Bullying
Assédio Moral Infantojuvenil (AMI), Bulimento ou Bullying (IPA: [ˈbʊljɪŋ]) que é um anglicismo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, causando dor e angústia e sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder.[1]bullying é um problema mundial, sendo que a agressão física ou moral repetitiva deixa sequelas psicológicas na pessoa atingida.
O termo com esta definição foi proposto após o Massacre de Columbine, ocorrido nos Estados Unidos no ano de 1999, pelo pesquisador sueco Dan Olweus, a partir do gerúndio do verbo inglês to bully (que tem acepção de "tiranizar, oprimir, ameaçar ou amedrontar") para definir os valentões que, nas escolas, procuram intimidar os colegas que trata como inferiores.[2]
Embora o termo tenha seu uso bastante recente, o fenômeno é bastante antigo e encontra relatos na literatura que datam de mais de cem anos; a prática tem um grande poder de destruir a auto-estima da vítima, pois esta precisa permanecer no ambiente escolar e enfrentar todos os dias as humilhações diante de todos os colegas.[2]
Em 20 por cento dos casos, o praticante de bullying também é vítima. Nas escolas, a maioria dos atos de bullying ocorre fora da visão dos adultos e grande parte das vítimas não reage ou fala sobre a agressão sofrida.[3] Os ataques de bullying podem ocorrer também no espaço virtual. Ao propiciar o anonimato do agressor, a Internet acaba por vezes incentivando uma maior desinibição de conduta e ao desrespeito à ética,[4] tornando-se cenário de insultos, campanhas vexatórias, vazamento de imagens constrangedoras e outras práticas planejadas por um ou mais indivíduos com a intenção de atingir negativamente o outro.
Índice
1 Etimologia
2 Caracterização
2.1 Agressor
2.2 Vítimas
3 Tipos
3.1 Bullying professor–aluno
3.2 Alcunhas ou apelidos (dar nomes)
4 Locais de assédio
4.1 Escolas
4.2 Local de trabalho
4.3 Vizinhança
4.4 Política
4.5 Militar
5 Legislação
5.1 Condenações legais
6 Casos
6.1 Portugal
7 Bulicídio
7.1 Casos famosos de bulicídio
8 Ver também
9 Referências
10 Ligações externas
Etimologia
Na língua inglesa, bullying é um substantivo derivado do verbo bully, que significa "machucar ou ameaçar alguém mais fraco para forçá-lo a fazer algo que não quer".[5]
Devido ao fato de ser um fenômeno que só recentemente ganhou mais atenção, o assédio escolar ainda não possui um termo específico consensual,[6] sendo o termo em inglês bullying constantemente utilizado pela mídia de língua portuguesa. Existem, entretanto, alternativas como acossamento, ameaça, assédio e intimidação,[7] além dos mais informais judiar e implicar,[8] além de diversos outros termos utilizado pelos próprios estudantes em diversas regiões.
No Brasil, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa indica a palavra "bulir" como equivalente a "mexer com, tocar, causar incômodo ou apoquentar, produzir apreensão em, fazer caçoada, zombar e falar sobre, entre outros".[9] Por isso, são corretos os usos dos vocábulos derivados, também inventariados pelo dicionário, como bulimento (o ato ou efeito de bulir) e bulidor (aquele que pratica o bulimento).[9] Incluído na proposta de reforma no Código Penal brasileiro, foi tipificado primeiramente sob a denominação de "intimidação escolar" e depois preferiu-se "intimidação vexatória", por a escola não ser o único local de ocorrência.[10]
Caracterização
"Acossamento",[8] "intimidação" ou, entre falantes de língua inglesa, bullying, é um termo frequentemente usado para descrever uma forma de assédio executado por alguém que está, de alguma forma, em condições de exercer o seu poder sobre alguém ou sobre um grupo mais "fraco". O cientista sueco Dan Olweus, que trabalhou por muito tempo em Bergen, na Noruega, define assédio escolar em três termos essenciais:[11]
- o comportamento é agressivo e negativo;
- o comportamento é executado repetidamente;
- o comportamento ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.
