sudeste compreende um conjunto de ondulações cujo nível mais alto não ultrapassa 500 m. Trata-se de um planalto antigo, cuja superfície tabular só foi preservada entre alguns rios. Esses terrenos pré-cambrianos constituem o chamado escudo rio-grandense e ocupam toda a porção sudeste do estado, formando uma área triangular cujos vértices correspondem aproximadamente às cidades de Porto Alegre, Dom Pedrito e Jaguarão. O conjunto está dividido, pelo vale do rio Camaquã, em duas grandes unidades, uma ao norte e outra ao sul, denominadas serras de Herval e Tapes, respectivamente. É o domínio típico das campinas, cuja melhor expressão é encontrada na campanha gaúcha.[62][63]
Depressão Central
Constituída por terrenos da era paleozoica, a Depressão Central forma um arco em torno do planalto dissecado de sudeste, envolvendo-o dos lados norte, oeste e sul. Forma um amplo corredor com aproximadamente cinquenta quilômetros de largura média e 770 km de extensão, dos quais 450 no sentido leste-oeste, 120 no sentido norte-sul e 200 no sentido oeste-leste. A topografia suave e a pequena altitude em relação ao nível do mar (menos de cem metros), permitem classificar a depressão central como uma planície suavemente ondulada.[62][63]
Planalto Basáltico
Representa a porção sul do Planalto Meridional do Brasil. O norte e parte do oeste do estado são ocupados pelo Planalto Basáltico, que descreve uma meia-lua em torno da depressão central. Esse planalto, que tem como traço marcante a estrutura geológica, é formado pelo acúmulo ou empilhamento de sucessivos derrames basálticos (isto é, derrames de lava), intercalados de camadas de arenito. Alcançam espessura muito variável. No nordeste do estado registra-se a espessura máxima, responsável pela maior elevação do planalto nessa área.[62][63]
A superfície do planalto apresenta uma inclinação geral de leste para oeste. No nordeste, junto ao litoral, alcança sua maior elevação, entre 1.000 e 1.100m; em Vacaria atinge 960m; em Carazinho, 602m. Em Cruz Alta, 469m; no extremo oeste do estado, junto à barranca do rio Uruguai, não ultrapassa cem metros. A topografia é plana ou levemente ondulada, mas os rios, que banham a parte mais elevada, abriram nela profundos sulcos ou vales, isolando compartimentos tabulares.[62][63]
Um aspecto saliente do planalto é a forma de transição para as terras mais baixas com que se articula. A nordeste, cai diretamente sobre a planície litorânea, com um paredão íngreme ou escarpa, de quase mil metros de desnível: são os chamados "aparados da serra". Os rios favorecidos pelo forte declive abriram aí profundas gargantas ou taimbés. Nesse trecho, próximo à divisa com Santa Catarina, a escarpa à borda do planalto corre paralela à costa. À altura de Osório, desvia-se bruscamente para oeste e a partir daí vai diminuindo progressivamente de altura. Nesse trecho voltado para o sul, os rios que correm para a depressão central abriram amplos vales. O rebordo do planalto basáltico recebe no Rio Grande do Sul, como nos demais estados meridionais, a denominação de Serra Geral.[62][63]
Ecologia
Ver artigo principal: Ambientalismo no Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade existem 40 unidades de conservação, sendo 1 área de proteção ambiental, 1 área de relevante interesse ecológico, 2 estações ecológicas, 3 florestas nacionais, 3 parques nacionais, 1 refúgio de vida silvestre e 29 reservas particulares do patrimônio natural.[64][65]
As unidades de conservação administradas pelo governo brasileiro são o Parque Nacional da Serra Geral, o Parque Nacional dos Aparados da Serra, o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, a Floresta Nacional de Canela, a Floresta Nacional de São Francisco de Paula, a Floresta Nacional de Passo Fundo, a Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã, a Área de Relevante Interesse Ecológico Pontal dos Latinos e Pontal dos Santiagos a Estação Ecológica de Aracuri-Esmeralda, a Estação Ecológica do Taim, e o Refúgio de Vida Silvestre da Ilha dos Lobos.[64][65]
O estado, que foi pioneiro do movimento ecológico no Brasil,[66] hoje enfrenta uma série de problemas ambientais graves[67][68][69][70] e uma crônica carência de recursos materiais e humanos para a área,[71] e ostenta uma longa lista de espécies ameaçadas.[72][73] Por outro lado, muitos projetos do governo e iniciativas privadas estão tentando reverter este quadro sombrio e difundir a conscientização ecológica entre a população,[74][75][76][77][78] e já existe expressiva legislação ambiental.
