Igreja Católica
Nota: Para outros significados, veja Igreja Católica (desambiguação).
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A Igreja Católica (o termo "católico", derivado da palavra grega: καθολικός (katholikos), significa "universal", "geral" ou "referente à totalidade"[1]), chamada também de Igreja Católica Romana[2][3][4] e Igreja Católica Apostólica Romana[5][6][7][8], é uma Igreja cristã com aproximadamente dois mil anos[9], posta sob a autoridade Papal do Bispo de Roma e sucessor do apóstolo Pedro
[João 21,15-17]. Seu objetivo é seguir ao ensinamento e à pessoa de Jesus Cristo e de Maria, dos Santos e anjos emvista do Reino de Deus, e concede um papel nesta missão à Maria Mãe da Igreja"ou Mãe (Geradora) do corpo de Cristo, [Cl 1,18] considerando que nem mesmo se deve temer que o incremento do culto, tanto litúrgico como privado, a Ela dedicado, possa ofuscar ou diminuir o «culto de adoração, que é prestado ao Verbo Encarnado e do mesmo modo ao Pai e ao Espírito Santo»[10][11] pois a veneração (honra) prestada a ela não acaba nela, mais em seu filho Jesus. Para este fim, a Igreja Católica administra os sacramentos e prega o Evangelho de Jesus Cristo.[12] Atua em programas sociais e instituições em todo o mundo, incluindo escolas, universidades, hospitais e abrigos, bem como administra outras instituições de caridade, que ajudam famílias, pobres, idosos e doentes.[12]
A Igreja Católica se considera a igreja estabelecida por Deus para salvar todos os homens [Mateus 16,18], embora admita a possibilidade de salvação dos que não a seguem[13]. Esta ideia é visível logo no seu nome: o termo "católico" significa global em grego. Ela elaborou sua doutrina ao longo dos concílios a partir da Bíblia, comentados pelos Pais e pelos doutores da Igreja. Ela propõe uma vida espiritual e uma regra de vida aos seus fiéis inspirada no Evangelho e definida. Regida pelo Código de Direito Canónico, ela se compõe, além da sua muita bem conhecida hierarquia ascendente que vai do diácono ao Papa, de vários movimentos apostólicos, que comportam notadamente as ordens religiosas, os institutos seculares e uma ampla diversidade de organizações e movimentos de leigos.
Desde o dia 13 de março de 2013, a Igreja Católica encontra-se sob a liderança do Papa Francisco. O último papa antes do argentino foi o Papa Bento XVI, que abdicou do cargo no mesmo ano. Quando de sua entronização, ela contava aproximadamente com 1,2 bilhões de membros[nota 1] (ou seja, mais de um sexto da população mundial[15] e mais da metade de todos os cristãos[16]), distribuídos principalmente na Europa e nas Américas mas também noutras regiões do mundo. Sua influência na História do pensamento bem como sobre a História da arte é considerável, notadamente na Europa.
A Igreja Católica, pretendendo respeitar a cultura e a tradição dos seus fiéis, é por isso atualmente constituída por 24 igrejas autônomas sui iuris, todas elas em comunhão completa e subordinadas ao Papa. Estas Igrejas, apesar de terem a mesma doutrina e fé, possuem uma tradição cultural, histórica, teológica e litúrgica diferentes e uma estrutura e organização territorial separadas. A Igreja Católica é muitas vezes confundida com a Igreja Católica Latina, uma das suas 24 Igrejas autônomas e a maior de todas elas[17][18][19].
Índice
1 História
2 Características doutrinais
2.1 Revelação divina, Tradição e desenvolvimento da doutrina
2.2 Dogmas e Santíssima Trindade
2.3 Jesus, a salvação e o Reino de Deus
2.4 Eclesiologia
2.5 Divergências com as outras Igrejas cristãs
2.6 Dez Mandamentos e a Moral
2.7 Sacramentos
2.8 Cinco Mandamentos da Igreja Católica
3 Estrutura e cargos
4 Culto e prece
4.1 Liturgia
5 Organização por região
5.1 Igrejas sui iuris e seus ritos litúrgicos
5.1.1 Lista
6 Presença mundial
7 Críticas e controvérsias
8 Ver também
9 Notas
10 Referências
10.1 Bibliografia
10.1.1 Literatura em francês
10.1.2 Literatura em inglês
11 Ligações externas
História
Ver artigo principal: História da Igreja Católica
A Igreja Católica possui mais de dois mil anos de história, sendo a mais antiga instituição ainda em funcionamento. Sua história é integrante à História do Cristianismo e a história da civilização ocidental.[20].
A palavra Igreja Católica para referir-se à Igreja Universal é utilizada desde o século I, alguns historiadores sugerem que os próprios apóstolos poderiam ter utilizado o termo para descrever a Igreja.[21] Registros escritos da utilização do termo constam nas cartas de Inácio,[22]Bispo de Antioquia, discípulo do apóstolo João, que provavelmente foi ordenado pelo próprio São Pedro.[21]
As primeiras listas de papas diziam que o segundo papa após São Pedro, foi São Lino[23] considerado sucessor do Apóstolo Pedro, interveio em outras comunidades para ajudar a resolver conflitos,[24] tais como fizeram o Papa Clemente I, Vitor I e Calixto I. Nos três primeiros séculos a Igreja foi organizada sob três patriarcas: o de Antioquia, de jurisdição sobre a Síria e posteriormente estendeu seu domínio sobre a Ásia Menor e a Grécia; o de Alexandria, de jurisdição sobre o Egito; e o de Roma, de jurisdição sobre o Ocidente.[25] Posteriormente os bispos de Constantinopla e de Jerusalém foram elevados à dignidade de patriarcas por razões administrativas.[25] O Primeiro Concílio de Niceia, em 325, considerou o Bispo de Roma como o "primus" (primeiro) entre os patriarcas, afirmando em seus quarto, quinto e sexto cânones que está "seguindo a tradição antiquíssima",[26] embora muitos interpretem esse título como o "primus inter pares" (primeiro entre iguais). Considerava-se que Roma possuía uma autoridade especial devido à sua ligação com São Pedro.[27]
Uma série de dificuldades (disputas doutrinárias e disciplinares, diferenças culturais, Concílios disputados, a evolução de ritos separados e se a posição do Papa era ou não de real autoridade ou apenas de respeito) levaram à divisão em 1054, que separou a Igreja entre a Igreja Católica no Ocidente e a Igreja Ortodoxa no Leste (Grécia, Rússia e muitas das terras eslavas, Anatólia, Síria, Egito, etc.). A esta divisão chama-se o Cisma do Oriente.