O assédio escolar divide-se em duas categorias:
- assédio escolar direto;
- assédio escolar indireto, também conhecido como agressão social
O "bullying direto" é a forma mais comum entre os agressores (bullies) masculinos.
A "agressão social' ou "bullying indireto" é a forma mais comum em bullies do sexo feminino e crianças pequenas, e é caracterizada por forçar a vítima ao isolamento social. Este isolamento é obtido por meio de uma vasta variedade de técnicas, que incluem:
- espalhar comentários;
- recusa em se socializar com a vítima;
- intimidar outras pessoas que desejam se socializar com a vítima;
- ridicularizar o modo de vestir ou outros aspectos socialmente significativos (incluindo a etnia da vítima, religião, incapacidades etc).
O assédio pode ocorrer em situações envolvendo a escola ou faculdade/universidade, o local de trabalho, os vizinhos e até mesmo países. Qualquer que seja a situação, a estrutura de poder é tipicamente evidente entre o agressor (bully) e a vítima. Para aqueles fora do relacionamento, parece que o poder do agressor depende somente da percepção da vítima. Todavia, a vítima geralmente tem motivos para temer o agressor, devido às ameaças ou concretizações de violência física/sexual, ou perda dos meios de subsistência.
Deve-se encorajar os alunos a participarem ativamente da supervisão e intervenção dos atos de bullying, pois o enfrentamento da situação pelas testemunhas demonstra, aos autores do bullying, que eles não terão o apoio do grupo. Uma outra estratégia é a formação de grupos de apoio, que protegem os alvos e auxiliam na solução das situações de bullying. Alunos que buscam ajuda têm 75,9 por cento de probabilidade de reduzirem ou cessarem um caso de bullying.[3] Um estudo realizado na Suécia demonstrou que os alunos ainda não estão totalmente sensibilizados para esta questão. Enquanto 69 por cento dos entrevistados apontou o bully como culpado, 42 por cento apontou também culpa para a vítima, devido à sua "diferença", com uma maioria de rapazes nesta resposta.[12]
Os professores devem lidar e resolver efetivamente os casos de bullying, enquanto as escolas devem aperfeiçoar suas técnicas de intervenção e buscar a cooperação de outras instituições, como os centros de saúde, conselhos tutelares e redes de apoio social.[3]
Agressor
Pesquisas[14] indicam que adolescentes agressores têm personalidades autoritárias, combinadas com uma forte necessidade de controlar ou dominar. Também tem sido sugerido[15] que uma deficiência em habilidades sociais e um ponto de vista preconceituoso sobre subordinados podem ser particulares fatores de risco.
Estudos adicionais[16] têm mostrado que enquanto inveja e ressentimento podem ser motivos para a prática do assédio escolar, ao contrário da crença popular, há pouca evidência que sugira que os bullies (ou bulidores)[9] sofram de qualquer deficit de autoestima.[17] Outros pesquisadores também identificaram a rapidez em se enraivecer e usar a força, em acréscimo a comportamentos agressivos, o ato de encarar as ações de outros como hostis, a preocupação com a autoimagem e o empenho em ações obsessivas ou rígidas.[18]
É frequentemente sugerido que os comportamentos agressivos têm sua origem na infância:
"Se o comportamento agressivo não é desafiado na infância, há o risco de que ele se torne habitual. Realmente, há evidência documental que indica que a prática do assédio escolar durante a infância põe a criança em risco de comportamento criminoso e violência doméstica na idade adulta."
—[19]
O assédio escolar não envolve necessariamente criminalidade ou violência. Por exemplo, o assédio escolar frequentemente funciona por meio de abuso psicológico ou verbal.