Clima
Dois tipos climáticos caracterizam o Rio Grande do Sul: o clima subtropical úmido e o clima oceânico.[79] O clima subtropical úmido possui chuvas bem distribuídas durante o ano e verões quentes (Cfa na escala de Köppen), ocorrendo na maior parte do estado. Registra temperaturas médias anuais de entre 18 °C e 20 °C. O clima oceânico (Cfb) também apresenta chuvas bem distribuídas durante o ano, mas os verões são amenos. Ocorre nas porções mais elevadas do território sul-rio-grandense, isto é, na porção mais alta do planalto basáltico, e no Planalto Dissecado de Sudeste, registrando temperaturas médias anuais entre 13 °C e 17 °C.[79]
Quanto ao regime pluviométrico, a zona mais chuvosa do estado é a Serra Gaúcha, com precipitações ao redor de 1.900 mm, enquanto que a parte onde menos chove no estado é o extremo sul, com pluviosidade média anual em torno de 1.100 mm no município de Santa Vitória do Palmar.[79] Dos ventos que sopram no estado, dois têm denominações locais: o pampeiro, vento tépido, procedente dos pampas argentinos; e o minuano, vento frio e seco, originário dos contrafortes da cordilheira dos Andes.[79]
A temperatura mínima registrada no estado foi de -9,8 °C no município de Bom Jesus, em 1º de agosto de 1955,[80] enquanto a temperatura máxima registrada foi de 42,6 °C em Jaguarão, no sul do estado, em 1943.[81] Municípios como Uruguaiana, Lajeado e Campo Bom destacam-se em recordes de temperaturas altas no verão, registrando valores que, por vezes, chegam aos 40 °C.[79] O estado está ainda sujeito, no outono e no inverno, ao fenômeno do veranico, que consiste de uma sucessão de dias com temperaturas anormalmente elevadas para a estação.[79]
Hidrografia
A rede de drenagem compreende rios que pertencem à bacia do Uruguai e rios que correm para o Atlântico. Os rios Jacuí, Taquari, Caí, Gravataí, Lago Guaíba e dos Sinos, entre outros, são razoavelmente aproveitados para a navegação. Toda a região ocidental do estado e uma estreita faixa de terras ao longo da divisa com Santa Catarina pertencem à bacia do Uruguai. Compreende, além do rio Uruguai e seu formador, o Pelotas, os afluentes da margem esquerda: o Passo Fundo, o Ijuí, o Piratini, o Ibicuí, e o Quaraí.[83]
À vertente atlântica pertence toda a metade oriental do estado, drenada por rios cujas águas, antes de atingir o Atlântico, vão ter a uma das lagoas litorâneas. Assim, a lagoa Mirim recolhe as águas do rio Jaguarão, a lagoa dos Patos, as dos rios Turuçu, Camaquã e Jacuí, as deste último por meio do estuário denominado Guaíba. A lagoa dos Patos se comunica com a lagoa Mirim através do canal de São Gonçalo, e com o Atlântico por meio da barra do Rio Grande. Além das duas grandes lagoas, há numerosas outras, menores, na planície litorânea, entre elas a Itapeva, dos Quadros, do Peixe e Mangueira.[83]
Vegetação
Dois tipos de cobertura vegetal ocorrem no Rio Grande do Sul: campos e florestas. Os campos ocupam cerca de 66% da superfície do estado. De modo geral recobrem as áreas de topografia regular, plana ou ligeiramente ondulada, ou seja, a depressão central e a maior parte do planalto basáltico.[84]
As florestas cobrem 29% do território estadual. Aparecem na encosta e nas porções mais acidentadas no planalto basáltico, no planalto dissecado de sudeste e, ainda, na forma de capões e matas ciliares, dispersas pelos campos, que recobrem o resto do estado. Nas áreas de maior altitude, com mais de 400m, domina a chamada mata de pinheiros, uma floresta mista de latifoliadas e coníferas, a chamada mata de pinheiros. Nas demais áreas ocorre a floresta latifoliada.[84]
Nos dois tipos de floresta está presente a erva-mate, objeto de exploração econômica desde o início do povoamento do estado. Em cerca de cinco por cento do território ocorre a vegetação do tipo litorâneo, que se desenvolve nos areais da costa.[84]
Demografia
Crescimento populacional | |||
---|---|---|---|
Censo | Pop. | %± | |
1872 | 434 813 | ||
1890 | 897 455 | 106,4% | |
1900 | 1 149 070 | 28,0% | |
1920 | 2 182 713 | 90,0% | |
1940 | 3 320 689 | 52,1% | |
1950 | 4 674 645 | 40,8% | |
1960 | 5 448 823 | 16,6% | |
1970 | 6 755 458 | 24,0% | |
1980 | 7 942 722 | 17,6% | |
1991 | 9 135 479 | 15,0% | |
2000 | 10 181 749 | 11,5% | |
2010 | 10 693 929 | 5,0% | |
Est. 2017 | 11 322 895 | [85] | 5,9% |
Fonte:[86] |
Ver artigo principal: Demografia do Rio Grande do Sul
De acordo com o censo 2010 o Rio Grande do Sul tinha uma população de 10 693 929 habitantes,[87] sendo mais populoso que Portugal.