A grande divisão seguinte da Igreja Católica ocorreu no século XVI com a Reforma Protestante, durante a qual se formaram muitas das atuais igrejas Protestantes, com maior presença no Norte da Europa.
Características doutrinais
Ver artigo principal: Doutrina da Igreja Católica
A Igreja Católica acredita ser a única Igreja fundada por Cristo, e portanto, a única autêntica frente a demais igrejas e denominações cristãs que surgiram historicamente depois dela.[nota 2] Assim, a Igreja Católica considera que tem por missão elaborar, comunicar e propagar os ensinamentos de Cristo, assim como a de cuidar a unidade dos fiéis, com o objetivo de ajudar a humanidade a percorrer o caminho espiritual a Deus. Tem também o dever de administrar os sacramentos aos seus fiéis, por meio do ministério de seus sacerdotes. A Igreja acredita que Deus outorga a sua graça ao crente por meio dos sacramentos, daí a sua importância na vida eclesial. Ademais, a Igreja Católica manifesta-se como uma estrutura hierárquica e colegial, com Cristo como a sua cabeça espiritual e auxiliado pelo colégio dos apóstolos, cuja autoridade passou a ser exercida, após a sua morte, pelos seus sucessores: o Papa e os bispos.[28]
Revelação divina, Tradição e desenvolvimento da doutrina
Ver artigo principal: Revelação divina, Bíblia, Tradição católica, Desenvolvimento da doutrina e Magistério da Igreja Católica
A autoridade para ensinar, ou seja, o Magistério da Igreja, baseia-se na Revelação divina, que está expressa tanto nas Sagradas Escrituras (ou Bíblia) como na Sagrada Tradição (oral). Segundo a fé católica, a Revelação divina engloba todas as verdades que a Igreja acredita e que foram sendo gradualmente reveladas por Deus através dos tempos (desde o Antigo Testamento), atingindo a sua plenitude e perfeição em Jesus Cristo, que anunciou definitivamente o Evangelho à humanidade [29]. Ou seja, já não há mais nada a acrescentar à Revelação divina depois de Jesus, apenas há revelações privadas (ex.: as aparições marianas), que não pertencem à Revelação divina pública nem podem contradizê-la. O papel das aparições privadas é somente ajudar os fiéis católicos a viverem melhor a Revelação divina, numa determinada época da História.[30] Por isso, Jesus Cristo é considerado pelos católicos e outros cristãos como o Filho de Deus, o Messias e o Salvador do mundo e da humanidade [31][32]. Este conjunto de verdades reveladas pode ser designado por doutrina católica. Segundo o Catecismo de São Pio X, a doutrina católica "é a doutrina que Jesus Cristo Nosso Senhor nos ensinou, para nos mostrar o caminho da salvação" e da vida eterna [33]. "As partes principais e mais necessárias da Doutrina [...] são quatro: o Credo, o Pai-Nosso, os Mandamentos e os Sacramentos" [34][35].
Apesar da doutrina católica ter sido plenamente revelada por Jesus Cristo, a definição e compreensão desta mesma doutrina é progressiva, necessitando por isso do constante estudo e reflexão da Teologia, mas sempre fiel à Revelação e orientada pelo Magistério da Igreja Católica. A esta definição progressiva da doutrina dá-se o nome de desenvolvimento da doutrina [36]. Esta Revelação imutável e definitiva é transmitida pela Igreja sob a forma de Tradição escrita (Bíblia) e oral.[37] A doutrina católica está resumida no Credo dos Apóstolos, no Credo niceno-constantinopolitano e em variadíssimos documentos da Igreja, como por exemplo no Catecismo da Igreja Católica (CIC) e no seu Compêndio (CCIC) [38].
Dogmas e Santíssima Trindade
Ver artigo principal: Dogmas da Igreja Católica e Santíssima Trindade
Com os seus estudos teológicos, a Igreja gradualmente proclama os seus dogmas, que são a base imutável da sua doutrina, sendo o último dogma (o da Assunção da Virgem Maria) proclamado solenemente apenas em 1950, pelo Papa Pio XII. Os dogmas são definidos e proclamados solenemente pelo Supremo Magistério (Papa ou Concílio Ecumênico com o Papa [39]) como sendo verdades definitivas, porque eles estão contidos na Revelação divina ou têm com ela uma conexão necessária. Uma vez proclamado solenemente, nenhum dogma pode ser alterado ou negado, nem mesmo pelo Papa ou por decisão conciliar. Por isso, o católico é obrigado a aderir, aceitar e acreditar nos dogmas de uma maneira irrevogável.[40]
Para os católicos, um dos dogmas mais importantes é o da Santíssima Trindade, que, não violando o monoteísmo, professa que Deus é simultaneamente uno (porque, em essência, só existe um Deus) e trino (se apresenta em três pessoa: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que se estabelecem entre si uma comunhão perfeita). Estas 3 Pessoas eternas, apesar de possuírem a mesma natureza, "são realmente distintas" [41].
Logo, muitas vezes, certas actividades e atributos divinos são mais reconhecidas (mas não exclusivamente realizadas) em uma Pessoa do que em outra. Como por exemplo, a criação divina do mundo está mais associado a Deus Pai; a salvação do mundo a Jesus, o Filho de Deus; e a protecção, guia, purificação e santificação da Igreja ao Espírito Santo [41].
Jesus, a salvação e o Reino de Deus
Ver artigo principal: Jesus, Salvação e Reino de Deus
Jesus Cristo é a figura central do Cristianismo, porque, por vontade de Deus Pai [42], ele encarnou-se (veio à Terra) para anunciar a salvação à humanidade inteira, "ou seja: para nos reconciliar a nós pecadores com Deus; para nos fazer conhecer o seu amor infinito; para ser o nosso modelo de santidade; para nos tornar «participantes da natureza divina» (2 Ped 1, 4)" [43]; e para "anunciar as boas novas do Reino de Deus" [44]. Santo Atanásio, um famoso Padre e Doutor da Igreja, afirmou que Jesus, "o Filho de Deus, Se fez homem, para nos fazer Deus", ou seja, para nos tornarmos santos como Deus [45].
O dogma cristológico ensina que Jesus é a encarnação do Verbo divino, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Messias, Salvador e Bom Pastor da Humanidade [46]. Ele é também «o Filho Unigênito de Deus» (1 Jo 2, 23), a segunda pessoa da Santíssima Trindade, o único e verdadeiro Sumo Sacerdote [47] e Mediador entre os homens e Deus Pai, chegando mesmo a afirmar que "«Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim» (Jo 14, 6)" [48].
