NKVD
NKVD (russo: НКВД, Народный комиссариат внутренних дел, translit. Narodniy komissariat vnutrennikh diel; Português: Comissariado do povo para assuntos internos, foi o Ministério do Interior da URSS. Criado em 1934, o NKVD incorporou o GPU ou OGPU (Obiedinionnoye Gosudarstvennoye Politicheskoye Upravlenie, "Diretório Político Unificado do Estado"), transformado em GUGB (ГУГБ, Главное Управление Государства Безопасности, translit. Glavnoe Upravlenie Gosudarstva Bezopasnosti; Português: Administração Central da Segurança do Estado) e foi substituído pelo Ministerstvo Vnoutrennikh Diel (MVD), o Ministério do Interior.
Além de funções policiais e de segurança tradicionalmente atribuídas ao Ministério do Interior, como o controle de tráfego, corpo de bombeiros e a guarda das fronteiras, cabia ao NKVD controlar a economia e o serviço secreto, prestando contas ao Conselho de Comissários do Povo (órgão principal do governo soviético) e ao Comitê Central do Partido Comunista de Toda a União (bolchevique).
No âmbito do NKVD estabeleceu-se o Gulag (ГУЛАГ, Главное Управление Лагерей, translit. Glavnoie Upravlenie Lagerei; Português: "Administração Central dos Campos"), órgão responsável pelo sistema de campos penais de trabalho.
Índice
1 Atividades do NKVD
1.1 Atividades de inteligência
1.2 O NKVD e a economia soviética
2 Ver também
3 Referências
4 Ligações externas
Atividades do NKVD |
Entre as funções do NKVD, por meio de sua divisão chamada GUGB, estava proteger a segurança do Estado soviético. Esta função foi realizada com sucesso através da intensa repressão política na URSS.
As atividades de repressão e as execuções do NKVD tiveram como alvo desde os inimigos do Estado soviético até os prisioneiros do sistema Gulag, atingindo centenas de milhares de pessoas.[1] Formalmente, essas pessoas eram, na sua maioria, condenadas por cortes marciais especiais - as troikas. O uso "de meios físicos da persuasão" (tortura) foi aprovado por um decreto especial do estado, o que resultaria em numerosos abusos, relatados pelas vítimas e pelos próprios membros do NKVD. Existem evidências documentadas de que o NKVD cometeu execuções extrajudiciais em massa.[2] Em 17 de novembro de 1938 tais troikas foram proibidas por decisão conjunta do Conselho de Comissários do Povo e do Comitê Central do Partido Comunista de Toda a União (bolchevique).
O NKVD também executava operações em massa, que tinham como alvo grupos religiosos ou grupos étnicos inteiros - os judeus, a Igreja Ortodoxa Russa, os ortodoxos gregos, católicos latinos e demais cristãos perseguidos na URSS, muçulmanos e outros grupos religiosos.[3] O braço antirreligioso do governo soviético era dirigido por Yevgeny Tuchkov do OGPU.
Devido aos abusos na repressão, em 4 de fevereiro de 1940 Nikolai Yezhov (chefe do NKVD de 1936 a 1938 durante o Grande Expurgo) e seus assessores mais próximos foram executados.
Durante a Guerra Civil Espanhola, os agentes da NKVD, atuando conjuntamente com o Partido Comunista da Espanha, exerceram substancial controle sobre o governo republicano, usando a ajuda militar soviética para aumentar sua influência.[4][5] O NKVD estabeleceu numerosas prisões secretas em torno de Madrid, as quais foram usadas para deter, torturar, e matar centenas dos inimigos do NKVD.[6] No início o alvo eram os nacionalistas e católicos espanhóis. Mas, em junho de 1937, Andrés Nin, importante figura trotskista, pincipal dirigente do Partido Operário de Unificação Marxista foi torturado e morto em uma prisão da NKVD.[7][8]
Também houve cooperação entre elementos do NKVD e da Gestapo. Em março de 1940, eles se encontraram por uma semana em Zakopane, para coordenar a pacificação da Polônia. O NKVD entregou centenas de comunistas alemães e austríacos à Gestapo, entre outros estrangeiros indesejáveis.[9]
Durante a Segunda Guerra Mundial, as unidades de NKVD foram usadas para a segurança de fronteiras.[10] No território liberado, o NKVD e o NKGB realizaram apreensões, deportações, e execuções em massa.[11] Os alvos incluíram colaboradores da Alemanha e membros da resistência não-comunistas.[12] Existem evidências também de que o NKVD executou milhares de prisioneiros de guerra poloneses em 1941.[13][14]
O GUGB e a Divisão Estrangeira (Inostranny Otdel) organizaram o assassinato de cidadãos nacionais e estrangeiros considerados inimigos da URSS.[15] Entre as vítimas mais conhecidas estão:
Leon Trotsky, um inimigo político da ordem soviética e seu mais duro crítico internacional;
Boris Savinkov, revolucionário russo e terrorista;
Yevhen Konovalets, líder político e proeminente militar ucraniano;
Guy Leland, poeta subterrâneo (samizdat) anti-soviete francês;
A NKVD elaborou planos ousados como a ação para assassinar Adolf Hitler, caso ele e outras autoridades nazistas comparecessem a Moscou, se esta fosse tomada e, o resgate de Ramón Mercader, preso no México pelo assassinato de Trotsky.[16] Mas, tais planos, que contariam com a participação da espiã Anna Filonenko, não foram executados.[17]
A partir de 1956, sob o governo do novo líder soviético Nikita Khrushchev, milhares de vítimas da NKVD "foram reabilitados legalmente", isto é, foram absolvidas e tiveram seus direitos restaurados.