Dez anos antes, segundo o censo demográfico de 2000, o Rio Grande do Sul tinha uma população de 10.187.798 hab. Em 1991, o estado contava com 9.127.611 habitantes. Esses números mostram que a taxa de crescimento demográfico na última década foi de 1,2% ao ano, abaixo portanto da média do país como um todo (1,33% anuais). Em 2010, segundo cálculos do IBGE, era 5º estado mais populoso do país, e efetivamente, o mais populoso da Região Sul — abrigando cerca de 6% da população brasileira. Do total da população do estado, 5.488.872 habitantes pertencem ao sexo feminino e 5.205.057 habitantes ao sexo masculino (dados de 2010).
O Rio Grande do Sul é um estado em que a população urbana supera a rural. Segundo o censo demográfico de 2000, 80,8% da população moram em cidades. Nesse mesmo ano a densidade demográfica do estado chegou a 36,14 habitantes./km², mais de duas vezes superior à do Brasil como um todo (19,92 habitantes./km²).
A área mais densamente povoada do Rio Grande do Sul está na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde se registram algumas densidades acima de 2.000 hab./km². Formada por trinta municípios, sua população é de aproximadamente 4 milhões de habitantes, a quarta maior aglomeração urbana do país. Seguem-se o litoral norte e a encosta do planalto, a leste da serra Geral e o Vale do Taquari com densidades próximas de 50 hab./km². A zona do alto Uruguai, a noroeste, e as áreas centralizadas por Passo Fundo e Iraí, apresentam densidades entre 30 e 40 hab./km². No sul do estado, as densidades raramente ultrapassam 10 hab./km². Somente em torno de Pelotas a população aparece mais concentrada, chegando a mais de 20 hab./km². A capital do estado, é a décima cidade brasileira em população. Situada à margem do rio Guaíba, Porto Alegre tem um movimentado porto fluvial e é o mais importante centro industrial, comercial e cultural do Rio Grande do Sul.
Municípios mais populosos
Municípios mais populosos do Rio Grande do Sul (Estimativa 2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) | |||||||||||
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Porto Alegre Caxias do Sul | |||||||||||
Posição | Localidade | Microrregião | Pop. | Posição | Localidade | Microrregião | Pop. | Pelotas Canoas | |||
1 | Porto Alegre | Porto Alegre | 1 472 482 | 11 | Alvorada | Porto Alegre | 205 683 | ||||
2 | Caxias do Sul | Caxias do Sul | 470 223 | 12 | Passo Fundo | Passo Fundo | 195 620 | ||||
3 | Pelotas | Pelotas | 342 053 | 13 | Sapucaia do Sul | Porto Alegre | 137 750 | ||||
4 | Canoas | Porto Alegre | 339 979 | 14 | Uruguaiana | Campanha Ocidental | 129 580 | ||||
5 | Santa Maria | Santa Maria | 274 838 | 15 | Santa Cruz do Sul | Santa Cruz do Sul | 125 353 | ||||
6 | Gravataí | Porto Alegre | 270 689 | 16 | Cachoeirinha | Porto Alegre | 125 246 | ||||
7 | Viamão | Porto Alegre | 251 033 | 17 | Bagé | Campanha Meridional | 121 500 | ||||
8 | Novo Hamburgo | Porto Alegre | 248 251 | 18 | Bento Gonçalves | Caxias do Sul | 112 318 | ||||
9 | São Leopoldo | Porto Alegre | 226 988 | 19 | Erechim | Erechim | 101 752 | ||||
10 | Rio Grande | Litoral Lagunar | 207 036 | 20 | Guaíba | Porto Alegre | 98 864 |
Composição étnica
O Rio Grande do Sul pode ser dividido em quatro regiões culturais, nas quais predominaram etnias diferentes que, a partir da relação sociedade-natureza e por meio de sistemas simbólicos que se materializaram na paisagem via códigos culturais, formaram zonas com características próprias. O estado pode ser decomposto, portanto, nas seguintes regiões: região cultural 1 (individualizada pela presença das etnias nativa, portuguesa, espanhola, africana e açoriana); região cultural 2 (formada pela presença de alemães); região cultural 3 (marcada pela etnia italiana) e a região cultural 4 (conformada pela presença de etnias mistas).[88]
Atualmente, a população autodeclara-se da seguinte maneira quanto à raça: 82,3% como brancos, 11,4% como pardos, 5,9% como pretos e 0,4% como amarelos ou indígenas.[89]
Idiomas
Além do idioma oficial, o português, no Rio Grande do Sul outros idiomas também são falados por parte da população, como o caingangue ou o mbyá-guaraní, de povos autóctones, e também o Portunhol Riverense em regiões fronteiriças.