Nas suas muitas pregações, Jesus, ao anunciar o Evangelho, ensinou as bem-aventuranças e insistiu sempre «que o Reino de Deus está próximo» (Mateus 10:7). Exortou também que quem quisesse fazer parte desse Reino teria de nascer de novo, de se arrepender dos seus pecados, de se converter e purificar. Jesus ensinava também que o poder, a graça e a misericórdia de Deus era maior que o pecado e todas as forças do mal, insistindo por isso que o arrependimento sincero dos pecados e a fé em Deus podem salvar os homens [49]. Este misterioso Reino, que só se irá realizar-se na sua plenitude no fim do mundo, está já presente na Terra através da Igreja, que é a sua semente. No Reino de Deus, o Mal será inexistente e os homens salvos e justos, após a ressurreição dos mortos e o fim do mundo, passarão a viver eternamente em Deus, com Deus e junto de Deus [50].
A doutrina católica professa também que a salvação do Homem deve-se, para além da graça divina, ao voluntário Sacrifício e Paixão de Jesus na cruz. Este supremo sacrifício deve-se à vontade e ao infinito amor de Deus, que quis salvar toda a humanidade [51][52]. Além disso, é também fundamental para a salvação a adesão livre do crente à fé em Jesus Cristo e aos Seus ensinamentos, porque a liberdade humana, como um dom divino, é respeitado por Deus, o nosso Criador [53][54].
Esta fé cristã "opera pela caridade" ou amor (Gálatas 5:6), por isso ela obriga o crente a converter-se e a levar uma vida de santificação. Este modo de viver obriga o católico a participar e receber os sacramentos e a "conhecer e fazer a vontade de Deus" [55]. Este último ponto é cumprido através, como por exemplo, da prática dos ensinamentos revelados (que se resumem nos mandamentos de amor ensinados por Jesus), das boas obras e também das regras de vida propostas pela Igreja Católica [35][56][57]. Estes mandamentos de amor consistem em «amar a Deus acima de todas as coisas ... amar ao próximo como a si mesmo» (Mateus 22:37-39) (o Grande Mandamento) e «amar uns aos outros como Eu vos amei» (João 15:12) (o Mandamento do Amor ou Novo Mandamento). Estes ensinamentos radicais constituem por isso o resumo de «toda a Lei e os Profetas do Antigo Testamento» (Mateus 22:40)[58]. No fundo, a vida de santificação proposta pela Igreja tem por finalidade e esperança últimas à salvação [59] e à implementação do Reino de Deus [50][60].
A Igreja ensina também que todos os não católicos que, sem culpa própria, ignoram a Palavra de Deus e a Igreja Católica, mas que "procuram sinceramente Deus e, sob o influxo da graça, se esforçam por cumprir a sua vontade", podem conseguir a salvação [61].
Eclesiologia
Ver artigo principal: Igreja, Eclesiologia e Quatro marcas da Igreja
A Igreja Católica define-se pelas palavras do Credo niceno-constantinopolitano, como:
- «una» porque nela subsiste a única instituição verdadeiramente fundada e encabeçada por Cristo para reunir o povo de Deus, porque ela tem como alma o Espírito Santo, que une todos os fiéis na comunhão em Cristo e porque ela tem uma só fé, uma só vida sacramental, uma única sucessão apostólica, uma comum esperança e a mesma caridade [62].
- «santa» por causa da sua ligação única com Deus, o seu Autor, porque "o Espírito Santo vivificou-a com a caridade" e porque ela é a "Esposa de Cristo"; também porque ela, através dos sacramentos, tem por objectivo santificar, purificar e transformar os fiéis, reunindo-os todos para o seu caminho de santificação, cujo objectivo final é a salvação, que consiste na vida eterna, na realização final do Reino de Deus e na obtenção da santidade [63].
- «católica» porque a Igreja é universal e está espalhada por toda a Terra; é portadora da integralidade e totalidade do depósito da fé; "leva e administra a plenitude dos meios" necessários para a salvação" (incluindo os sete sacramentos), dados por Jesus à sua Igreja; "é enviada em missão a todos os povos, em todos os tempos e qualquer que seja a cultura a que eles pertençam"; e nela está presente Cristo [64][65].
- «apostólica» porque ela é fundamentada na doutrina dos Apóstolos cuja missão recebeu sem ruptura [66]. Segundo a Doutrina Católica, todos os Bispos da Igreja são sucessores dos Apóstolos e o Papa, Chefe da Igreja, é o sucessor de São Pedro ("Príncipe dos Apóstolos"), que é a pedra na qual Cristo edificou a sua Igreja.
Além disso, a Igreja, de entre os seus inúmeros nomes, também é conhecida por:
- «Corpo de Cristo» porque os católicos acreditam que a Igreja não é apenas uma simples instituição, mas um corpo místico constituído por Jesus, que é a Cabeça, e pelos fiéis, que são membros deste corpo único, inquebrável e divino. Este nome é assente também na fé de que os fiéis são unidos intimamente a Cristo, por meio do Espírito Santo, sobretudo no sacramento da Eucaristia [67]. A Igreja Católica acredita que os cristãos não católicos também pertencem, apesar de um modo imperfeito, ao Corpo Místico, visto que tornaram-se uma parte inseparável d'Ele através do Batismo - constituindo assim numas das bases do ecumenismo actual. Ela defende também que muitos elementos de santificação e de verdade estão também presentes nas Igrejas e comunidades cristãs que não estão em plena comunhão com o Papa [68].
- «Esposa de Cristo» porque o próprio Cristo "Se definiu como o «Esposo» (Mc 2,19) que amou a Igreja, unindo-a a Si por uma Aliança eterna. Ele entregou-se a Si mesmo por ela, para a purificar com o Seu sangue, «para a tornar santa» (Ef 5,26) e fazer dela mãe fecunda de todos os filhos de Deus" [69].
- «Templo do Espírito Santo» porque o Espírito Santo reside na Igreja, no Corpo Místico de Cristo, e estabelece entre os fiéis e Jesus Cristo uma comunhão íntima, tornando-os unidos num só Corpo. Para além disso, Ele guia, toma conta e "edifica a Igreja na caridade com a Palavra de Deus, os sacramentos, as virtudes e os carismas" [70].
Divergências com as outras Igrejas cristãs
Ver artigo principal: A doutrina católica e a das outras Igrejas cristãs
A doutrina da Igreja Ortodoxa é bastante parecida com a da Igreja Católica. As únicas diferenças significativas dizem respeito ao filioque, ao entendimento um pouco divergente da salvação e do arrependimento e principalmente à compreensão do papel e função do Papa na Igreja, que para os ortodoxos não tem jurisdição sobre as outras Igrejas nem é revestido de infalibilidade quando fala ex cathedra.