Atividades de inteligência |
- Estabelecimento de uma ampla rede de espionagem através do Comintern;
- Recrutamento de importantes funcionários do governo britânico como agentes, nos anos 1940, e penetração dos serviços de inteligência (MI6) e contra-informação (MI5);
- Obtenção de informações detalhadas sobre projetos de armas nucleares dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha;
- Desarticulação de vários complôs para assassinar Stalin.
O NKVD e a economia soviética |
O sistema extensivo de exploração do trabalho no Gulag deu uma contribuição notável à economia soviética e ao desenvolvimento de áreas remotas do país. A colonização da Sibéria, do norte e do extremo leste estava entre os objetivos estabelecidos nas primeiras leis a respeito dos campos de trabalho soviéticos. A mineração, a construção de rodovias, ferrovias, canais, barragens, fábricas, etc., dentre outras formas de exploração dos trabalhadores, eram parte do planeamento econômico soviético, e a NKVD teve suas próprias plantas de produção.
Muitos cientistas e coordenadores presos por crimes políticos foram colocados em prisões especiais, muito mais confortáveis do que o Gulag, conhecidos como sharashkas. Esses prisioneiros continuaram seu trabalho nestas prisões. Mais tarde, quando liberados, alguns deles transformaram-se em líderes na área de ciência e tecnologia, destacando-se Sergey Korolev, que concebeu o programa soviético do foguetes e planejou a primeira missão humana, no voo espacial de 1961, e Andrei Tupolev, projetista de aviões. Outros, como o geneticista Nikolai Vavilov, foram vítimas da repressão à pesquisa científica em certas áreas. Vavilov, reconhecido internacionalmente por seus estudos sobre plantas agrícolas, morreu de fome na prisão em 1943.[18][19]
Após a Segunda Guerra Mundial, o então MVD (fora do Gulag) coordenou o trabalho do armamento nuclear soviético, sob o comando do general Pavel Sudoplatov. Os cientistas não eram prisioneiros, mas o projeto foi supervisionado pelo MVD, em razão da sua grande importância e pela exigência da segurança e do sigilo absolutos. Também, o projeto usou a informação obtida pelo MVD dos Estados Unidos.
Ver também |
- Agência de Segurança do Estado da República de Bielorrússia
- Ivan Serov
- KGB
- Lavrenty Beria
- Nikolai Yezhov
- O Arquivo Mitrokhin
Referências
↑ Archie Brown; "The Rise & Fall of Communism"; pagina: 92
↑ Tzouliadis, Tim, The Forsaken: An American Tragedy in Stalin's Russia Penguin Press (2008), ISBN 1-59420-168-4
↑ Anne Applebaum; "Iron Curtain, The Crushing of Eastern Europe 1944 - 1956"; paginas 125 - 134
↑ Archie Brown; "The Rise & Fall of Communism"; paginas: 89 e 90
↑ Orwell, George. "Homage to Catalonia". New York: Harcourt, Brace, 1952. Print. Pg 53
↑ Augustin Souchy. «"The Tragic Week in May: the May Days Barcelona 1937"» (em inglês). libcom.org. Consultado em 13 dezembro 2012
↑ Courtois, Stéphane. "The Black Book of Communism: Crimes, Terror, Repression". [S.l.: s.n.] p. 340
↑ Wilebaldo Solano (1999). El POUM en la historia: Andreu Nin y la revolución española. [S.l.]: Los Libros de la Catarata. ISBN 9788483190593. Consultado em 21 de janeiro de 2013. Arquivado do original em 18 de setembro de 2011
↑ Applebaum, Anne (2012). Pinguin Book, ed. "Iron Curtain, The Crushing of Eastern Europe 1944 - 1956". Great Britain: [s.n.] 59 páginas. ISBN 978-1-846-14662-6
↑ Zaloga, Steven J. The Red Army of the Great Patriotic War, 1941-45, Osprey Publishing, (1989), pp. 21–22
↑ Anne Applebaum; "Iron Curtain, The Crushing of Eastern Europe 1944 - 1956"; pagina 99
↑ Anne Applebaum; "Iron Curtain, The Crushing of Eastern Europe 1944 - 1956"; paginas 101 e 102
↑ Anne Applebaum; "Iron Curtain, The Crushing of Eastern Europe 1944 - 1956"; pagina 96
↑ Brown, Archie (2010). Vinage, ed. "The Rise & Fall of Communism". Londres: [s.n.] p. 140. ISBN 9781845950675
↑ Barmine, Alexander, One Who Survived, New York: G.P. Putnam (1945), pp. 232–233
↑ Gazeta Russa - As espiãs que sabiam demais. Aleksandr Koroliov, 8 de Março de 2016. Acessado em 23/09/2016.
↑ Ages Mystery - Разведчики-нелегалы Михаил и Анна Филоненко ("Os agentes ilegais Mikhail e Anna Filonenko"). (em russo) Acessado em 23/09/2016.
↑ The Murder of Nikolai Vavilov: The Story of Stalin's Persecution of One of the Great Scientists of the Twentieth Century. Autor: Peter Pringle. Editora: Simon & Schuster, 2008, (em inglês). ISBN 9781416566021 Adicionado em 23/09/2016.
↑ Splendid Table - How Nikolay Vavilov, the seed collector who tried to end famine, died of starvation. (em inglês) Acessado em 23/09/2016.
Ligações externas |
- COURTOIS, Stéphane et al. O livro negro do comunismo Bertrand Brasil, 1999.