Considerável parte do povo gaúcho, em geral os descendentes de imigrantes alemães e italianos, dentre outros, também falam os seguintes idiomas: Riograndenser Hunsrückisch (um idioma regional sul-brasileiro falado desde há quase dois séculos pela maioria dos teuto-brasileiros no Rio Grande do Sul);[90] o Plattdietch ou plattdüütsch (junção dos dialetos do baixo-alemão a qual pertence o dialeto Pomerano falado em várias regiões do sul do Brasil); Talian (versão sul-brasileira do vêneto);[91]Castelhano (falado nas regiões fronteiriças do Brasil com a Argentina e Uruguai, Paraguai etc.); e em menor escala, ainda existem vários outros núcleos de idiomas e dialetos no Rio Grande do Sul, como polonês, lituano, árabe e iídiche.
Governo e política
O estado do Rio Grande do Sul, consoante os ditames contidos na Carta Constitucional da República Federativa do Brasil, é governado por três poderes, o executivo, representado pelo governador, o legislativo, representado pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, e o judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e outros tribunais e juízes. Além dos três poderes, o estado também permite a participação popular nas decisões do governo através de referendos e plebiscitos.
A atual constituição do estado do Rio Grande do Sul foi promulgada em 1989.[92]
O Poder Executivo gaúcho está centralizado no governador do estado, que é eleito em sufrágio universal e voto direto e secreto pela população para mandatos de até quatro anos de duração, podendo ser reeleito para mais um mandato. Sua sede é o Palácio Piratini, que desde 1921[93] é a sede do governo gaúcho.
A maior corte do Poder Judiciário estadual é o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, localizada no centro de Porto Alegre. Há também um Tribunal de Justiça Militar.
O Poder Legislativo do Rio Grande do Sul é unicameral, constituído pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, localizado no Palácio Farroupilha. Ela é constituída por 55 deputados, que são eleitos a cada quatro anos. No Congresso Nacional, a representação gaúcha é de 3 senadores e 31 deputados federais.
O Rio Grande do Sul está dividido em 496 municípios. O mais populoso deles é a capital, Porto Alegre, com 1,4 milhões de habitantes, sendo a cidade mais rica do estado. Sua região metropolitana possui aproximadamente 4,1 milhões de habitantes.
Subdivisões
O estado do Rio Grande do Sul possui várias subdivisões, baseadas em aspectos sócio/econômicos, com fins estatísticos, principalmente. O estado é dividido em sete mesorregiões, 35 microrregiões e 497 municípios, segundo o IBGE.
- Mesorregião do Centro Ocidental Rio-Grandense
- Mesorregião do Centro Oriental Rio-Grandense
- Mesorregião Metropolitana de Porto Alegre
- Mesorregião do Nordeste Rio-Grandense
- Mesorregião do Noroeste Rio-Grandense
- Mesorregião do Sudeste Rio-Grandense
- Mesorregião do Sudoeste Rio-Grandense
O estado também é dividido a partir da regionalização do Conselho Regional de Desenvolvimento, criado na primeira metade da década de 1990. Existem atualmente 24 regiões dos COREDE (Conselhos Regionais de Desenvolvimento).
Economia
Ver artigo principal: Economia do Rio Grande do Sul
Entre os principais produtos agrícolas gaúchos, destacam-se o arroz (5,2 milhões de toneladas), a soja (7 milhões de toneladas), o milho (6 milhões de toneladas), a mandioca (1,3 milhão de toneladas), a cana-de-açúcar (1 milhão de toneladas), a laranja (2 bilhões de frutos) e o alho (24 mil toneladas). O estado abriga grandes reservas de carvão mineral e de calcário. A extração de água mineral é também importante (aproximadamente 92 milhões de litros anuais).
O Rio Grande do Sul é um dos estados com maior grau de industrialização no país. O parque industrial gaúcho dedica-se principalmente aos ramos petroquímico, tabagista, de calçados, de construção, de alimentos, automobilístico e indústria naval. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio revela que em 2012 os principais produtos exportados pelo estado foram o Tabaco em Rama (12,60%), Soja (11,36%), Carne de Aves (7,34%), Farelo de Soja (6,64%) e Polímeros de Etileno (4,30%).[94]
Graças às paisagens diversificadas, o Rio Grande do Sul atrai turistas por diversos propósitos. Há, no extremo norte, as praias de Torres, vizinhas ao Parque Nacional de Aparados da Serra, que tem se destacado como importante destino de ecoturismo. Os turismos gastronômico (na região de Bento Gonçalves, produtora de vinho) e histórico (na região das missões jesuíticas de São Borja e São Miguel) também são dignos de menção. A capital, Porto Alegre, além de centro cultural de relevância nacional, tem servido de sede de grandes encontros internacionais, especialmente para assuntos relacionados ao Mercosul.
O Rio Grande do Sul dispõe de extensa malha ferroviária, que serve todo o seu território. Além disso, destaca-se a rede de estradas federais e estaduais, que soma aproximadamente 152,2 mil quilômetros. Porém, apenas 10,3 mil quilômetros são pavimentados.