Em relação às Igrejas protestantes, as diferenças mais significativas dizem respeito à doutrina da Eucaristia, dos outros sacramentos (a maioria dos protestantes professam o Batismo e a Eucaristia), à existência do purgatório, à composição do Cânone das Escrituras e ao culto de veneração à Virgem Maria e aos santos. Há também diferenças importantes na doutrina do pecado original e da graça, na necessidade e natureza da penitência e no modo de obter a redenção, com os protestantes a defender que a salvação só se atinge apenas através da fé (sola fide), em detrimento da crença católica que a fé deve ser expressa também através das boas obras. Esta divergência levou a um conflito sobre a doutrina da justificação, mas o diálogo ecumênico moderno levou a alguns consensos entre os católicos e os luteranos, através da Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação, bem como com os anglicanos e outros.
Dez Mandamentos e a Moral
Ver artigo principal: Doutrina católica sobre os Dez Mandamentos e Teologia moral católica
Existem várias representações dos Dez Mandamentos, que é a base e o mínimo fundamental da Lei moral (ou Lei de Deus), devido à diversidade de traduções existentes. A mais utilizada é aquela ensinada actualmente na catequese de língua portuguesa da Igreja Católica:
- 1º Amar a Deus sobre todas as coisas.
- 2º Não invocar o Santo Nome de Deus em vão.
- 3º Guardar domingos e festas de guarda.
- 4º Honrar pai e mãe.
- 5º Não matar.
- 6º Guardar castidade nas palavras e nas obras.
- 7º Não roubar.
- 8º Não levantar falsos testemunhos.
- 9º Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos.
- 10º Não cobiçar as coisas alheias.
Segundo a doutrina católica sobre os Dez Mandamentos, eles são de observância e cumprimento obrigatórios, porque "enuncia deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo" e dão a conhecer também a vontade divina sobre a conduta moral dos homens [71].
Sacramentos
Ver artigo principal: Sacramentos católicos
Dentro da fé católica, os sacramentos, que a Igreja acredita serem instituídas por Jesus, são gestos e palavras de Cristo que concedem e comunicam a graça santificadora sobre quem os recebe. Sobre os sacramentos, São Leão Magno diz: "«o que era visível no nosso Salvador passou para os seus sacramentos»" [72].
Ao celebrá-los, a Igreja Católica alimenta, exprime e fortifica a sua fé, sendo por isso os sacramentos uma parte integrante e inalienável da vida de cada católico e fundamentais para a sua salvação. Isto porque eles conferem ao crente a graça divina, os dons do Espírito Santo, "o perdão dos pecados, [...] a conformação a Cristo Senhor e a pertença à Igreja", que o torna capaz "de viver a vida nova de filhos de Deus em Cristo acolhido com a fé". Daí a grande importância dos sacramentos na liturgia católica [73]. Ao todo, a Igreja Católica tem sete sacramentos:
Baptismo é dado às criança e a convertidos adultos que não tenham sido antes baptizados validamente (o batismo da maior parte das igrejas cristãs é considerado válido pela Igreja Católica, contanto que seja feito pela fórmula: "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". A rigor, todo cristão pode, nessa fórmula, batizar validamente alguém, nomeadamente em situações urgentes. Entretanto, o batismo será ilícito, devendo o baptizado ser levado na presença de um sacerdote, para que complete os rituais do sacramento, como a unção com o Crisma e com o óleo dos catecúmenos).
Confissão, Penitência ou Reconciliação envolve a admissão de pecados perante um padre e o recebimento de penitências (tarefas a desempenhar a fim de alcançar a absolvição ou o perdão de Deus) [João 20,23].
Eucaristia (Comunhão) é o sacramento mais importante da Igreja porque ela relembra e renova o mistério pascal de Cristo, actualizando e renovando assim a salvação da humanidade [74]. Por isso, recebe também o nome de Santíssimo Sacramento. Este sacramento está associado também à transubstanciação, que é a crença de que, após a consagração, o pão e o vinho oferecidos e consagrados se tornam realmente o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, sob as aparências de pão e vinho [1 Cor 11,24-25].- Na Confirmação ou Crisma, o Espírito Santo, que é recebido no batismo é "fortalecido e aprofundado" [75] através da imposição de mãos e da unção com santo óleo do Crisma. Na maior parte das igrejas de Rito latino, este sacramento é presidido por um bispo e tem lugar no início da idade adulta (na maioria das vezes, quando se completam 15 anos). Nas Igrejas Católicas Orientais o sacramento do Crisma é geralmente executado por um padre imediatamente depois do batismo.
Sagrado matrimônio é o sacramento que valida, diante de Deus, a união de um homem e uma mulher, constituindo assim uma família. Segundo a tradição católica, com base no Evangelho de São Marcos, o casamento é indissolúvel. Só é permitido um segundo casamento no caso da morte de um dos cônjuges ou em situações especiais de nulidade do casamento.- A Ordem recebe-se ao entrar para o clero, através da consagração das mãos com o santo óleo do Crisma e, no rito latino (ou ocidental), envolvem um voto de castidade enquanto que nos ritos orientais, os homens casados são admitidos como padres diocesanos, mas não como bispos ou padres monásticos. Em raras ocasiões, permitiu-se que padres casados que se converteram a partir de outros grupos cristãos fossem ordenados no rito ocidental. No rito ocidental, os homens casados podem ser ordenados diáconos permanentes, mas não podem voltar a casar se a esposa morrer ou se for declarada a nulidade do casamento. O sacramento das Ordens Sagradas é dado em três graus: o do diácono (desde o Concílio Vaticano II um diácono permanente pode ser casado antes de se tornar diácono), o de sacerdote e o de bispo.
- A Unção dos enfermos era conhecida como "extrema unção" ou "último sacramento". Envolve a unção de um doente com um óleo sagrado dos enfermos, abençoado especificamente para esse fim. Já não está limitada aos doentes graves e aos moribundos, mas a Igreja recomenda esse sacramento e o viático para a hora da morte.
Cinco Mandamentos da Igreja Católica
Os cinco mandamentos ou preceitos da Igreja Católica (não confundir com os Dez Mandamentos da Lei de Deus), na sua forma atual, foram estabelecidos pelo Papa João Paulo II e promulgados em 2005 pelo Papa Bento XVI, onde suprimiu-se o termo "dízimos" do quinto mandamento (pagar dízimos conforme o costume), cujo sentido real era, obviamente, uma contribuição segundo as possibilidades de cada um, e não uma taxação ou imposto sobre os rendimentos.
Os cinco mandamentos ou preceitos da Igreja são:[76]
- Participar na Missa, aos domingos e festas de guarda e abster-se de trabalhos e atividades que impeçam a santificação desses dias.
- Os dias santos de guarda ou preceito que podem não ser no domingo são dez:[77][nota 3]
1 de janeiro - Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus;
6 de janeiro - Epifania do Senhor
19 de março - Solenidade de São José
Ascensão de Jesus (data variável - quinta-feira da sexta semana da Páscoa)
Corpus Christi (data variável - 1ª quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade)
29 de junho - Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo.
15 de agosto - Solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao Céu
1 de novembro - Dia de Todos-os-Santos
8 de dezembro - Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria
25 de dezembro - Natal
- Os dias santos de guarda ou preceito que podem não ser no domingo são dez:[77][nota 3]
Confessar os pecados ao menos uma vez cada ano.- Comungar o sacramento da Eucaristia ao menos pela Páscoa.
- Guardar a abstinência e jejuar nos dias determinados pela Igreja:
- Dias de jejum: Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa.[78]
- Dias de abstinência de carne ou de qualquer outra comida determinada pela conferência episcopal: todas as sextas-feiras, principalmente as da Quaresma, a não ser que uma solenidade seja numa sexta-feira.[78]
- Dias de jejum: Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa.[78]
- Atender às necessidades materiais da Igreja, cada qual segundo as suas possibilidades.
Estrutura e cargos
Ver artigo principal: Hierarquia católica
A Igreja Católica tem uma hierarquia, sendo o seu Chefe o Papa. A expressão "Santa Sé" significa o conjunto do Papa e dos dicastérios da Cúria Romana, que o ajudam no governo de toda a Igreja.
A Igreja tem uma estrutura hierárquica de títulos que são, em ordem descendente:
Papa, que é o Sumo Pontífice e chefe da Igreja Católica, o guardador da integridade e totalidade do depósito da fé, o Vigário de Cristo na Terra, o Bispo de Roma e o possuidor do Pastoreio de todos os cristãos, concedido por Jesus Cristo a São Pedro e, consequentemente, a todos os Papas. Esta autoridade papal (Jurisdição Universal) vem da fé de que ele é o sucessor directo do Apóstolo São Pedro (a chamada "Confissão de Pedro"). Na Igreja latina e em algumas das orientais, só o Papa pode designar os membros da Hierarquia da Igreja acima do nível de presbítero. Aos Papas atribui-se infalibilidade. Por essa prerrogativa, as decisões papais em questões de fé e costumes (moral) são infalíveis quando proclamadas ex cathedra.[79] Todos os membros da hierarquia respondem perante o Papa e a sua corte papal, chamada de Cúria Romana.
Camerlengo em caso de morte ou renúncia do cargo, essa pessoa é quem detém todos os poderes de um papa até a eleição de outro pelo Colégio de Cardeais.
Cardeais são os conselheiros e os colaboradores mais íntimos do Papa, sendo todos eles bispos (alguns só são titulares). Aliás, o próprio Papa é eleito, de forma vitalícia (a abdicação é rara, porque já não acontecia desde a Idade Média) pelo Colégio dos Cardeais. A cada cardeal é atribuída uma igreja ou capela (e daí a classificação em cardeal-bispo, cardeal-presbítero e cardeal-diácono) em Roma para fazer dele membro do clero da cidade. Muitos dos cardeais servem na Cúria, que assiste o Papa na administração da Igreja. Todos os cardeais que não são residentes em Roma são bispos diocesanos.
Patriarcas são normalmente títulos possuídos por alguns líderes das Igrejas Católicas Orientais sui ijuris. Estes patriarcas orientais, que ao todo são seis, são eleitos pelos seus respectivos Sínodos e depois reconhecidos pelo Papa. Mas alguns dos grandes prelados da Igreja Latina, como o Patriarca de Lisboa e o Patriarca de Veneza, receberam também o título de Patriarca, apesar de ser apenas honorífico e não lhes conferirem poderes adicionais.
Arcebispos (Metropolita ou Titular) são bispos que, na maioria dos casos, estão à frente das arquidioceses. Se a sua arquidiocese for a sede de uma província eclesiástica, eles normalmente têm também poderes de supervisão e jurisdição limitada sobre as dioceses (chamadas sufragâneas) que fazem parte da respectiva província eclesiástica.
Bispos (Diocesano, Titular e Emérito) são os sucessores diretos dos doze Apóstolos. Receberam o todo do sacramento da Ordem, o que lhe confere, na maioria dos casos, jurisdição completa sobre os fiéis da sua diocese.[80]
Presbíteros ou Padres são os colaboradores dos bispos e só têm um nível de jurisdição parcial sobre os fiéis. Alguns deles lideram as paróquias da sua diocese.
Monsenhor é um título honorário para um presbítero, que não dá quaisquer poderes sacramentais adicionais.
Diáconos são os auxiliares dos presbíteros e bispos e possuem o primeiro grau do Sacramento da Ordem. São ordenados não para o sacerdócio, mas para o serviço da caridade, da proclamação da Palavra de Deus e da liturgia. Apesar disso, eles não consagram a hóstia (parte central da Missa) e não administram a Unção dos enfermos e a Reconciliação.
Todos os ministros sagrados supramencionados fazem parte do clero. A Igreja acredita que os seus clérigos são "ícones de Cristo" [81], logo todos eles são homens, porque os doze Apóstolos são todos homens e Jesus, na sua natureza humana, também é homem [82]. Mas isto não quer dizer que o papel da mulher na Igreja seja menos importante, mas apenas diferente [83]. Exceptuando em casos referentes a padres ordenados pelas Igrejas orientais, aos diáconos permanentes e a alguns casos excepcionais, todo o clero católico é celibatário [84]. Os clérigos são importantes porque efetuam exclusivamente determinadas tarefas, como a celebração da Missa e dos sacramentos.
Existem ainda funções menores: Leitor, Ministro Extraordinário da Comunhão eucarística, Ministro da Palavra e Acólito. Estas funções tomados em conjunto não fazem parte do clero, pois são conferidas aos leigos, uma vez que, para entrar para o sacerdócio, é preciso ao católico receber o sacramento da Ordem. Desde o Concílio Vaticano II, os leigos tornaram-se cada vez mais importantes no seio da vida eclesial e gozam de igualdade em relação ao clero, em termos de dignidade, mas não de funções [85].
Dentro da Igreja, também existem um grupo de leigos ou de clérigos que decidiram tomar uma vida consagrada e normalmente agrupam-se em ordens religiosas, congregações religiosas ou em institutos seculares, existindo porém aqueles que vivem isoladamente ou até junto dos não-consagrados. Estes movimentos apostólicos têm a sua própria hierarquia e títulos específicos. Destacam-se os seguintes:
Abade e Abadessa (nas Abadias)
Prior e Madre Prioresa (nos Mosteiros e Conventos)
Monge e Monja (nos Mosteiros)
Frade e Freira (nos Conventos)
Eremitas (nos Eremitérios)
Culto e prece
Ver artigo principal: Culto cristão e Oração
Na Igreja Católica, para além do culto de adoração a Deus (latria), existe também o culto de veneração aos Santos (dulia) e à Virgem Maria (hiperdulia). Estes dois cultos, sendo a latria mais importante, são muito diferentes, mas ambos são expressos através da liturgia, que é o culto oficial e público da Igreja, e também através da piedade popular, que é o culto privado dos fiéis [86][87].