Turismo
Ver artigo principal: Turismo no Rio Grande do Sul
O Rio Grande do Sul é um estado com vastas opções de turismo. O estado recebe anualmente cerca de 2,0 milhões de turistas de fora do país. As praias do litoral norte nas cidade de Capão da Canoa, Tramandaí e Torres são as mais conhecidas no estado, esta última apresentando falésias. São três pedras que ficam na beira do mar, sendo que uma delas avança mar adentro em uma altura de 30 metros. No litoral sul destaca-se a praia do Cassino, em Rio Grande, constante no Guiness Book como a maior praia do mundo. Também destacam-se as praias da Laguna dos Patos, principalmente as praias de São Lourenço do Sul, Tapes e Pelotas (Praia do Laranjal).
As serras atraem milhares de turistas todos os anos, no inverno e verão. As cidades de Gramado e Canela são conhecidas na época de Natal pela decoração das cidades, juntamente com os parques natalinos. No inverno, os turistas visitam essas cidades juntamente com Caxias do Sul, São José dos Ausentes e Cambará do Sul, devido às temperaturas baixas, muitas vezes negativas e com a possibilidade de queda de neve.
Na serras do estado, também está a maior concentração de produtores de vinho do país, na região conhecida como Vale dos Vinhedos (Bento Gonçalves e Garibaldi). Mais ao sul, na região da Campanha, está situada a segunda mais importante área produtora. As vinícolas gaúchas são premiadas internacionalmente, em razão da alta qualidade de seus vinhos e espumantes.[95]
Nas mesmas se encontram os cânions de Itaimbezinho e da Fortaleza, os quais são dos maiores do Brasil. Em Gramado acontece o Festival de Cinema. Na conhecida como "Pequena Itália", em que se localizam as cidades de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi, pode-se encontrar as melhores vinícolas do Brasil. Ainda a oeste, se encontram as Missões Jesuíticas, nas cidade de São Miguel das Missões e arredores.
Infraestrutura
Energia
Entre as principais usinas elétricas do estado sobressaem as hidrelétricas de Passo Fundo (220 MW), no rio Uruguai; Passo Real (125 MW), Leonel Brizola (antiga Jacuí) (180 MW), Itaúba (500 MW) e Dona Francisca (125 MW) no rio Jacuí; e as termelétricas Candiota II (126 MW), em Bagé, Charqueadas (72 MW), em São Jerônimo, Osvaldo Aranha (66 MW), em Alegrete, e AES Uruguaiana (639 MW) em Uruguaiana a primeira usina termelétrica a operar a gás natural no Brasil. Recentemente foi construído o Parque eólico na cidade de Osório, com capacidade instalada estimada em 150 MW.
Educação
Ver artigo principal: Educação no Rio Grande do Sul
Em 2008, estavam matriculados 1.598.403 alunos nas escolas de ensino fundamental do estado, das quais 740.749 eram municipais, 721.811 estaduais, 134.553 particulares e 1.290 federais. Quanto ao corpo docente, era o mesmo constituído de 97.039 professores. O ensino de nível médio foi ministrado em 1.410 estabelecimentos, com a matrícula de 429.349 alunos e corpo docente de 30.673 professores. Dos 429.349 discentes, 5.753 estavam na escola pública federal, 369.317 na escola pública estadual, 6.993 na escola pública municipal e 47.286 na escola particular.[carece de fontes]
Em 2007, quanto ao nível de ensino superior, o estado administrava através de 100 estabelecimentos, com 21.772 professores e 345.029 discentes. O estado conta com onze universidades públicas e vinte 24 universidades particulares, no total de 35 (ver lista de instituições de ensino superior no Rio Grande do Sul).[carece de fontes]
Em 2004 a taxa de analfabetismo no estado era de 5,5%, uma das mais baixas do Brasil. Da população, 16,8% dos gaúchos são analfabetos funcionais. O Rio Grande do Sul é a quinta melhor educação do Brasil, com um Índice de Desenvolvimento Humano de 0,921.[96]
As principais universidades do Rio Grande do Sul são a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Rio Grande, o Instituto Federal Farroupilha, o Instituto Federal do Rio Grande do Sul, o Instituto Federal Sul-rio-grandense, a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, a Universidade Federal de Pelotas, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Universidade Federal de Santa Maria, a Universidade Federal do Pampa, a Universidade Federal da Fronteira do Sul, a Universidade de Passo Fundo, Universidade de Caxias do Sul, Universidade Feevale, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Universidade de Santa Cruz do Sul e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.[carece de fontes]
Transportes
Ver artigo principal: Transportes do Rio Grande do Sul