Dentro da liturgia, destaca-se a Missa (de frequência obrigatória aos Domingos e festas de guarda) e a Liturgia das Horas; enquanto que na piedade popular, destacam-se indubitavelmente as devoções e as orações quotidianas. Apesar de a piedade popular ser de certo modo facultativa, ela é muito importante para o crescimento espiritual dos católicos [86][87]. As principais devoções católicas são expressas em "fórmulas de orações" a Deus (Pai, Filho e Espírito Santo), à Virgem Maria e aos Santos (novenas, trezena, Santo Rosário...); em "peregrinações aos lugares sagrados"; na veneração de medalhas, estátuas, relíquias e imagens sagradas e bentas de Cristo, dos Santos e da Virgem Maria; em procissões; e em outros "costumes populares" [88].
Liturgia
Ver artigo principal: Liturgia católica, Missa e Liturgia das Horas
O ato de prece mais importante na Igreja Católica é, sem dúvida, a liturgia Eucarística, normalmente chamada de Missa. A liturgia, que é centrada na missa, é a celebração oficial e pública do "Mistério de Cristo e em particular do seu Mistério Pascal". Através dela, "Cristo continua na sua Igreja, com ela e por meio dela, a obra da nossa redenção" [89]. Esta "presença e actuação de Jesus" são assegurados eficazmente pelos sete sacramentos [86][87], com particular para a Eucaristia, que renova e perpetua "o sacrifício da cruz no decorrer dos séculos até ao regresso" de Jesus. Por isso, toda a missa centra-se na Eucaristia, porque ela "é fonte e cume da vida cristã" e nela "a acção santificadora de Deus em nosso favor e o nosso culto para com Ele" atingem o cume [90].
Jesus, como Cabeça, celebra a liturgia com os membros do seu Corpo, ou seja, com a sua "Igreja celeste e terrestre", constituída por santos e pecadores, por habitantes da Terra e do Céu [89][91]. Cada membro da Igreja terrestre celebra e atua na liturgia "segundo a sua própria função, na unidade do Espírito Santo: os batizados oferecem-se em sacrifício espiritual [...]; os Bispos e os presbíteros agem na pessoa de Cristo Cabeça", representando-o no altar. Daí que só os clérigos (excetuando os diáconos) é que podem celebrar e conduzir a Missa, nomeadamente a consagração da hóstia [92]. Apesar de celebrar o único Mistério de Cristo, a Igreja possui muitas tradições litúrgicas diferentes, devido ao seu encontro, sempre fiel à Tradição católica, com os vários povos e culturas. Isto constitui uma das razões pela existência das 24 Igrejas sui iuris que compõem a Igreja Católica [93].
A missa é celebrada todos os domingos; no entanto, os católicos podem cumprir as suas obrigações dominicais se forem à missa no sábado. Os católicos devem também ir à missa em cerca de dez dias adicionais por ano, chamados de Dias Santos de Obrigação. Missas adicionais podem ser celebradas em qualquer dia do ano litúrgico, exceto na Sexta-feira Santa, pois neste dia não se celebra a Missa em nenhuma igreja católica do mundo. Muitas igrejas têm missas diárias. A missa é composta por duas partes principais: a Liturgia da Palavra e a Liturgia da Eucaristia. Durante a Liturgia da Palavra, são lidas em voz alta uma ou mais passagens da Bíblia, acto desempenhado por um Leitor (um leigo da igreja) e pelo padre ou diácono (que leem sempre as leituras do Evangelho). Depois de concluídas as leituras, é feita a homilia por um clérigo. Nas missas rezadas aos domingos e dias de festa, é professado por todos os católicos presentes o Credo, que afirma as crenças ortodoxas (ou seja, oficiais) do catolicismo. A Liturgia da Eucaristia inclui a oferta de pão e vinho, a Prece Eucarística, durante a qual o pão e o vinho se transformam no Corpo e Sangue de Cristo, e a procissão da comunhão.
Além da missa, a Liturgia das Horas também é extremamente importante na vida eclesial, porque ela é a oração pública e comunitária oficial da Igreja Católica. Esta oração consiste basicamente na oração quotidiana em diversos momentos do dia, através de Salmos e cânticos, da leitura de passagens bíblicas e da elevação de preces a Deus. Com essa oração, a Igreja procura cumprir o mandato que recebeu de Cristo, de orar incessantemente, louvando a Deus e pedindo-Lhe por si e por todos os homens. A Liturgia das Horas, que é uma antecipação para a celebração eucarística, não exclui, mas requer de maneira complementar, as diversas devoções católicas, particularmente a adoração e o culto do Santíssimo Sacramento.
Organização por região
Ver artigo principal: Igreja particular e Circunscrição eclesiástica
A unidade geográfica e organizacional fundamental da Igreja Católica é a diocese (chamada eparquia nas Igrejas orientais católicas). Estas correspondem geralmente a uma área geográfica definida, centrada numa cidade principal, e é chefiada por um bispo. A igreja central de uma diocese recebe o nome de catedral, que deriva do termo cátedra (ou cadeira do bispo), que é um dos símbolos principais do seu cargo episcopal. Dentro da diocese ou eparquia, o bispo (ou eparca) exerce aquilo que é conhecido como poder ordinário, ou seja, autoridade própria, não delegada por outra pessoa. Embora o Papa nomeie bispos e avalie o seu desempenho, e exista uma série de outras instituições que governam ou supervisionam certas actividades eclesiásticas, um bispo tem uma autonomia relativamente grande na administração de uma diocese ou eparquia. Algumas dioceses ou eparquias, geralmente centradas em cidades grandes e importantes, são chamadas arquidioceses ou arquieparquias e são chefiadas por um arcebispo. Em grandes dioceses (ou eparquias) e arquidioceses (ou arquieparquias), o bispo é frequentemente assistido por bispos auxiliares, bispos integrais e membros do Colégio dos Bispos não designados para chefiá-las. Arcebispos, bispos sufragários ou diocesanos (designação frequentemente abreviada simplesmente para "bispos"), e bispos auxiliares, são igualmente bispos; os títulos diferentes indicam apenas que tipo de unidade eclesiástica chefiam. Muitos países têm vicariatos que apoiam as suas forças armadas, chamados normalmente de Ordinariato Militar, e são governados por bispos.