O Rio Grande do Sul apresenta uma importante malha hidroviária, concentrada nas bacias Litorânea e do Guaíba. Nessas bacias estão os principais rios de rota rio Jacuí, rio Taquari e rio dos Sinos, além do Guaíba e da Laguna dos Patos. Atualmente, a navegação no rio Uruguai é de pequena importância, assim como de seu principal afluente, o rio Ibicuí, o único que apresenta condição navegável. A principal rota hidroviária do estado é Porto Alegre-Rio Grande, que apresenta calado de 5,2 metros. As principais cargas no sentido Rio Grande são produtos petroquímicos, derivados de petróleo, óleo de soja e celulose. No sentido Porto Alegre destacam-se os fertilizantes.[carece de fontes]
O Porto de Rio Grande é de grande importância para o Mercosul, e também o principal ponto de multimodalidade do estado, fazendo com que parte do sistema rodoviário e ferroviário tenham o Porto de Rio Grande como foco. O Porto de Rio Grande, em 2005, chegou a 18 milhões de toneladas, consolidado como o segundo maior porto com movimento de containers do Brasil, e o terceiro em cargas. Os principais portos são: Porto de Rio Grande, Porto de Porto Alegre, Porto de Estrela e Porto de Pelotas.[carece de fontes]
O Aeroporto Internacional Salgado Filho localiza-se em Porto Alegre e é o mais importante do estado, tendo uma movimentação de 5,6 milhões de passageiros ao ano (Infraero - 2009), envolvendo o movimento de 79 mil aeronaves por ano. O Aeroporto Internacional de Pelotas é operado pelas linhas aéreas NHT e localiza-se no sul do estado com voos até Erechim , Porto Alegre , Rio Grande e até mesmo para Montevidéu, no Uruguai. Existe também o Aeroporto de Caxias do Sul, que é importante para o estado, e conta com três voos diários para São Paulo (exceto aos sábados, quando tem apenas um voo). É um aeroporto operado por uma companhia aérea, a Gol, que opera com Boeing 737.[carece de fontes]
O Rio Grande do Sul, hoje, possui uma malha de 3.260 quilômetros de linhas e ramais ferroviários, utilizadas para cargas. A maior parte apresenta bitola métrica, sendo que apenas cinco quilômetros apresentam bitola mista, com objetivo de realizar a integração com as malhas argentinas e uruguaias. Atualmente, alguns trechos das ferrovias não estão em operação regular e os terminais ferroviários que apresentam maior concentração de cargas localizam-se nas proximidades da Grande Porto Alegre, Passo Fundo, Santa Maria, Cruz Alta e Uruguaiana.[carece de fontes]
O sistema rodoviário é responsável pela maior parte da carga transportada e pela quase totalidade do transporte de passageiros no Rio Grande do Sul. O estado possui 153.960 km de rodovias, sob jurisdição nacional, estadual ou municipal. A malha nacional estrutura a rede de transporte com rodovias longitudinais, diagonais, transversais e de ligação. As principais rodovias são: BR-101, BR-116, BR-153, BR-158, BR-163, BR-285, BR-290, BR-386, BR-392 e BR-471.[carece de fontes]
Saneamento básico
A qualidade de vida depende também de prevenção de doenças e tratamento confiável de enfermidades. O estado dispõe de infra-estrutura ampla e qualificada, mas possui grande deficiência sobretudo no saneamento básico. Segundo pesquisa recentemente realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com a organização não-governamental Trata Brasil em 2007, o estado é o último no país nesse quesito. Embora o estado disponha de bons índices em vários setores, o acesso ao esgoto tratado é de apenas 15% da população.[97][98]
A Região Metropolitana de Porto Alegre é a penúltima, entre 10 pesquisadas em 2007, no recolhimento e tratamento de esgoto. Em Porto Alegre, apenas 27% do esgoto recebe tratamento. No Rio Grande do Sul, apesar de não estar nas últimas colocações, apenas 14,77% da população tem esgoto canalizado e tratado. Isso significa que os dejetos da grande maioria vão para os arroios e rios, contaminando as águas..[99]
Porém, deverão acontecer obras de saneamento e, em cinco anos, a previsão é de que 77% dos porto-alegrenses terão esgoto tratado.[99]
Cultura
Ver artigo principal: Cultura do Rio Grande do Sul
O natural do Rio Grande do Sul é chamado de gaúcho. O Rio Grande do Sul apresenta uma rica diversidade cultural. De uma forma sucinta, pode-se concluir que a cultura do estado tem duas vertentes: a gaúcha propriamente dita, com raízes nos antigos gaúchos que habitavam o pampa; a outra vertente é a cultura trazida pela imigração europeia, efetuada por colonos portugueses, espanhóis e imigrantes alemães e italianos.
A primeira é marcada pela vida no campo e pela criação bovina. A cultura gaúcha nasceu na fronteira entre a Argentina, o Uruguai e o Sul do Brasil. Os gaúchos viviam em uma sociedade nômade, baseada na pecuária. Mais tarde, com o estabelecimento das fazendas de gado, eles acabaram por se estabelecer em grandes estâncias espalhadas pelos pampas. O gaúcho era mestiço de índio, português e espanhol, e a sua cultura foi bastante influenciada pela cultura dos índios guaranis, charruas e pelos colonos hispânicos.
No século XIX, o Rio Grande do Sul começou a ser colonizado por imigrantes europeus. Os alemães começaram a se estabelecer ao longo do rio dos Sinos, a partir de 1824. Ali estabeleceram uma sociedade baseada na agricultura e na criação familiar, bem distinta dos grandes latifundiários gaúchos que habitavam os pampas. Até 1850, os alemães ganhavam facilmente as terras e se tornavam pequenos proprietários, porém, após essa data, a distribuição de terras no Brasil tornou-se mais restrita, impedindo a colonização de ser efetuada nas proximidades do Vale dos Sinos. A partir de então, os colonos alemães passaram a se expandir, buscando novas terras em lugares mais longes e levando a cultura da Alemanha para diversas regiões do Rio Grande do Sul.
A colonização alemã se expandiu nas terras baixas, parando nas encostas das serras. Quem colonizou as serras do Rio Grande do Sul foram outra etnia: os italianos. Imigrantes vindos da Itália começaram a se estabelecer nas Serras Gaúchas a partir de 1875. A oferta de terras era mais restrita, pois a maior parte já estava ocupada pelos gaúchos ou por colonos alemães. Os italianos trouxeram seus hábitos e introduziram na região a vinicultura, ainda hoje a base da economia de diversos municípios gaúchos.
Acervo arquitetônico
O estado possui rico acervo arquitetônico e dispõe de inúmeros monumentos tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), entre os quais se destacam a igreja de São Sebastião, em Bagé, construída em 1863 e onde repousam os restos mortais de Gaspar da Silveira Martins; o forte inacabado de Dom Pedro II, em Caçapava do Sul; o palácio do governo farroupilha (hoje Museu Farroupilha), o quartel-general farroupilha e a casa de Giuseppe Garibaldi, em Piratini; a Catedral de São Pedro, em Rio Grande; as ruínas do Povo e da igreja de São Miguel, em Santo Ângelo; os casarões, a Catedral, o Theatro 7 de abril(o mais antigo em funcionamento no Brasil), o Teatro Guarany, Catedral no Centro, a Igreja do Porto, os Casaróes na praça Coronel Pedro Osório, o Mercado Central e as Charqueadas em Pelotas; a igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Viamão.
Eventos
Dentre as festas religiosas do estado, destacam-se, na capital, a procissão fluvial de Nossa Senhora dos Navegantes padroeira de Porto Alegre, em 2 de fevereiro; a festa do Divino, celebrada na igreja do Espírito Santo; e a procissão de Corpus Christi
Ainda na capital, realizam-se exposições anuais de animais e produtos derivados (agosto), a Semana Farroupilha (14 a 20 de setembro) e a exposição estadual de orquídeas (de 1º a 8 de dezembro); em Santana do Livramento e São Borja realizam-se exposições agropecuárias (outubro); em Caxias do Sul, a famosa Festa da Uva (fevereiro); e em Gramado, a Festa das Hortências (bienal) e a Feira Nacional de Artesanato (anual); em todas as cidades da campanha gaúcha realizam-se rodeios (reunião de gado para contagem, cura ou venda); em Pelotas acontece a Festa Nacional do Doce (Fenadoce), a maior feira do Brasil de doces, o evento acontece entre os meses de junho e julho no Centro de Eventos Fenadoce; em Rio Grande acontece a Festa do Mar, voltada aos frutos do mar, pescados em geral, acontecendo normalmente na época da Páscoa, bom como a FEARG, voltada ao artesanato, comércio e etnias locais, e a Festa de Iemanjá, realizada no dia 2 de fevereiro, recebendo umbandistas, fiéis e simpatizantes de várias cidades do estado e até de outros países. Em várias cidades do estado acontecem eventos literários conhecidos por Feira do Livro, destacando-se as de Passo Fundo, praia do Cassino e, principalmente, a de Porto Alegre. Em Santa Rosa, realiza-se a Fenasoja que atrai muitos visitantes de fora do país. Já em Ijuí - terra das culturas diversificadas, realiza-se a ExpoIjuí, conhecida festa que reúne as mais diversas etnias do estado, são 12 atualmente.
A Califórnia da Canção Nativa é um evento musical considerado como patrimônio cultural do estado,[100] ocorre a cada ano em diversas cidades, com a final no mês de dezembro em Uruguaiana. Considerado pelo governo um modelo de divulgação da música regional rio-grandense, onde através da triagem de mais de 500 músicas com estilos regionais, na final é selecionada a melhor composição.[101]
Danças típicas do estado são o bambaquerê (espécie de quadrilha), e congada (auto popular), a chimarrita (fandango), a jardineira (dança figurada e cantada, de pares soltos) e a quebra-mana (dança sapateada e valsada). Nas zonas de colonização alemã, realizam-se os kerbs, bailes populares que duram em geral três dias.