Quase todas as dioceses ou eparquias estão organizadas em grupos conhecidos como províncias eclesiásticas, cada uma das quais é chefiada por um arcebispo metropolitano. Logo, estes arcebispos exercem uma jurisdição e supervisão limitada sobre as dioceses que fazem parte da sua província eclesiástica. Existem também as conferências episcopais, geralmente constituídas por todas as dioceses de um determinado país ou grupo de países. Estes grupos lidam com um vasto conjunto de assuntos comuns, incluindo a supervisão de textos e práticas litúrgicas para os grupos culturais e linguísticos da área, e as relações com os governos locais. Porém, a autoridade destas conferências para restringir as actividades de bispos individuais é limitada. As conferências episcopais começaram a surgir no princípio do século XX e foram oficialmente reconhecidas no documento Christus Dominus, do Concílio Vaticano II.
As dioceses ou eparquias são subdivididas em distritos locais chamados paróquias. Todos os católicos devem frequentar e sustentar a sua igreja paroquiana local. Ao mesmo tempo que a Igreja Católica desenvolveu um sistema elaborado de governo global, o catolicismo, no dia a dia, é vivido na comunidade local, unida em prece na sua paróquia. As paróquias são em grande medida autossuficientes e são administradas por um presbítero (o pároco); uma igreja, frequentemente situada numa comunidade pobre ou em crescimento, que é sustentada por uma diocese, é chamada de "missão".
Para além da sua vasta hierarquia, a Igreja Católica sustenta muitos grupos de monges e frades, não necessariamente ordenados, e religiosas que vivem vidas consagradas, especialmente devotadas a servir a Deus. São pessoas que se juntaram sob um determinado sistema e regra a fim de atingir a perfeita comunhão com Deus. Os membros de algumas ordens religiosas são semi-independentes das dioceses a que pertencem; o superior religioso da ordem exerce jurisdição ordinária sobre eles.
Igrejas sui iuris e seus ritos litúrgicos
Ver artigo principal: Igreja particular sui iuris
A Igreja Católica é atualmente constituída por 24 Igrejas autônomas sui iuris, todas elas em comunhão completa e subordinadas ao Papa. A maior de todas elas é a Igreja Católica Latina. As restantes 23 Igrejas sui iuris, conhecidas coletivamente como "Igrejas Católicas Orientais", são governadas por um hierarca que pode ser um Patriarca, um Arcebispo maior, um Metropolita, um Eparca ou um Exarca. A Cúria Romana administra quer a Igreja Latina, quer (de maneira mais limitada) as Igrejas orientais. Devido a este sistema, é possível que um católico esteja em comunhão completa com o Pontífice de Roma sem ser um católico "latino".
As Igrejas sui iuris ou sui juris utilizam uma das seis tradições litúrgicas tradicionais (que emanam de Sés tradicionais de importância histórica), chamadas de ritos. Os ritos litúrgicos principais são o Romano, o Bizantino, o de Antioquia, o Alexandrino, o Caldeu e o Arménio. O Rito Romano, que predomina na Igreja Latina, é por isso dominante em grande parte do mundo, e é usado pela vasta maioria dos católicos (cerca de 98%); mas mesmo na Igreja Latina existem ainda outros ritos litúrgicos menores, em particular o Rito Ambrosiano, o Rito Bracarense e o Rito Moçárabe. Antigamente havia muitos outros ritos litúrgicos ocidentais, que foram substituídos pelo Rito Romano pelas reformas litúrgicas do Concílio de Trento.
A forma da Missa usada no Rito Romano durante a maior parte da história, codificada especialmente em 1570 (a "Missa Tridentina"), foi reformada a pedido do Concílio Vaticano II (1962-1965), modificando-se as preces e cerimônias do Missal e promulgado uma nova liturgia em 1970, que tornou-se a forma ordinária do Rito Romano, normalmente usando vernáculo e com o padre voltado para a povo (versus populum). O uso antigo do Rito Romano, celebrado ocasionalmente, a partir de 2007, através da carta apostólica "Summorum Pontificum", foi designado pelo Papa Bento XVI como a "forma extraordinária do Rito Romano", podendo ser rezado a pedido dos fiéis.
O serviço correspondente das Igrejas Católicas Orientais, a Divina Liturgia, é conduzido em várias línguas antigas e modernas, segundo o rito e a Igreja: as Igrejas de Rito Bizantino usam o grego, o eslavo eclesiástico, o árabe, o romeno, o georgiano e outras; as igrejas de Ritos Antioquiano e Caldeu usam o siríaco e o árabe; a Igreja de Rito Arménio usa o arménio; e as Igrejas de tradição alexandrina usam o copta e o ge'ez.
Atualmente, a esmagadora maioria dos católicos são de rito latino. Em 2016, os católicos orientais totalizavam somente 17,8 milhões, dos quais aproximadamente 7,67 milhões seguiam o rito bizantino.[94]
Lista
Ver artigo principal: Lista das Igrejas sui iuris
Presença mundial
Ver artigo principal: Igreja Católica Apostólica Romana no mundo
Na sociedade ocidental, a Igreja Católica, como muitas outras instituições religiosas, perdeu muita influência.[95] Essa perda de influência ocorreu inclusive em lugares onde a Igreja era mais importante, como Irlanda e Espanha.
A África, anteriormente com exclusividade de missionários europeus, tem exportado padres para países do Ocidente.[96] Atualmente, 17% da população deste continente é adepta do catolicismo.[96]
No Brasil, a Igreja Católica possui o maior número de fiéis entre as demais[97].
Críticas e controvérsias
Ver artigo principal: Críticas à Igreja Católica
A Igreja Católica é uma das instituições mais antigas do mundo contemporâneo. Simultaneamente, é também uma das mais controversas, porque ela "revela-se muitas vezes [...] em oposição ao que parece ser o conhecimento vulgar dos nossos tempos" e porque ela insiste sempre que "a fé envolve verdades, que essas verdades envolvem obrigações e que essas obrigações exigem certas escolhas". Por essa razão, a Igreja Católica, "vista do exterior, [...] pode parecer de vistas curtas, mal humorada e atormentadora — o pregador azedo de um infinito rosário de proibições"[99].