O evento "Grito do Nativismo Gaúcho" de Jaguari tem sua origem no próprio contexto histórico do movimento dos festivais nativistas do RS. O festival ocorre anualmente no Clube de Caça e Pesca de Jaguari (Capejar) no mês de janeiro. O último evento, em 2012, teve 427 canções inscritas, das quais 12 foram selecionadas.[102] No palco do Grito, convivem, democraticamente, todas as formas de manifestações da música sul rio-grandense. O festival aceita trabalhos que se alinhem em qualquer das tendências que dominam o movimento nativista do RS levando em conta somente a qualidade dos mesmos. Sem romper com as origens rurais, aproximam a realidade de um estado urbanizado e contemporâneo, valorizando, ainda mais, a cultura como um todo.[103]
Esporte
Como exemplos de ídolos do esporte, o estado conta com Daiane dos Santos, vencedora das principais competições na ginástica artística, como a Copa do Mundo de Ginástica; João Derly, campeão mundial de judô; e Ronaldinho Gaúcho, eleito o melhor jogador de futebol do mundo duas vezes, e os três últimos treinadores da Seleção Brasileira Dunga, Mano Menezes e Luiz Felipe Scolari. Também se destacam os atletas da Patinação Artística, selecionados para representarem o Brasil nos últimos Jogos Pan-Americanos, Marcel Sturmer (tricampeão Pan-Americano) e Talitha Haas (3ª colocada na competição). Em Erechim, no norte do estado, é realizada a única etapa no Brasil do campeonato sul-americano de rally velocidade pela CODASUR.
O Rio Grande do Sul possui atualmente oito times de futebol pertencentes às divisões do Campeonato Brasileiro de Futebol: Grêmio; Internacional; Caxias; Juventude; Brasil; Lajeadense de Lajeado e Ypiranga. O Sport Club Rio Grande, do município de Rio Grande, é o mais antigo do Brasil e atualmente joga o Campeonato Gaúcho da Segunda Divisão.
O Rio Grande do Sul também é referência nacional e mundial na prática do futsal, sendo o Inter/Ulbra de Porto Alegre, a ACBF de Carlos Barbosa, o Atlântico de Erechim, o Ulbra de Canoas e o Enxuta de Caxias do Sul. Devido às conquistas da ACBF, a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) apresentou em 2013 um projeto de lei para declarar o município de Carlos Barbosa a capital do futsal no Brasil.[104] Tal projeto foi aprovado pelo Senado Federal em 27 de Maio de 2015,[105] e está atualmente na Câmara dos Deputados.[106]
Culinária
Ver artigo principal: Culinária do Rio Grande do Sul
A cozinha típica tem como prato principal o churrasco (pedaços de carne cortados de modo especial, colocados em espetos e postos a assar em uma churrasqueira). A bebida típica é o chimarrão (chá de erva-mate quente e amargo sorvido por meio de uma bomba). O vinho e o curtido de cachaça com butiá são outras das bebidas preferidas dos gaúchos.
Literatura
Ver artigo principal: Literatura do Rio Grande do Sul
O Rio Grande do Sul tem grande destaque na literatura brasileira. Autores do romance de 30 gaúchos foram Érico Veríssimo (1905-1975), Dyonélio Machado (1895-1985) e Cyro Martins (1908-1995).
A obra mais importante deste período é, sem dúvida, a trilogia O Tempo e o Vento, de Veríssimo, que resgata duzentos anos da história do Rio Grande do Sul.
Mário Quintana (1906-1994), Augusto Meyer (1902-1970) e Raul Bopp (1898-1984) são usualmente considerados a trindade modernista do Rio Grande do Sul , sendo considerado o poeta Tyrteu Rocha Vianna o mais dotado dos primórdios da poesia modernista no estado.
Feriados
Data | Nome | Observações |
---|---|---|
20 de setembro | Dia da Revolução Farroupilha | Homenagem à Guerra dos Farrapos. |
Ver também
- Gaúcho
- Província de São Pedro do Rio Grande do Sul
- Tradicionalismo gaúcho
- Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul
- Governadores do Rio Grande do Sul
- Símbolos oficiais do Rio Grande do Sul
- História do Rio Grande do Sul
- Lista de municípios do Rio Grande do Sul
- Lista de municípios do Rio Grande do Sul por população
- Lista de municípios do Rio Grande do Sul por data de criação
Notas
↑ A origem do verbete no idioma espanhol é controverso. Existe, ainda, uma versão que estabelece a adoção de um vocábulo de origem indígena, significando "errante" ou "itinerante".[16]
↑ Incluindo as áreas das lagoas Mirim (2 811,552 km²) e dos Patos (10 152,451 km²).
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Ligações externas
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Assembleia Legislativa do estado do Rio Grande do Sul (em português)
Tribunal de Justiça do estado do Rio Grande do Sul (em português)
Fundação Zoobotânica do RS (em português)
Secretaria Estadual do Meio Ambiente (em português)
Rio Grande do Sul no Cola da Web (em português)
Resumo Estatístico do Rio Grande do Sul (em português)- Secretaria do Turismo do Rio Grande do Sul