Historicamente, as críticas à Igreja Católica já tiveram muitas formas e partiram de diversos pressupostos ao longo das gerações. Algumas vezes essas críticas tiveram grandes consequências, como as contestações morais e teológicas de Martinho Lutero no século XVI, que levaram ao nascimento do protestantismo.[98]
Atualmente, as críticas são frequentemente dirigidas, como por exemplo, à hiperdulia, à dulia, à ética católica sobre o casamento (que condena o divórcio), sobre a Vida (que condena o aborto, as pesquisas científicas que matam embriões humanos, a eutanásia e os contraceptivos artificiais) e sobre a sexualidade (que condena o sexo pré-marital, a homossexualidade e o uso de preservativos). Estas questões ético-morais continuam a gerar polêmicas e controvérsias[100][101][102]. Algumas ações escandalosas e imorais, que vão contra a doutrina católica, praticadas por certos membros e clérigos católicos (ex: abuso sexual de menores por membros da Igreja Católica) reforçaram as críticas referentes ao modo como essa doutrina trata a sexualidade e a moralidade em geral.[103][104]
Nos tempos modernos, a própria crença em Deus e as inúmeras regras ético-morais da Igreja são também duramente criticadas como sendo obstáculos para a verdadeira libertação, progresso e realização do Homem. A origem da Igreja e da Bíblia, a vida de Jesus (com particular destaque às teorias sobre Maria Madalena [carece de fontes]) e a paradoxal compatibilidade entre a existência de Deus e a existência do mal e do sofrimento são também questionadas[102]. Recentemente, a questão teológica da "unicidade e universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja [Católica]" [105] e a definição teológica de que a Igreja Católica é a única Igreja de Cristo [106] continuam a suscitar várias polémicas e desentendimentos [107]. Apesar destas duas crenças, a doutrina católica nunca negou a salvação aos não católicos.
Questões mais disciplinares da Igreja, como a hierarquia católica e o celibato clerical, e questões doutrinárias como o ensinamento de ser impossível conferir ordenação sacerdotal às mulheres, são também temas muito debatidos na atualidade[102]. Outras controvérsias que a Igreja está ou esteve metida incluem o mediático e atual caso do abuso sexual das crianças por padres[108], as históricas acções opressoras e violentas das Cruzadas e da Inquisição (que perseguiu os hereges, os judeus e alguns cientistas), o seu suposto envolvimento com os regimes não democráticos e as acções "desatinadas" de alguns missionários católicos durante o período colonial na África, na Ásia e na América [109].
A relação entre a Igreja e a Ciência não foi fácil e está recheada de controvérsias passadas e já resolvidas, como a questão da perseguição de certos cientistas e teorias (ex: os casos famosos de Galileu Galilei e do evolucionismo darwiniano). Apesar de a Igreja defender tanto a fé quanto a razão [109][110][111][112](por exemplo, a Igreja aceita a teorias do evolucionismo e do Big-bang, que aliás foi proposto pela primeira vez por um padre católico), a Igreja e os cientistas/filósofos seculares continuam a discordar em questões mais teológicas relacionadas com a infalibilidade papal e a autenticidade da Revelação divina contida nas Escrituras e na tradição oral; com a negação da existência de Deus e da alma (e da sua imortalidade); com os momentos exactos do princípio e do fim da vida humana; e com as implicações éticas da clonagem, da contracepção ou fertilização artificiais, da manipulação genética e das investigações científicas que matam embriões humanos [113][114].
Algumas das controvérsias já atualmente resolvidas foram, em parte, solucionadas através do reconhecimento por parte da Igreja Católica de que erros graves foram cometidos pelos seus membros. No Jubileu do ano 2000, o Papa João Paulo II pediu perdão por tais erros.[109]
Ver também
- Doutrina da Igreja Católica
- Teologia católica
- Igreja Católica e Ciência
- Catecismo da Igreja Católica
- Igreja Católica Apostólica Romana no mundo
- Colégio de Cardeais
- Concílio Vaticano II
- Cúria Romana
- Dogmas da Igreja Católica
- Dogmas e doutrinas marianas da Igreja Católica
- Doutrina Social da Igreja
- História da Igreja Católica Apostólica Romana
- Lista de papas
- Nunciatura apostólica
- Denominações cristãs
- Papa
- Santa Sé
- Vaticano
- Sucessão Apostólica
- Igrejas católicas não em comunhão com Roma
- Associação Patriótica Católica Chinesa
- Abuso sexual de menores por membros da Igreja Católica
Notas
↑ 1.114.966.000 seria o número total dos fiéis registrados no último dia de 2005[14]
↑ A Igreja alega que esta é a vontade de Cristo, seu fundador, que deseja "um só rebanho e um só Pastor" (Jn 10, 16; 17, 11. 20-23). Segundo a doutrina católica, Cristo é o "Deus verdadeiro" (Cf. Credo Niceno; Jn 1,1. 18; 5, 17-18; 10,33; 1Jn 5,20; Rm 9,5; Hch 20,28; Tit 2,13; Hb 1,5-9; Ap 1,18) que pode fundar validamente a sua Igreja (Sal 87). Assim, Jesus aparece como a "pedra angular" e "fundamental" sob a qual se funda a Igreja (Cf. 1Co 3,9-15; 1Ped 2,3-10) e cuja base é também constituída pelos apóstolos (Cf. Ef 2, 20-22) e especialmente por São Pedro (Cf. Mt 16, 16-19; Jn 1,42), que foi constituído Pastor universal da Igreja por vontade de Cristo (Cf. Jn 21,15-22; Lc 22, 28-32). Por sucessão apostólica, os Papas são os sucessores de São Pedro e merecem a obediência de todos os católicos, por ser o Vigário de Cristo na Terra. Isto somado à promessa de Cristo aos primeiros discípulos sobre uma constante assistência (Mt 28,20) e companhia do Espírito Santo (Cf. Jn 16, 7-15; 14,15-17. 26; 15,26; 1 Jn 2, 27) e à garantia que ele deu à Igreja de nunca ser vencida pelo mal (Mt 16,18), foi suficiente para que a Igreja Católica se proclame a si mesma como a "coluna e fundamento da Verdade" (1 Tm 3, 15), "Esposa de Cristo" (Ef 5, 24-30) e herdeira e depositária de toda a Verdade Evangélica revelada por Deus e legada pelos Apóstolos (Cf. 1 Co 11, 1-2; 1 Jn 2,24; 2 Ts 2,15; 1 Tm 6, 20-21; 2 Tm 1, 12-14; Flp 4, 8-9).
↑ Porém, nem todos os países e dioceses festejam e guardam estes dez dias de preceito, porque, "com a prévia aprovação da Sé Apostólica, [...] a Conferência Episcopal pode suprimir algumas das festas de preceito ou transferi-los para um domingo".[77] Além destes dez dias, existe também outras festas e solenidades (ex: Páscoa, Pentecostes, etc.) que são dias de preceito, porém elas calham sempre num domingo, que já é o dia semanal de preceito obrigatório.
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Ligações externas
- Wikiquote
- A Santa Sé
- Enciclopédia Católica Popular
- Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
- (em inglês) The Catholic Encyclopedia