Os bullies sempre existiram mas eram — e ainda são — chamados em português de rufias, esfola-caras, brigões, acossadores, cabriões, avassaladores, valentões e verdugos.
Os "valentões" costumam ser hostis, intolerantes e usar a força para resolver seus problemas.[20] Porém, eles também frequentemente foram vítimas de violência, maus-tratos, vulnerabilidade genética, falência escolar e experiências traumáticas.
Comportamentos autodestrutivos como consumo de álcool e drogas e correr riscos desnecessários são vistos com mais frequência entre os autores de bullying.[21]
Quanto mais sofrerem com violência e abusos, mais provável é eles repetirem esses comportamentos em sua vida diária e negligenciarem seu próprio bem-estar.[22]
Vítimas
Sinais e sintomas possíveis de serem observados em alunos alvos de bullying:[3]
enurese noturna (urinar na cama);
distúrbios do sono (como insônia);
problemas de estômago;- dores e marcas de ferimentos;
síndrome do intestino irritável;
transtornos alimentares;- isolamento social/ poucos ou nenhum amigo;
- tentativas de suicídio;
- irritabilidade/agressividade;
transtornos de ansiedade;
depressão maior;- relatos de medo regulares;
- resistência/aversão a ir à escola;
- demonstrações constantes de tristeza;
- mau rendimento escolar;
- atos deliberados de autoagressão.
Tipos
Os bullies usam principalmente uma combinação de intimidação e humilhação para atormentar os outros. Alguns exemplos das técnicas de assédio escolar:
insultar a vítima;- acusar sistematicamente a vítima de não servir para nada;
- ataques físicos repetidos contra uma pessoa, seja contra o corpo dela ou propriedade.
- interferir com a propriedade pessoal de uma pessoa, livros ou material escolar, roupas, etc, danificando-os.
- espalhar rumores negativos sobre a vítima;
- depreciar a vítima sem qualquer motivo;
- fazer com que a vítima faça o que ela não quer, ameaçando-a para seguir as ordens;
- colocar a vítima em situação problemática com alguém (geralmente, uma autoridade), ou conseguir uma ação disciplinar contra a vítima, por algo que ela não cometeu ou que foi exagerado pelo bully;
- fazer comentários depreciativos sobre a família de uma pessoa (particularmente a mãe), sobre o local de moradia de alguém, aparência pessoal, orientação sexual, religião, etnia, nível de renda, nacionalidade ou qualquer outra inferioridade depreendida da qual o bully tenha tomado ciência;
- isolamento social da vítima;
- usar as tecnologias de informação para praticar o cyberbullying (criar páginas falsas, comunidades ou perfis sobre a vítima em sites de relacionamento com publicação de fotos etc);
chantagem.- expressões ameaçadoras;
- grafitagem depreciativa;
- usar de sarcasmo evidente para se passar por amigo (para alguém de fora) enquanto assegura o controle e a posição em relação à vítima (isto ocorre com frequência logo após o bully avaliar que a pessoa é uma "vítima perfeita");
- fazer que a vítima passe vergonha na frente de várias pessoas.
Bullying professor–aluno
O assédio escolar pode ser praticado de um professor para um aluno.[25][26][27][28][29][30] As técnicas mais comuns são:
- intimidar o aluno em voz alta rebaixando-o perante a classe e ofendendo sua autoestima. Uma forma mais cruel e severa é manipular a classe contra um único aluno o expondo a humilhação;
- assumir um critério mais rigoroso na correção de provas com o aluno e não com os demais. Alguns professores podem perseguir alunos com notas baixas;
- ameaçar o aluno de reprovação;
- negar ao aluno o direito de ir ao banheiro ou beber água, expondo-o a tortura psicológica;
- difamar o aluno no conselho de professores, aos coordenadores e acusá-lo de atos que não cometeu;
- tortura física, mais comum em crianças pequenas; puxões de orelha, tapas e cascudos.
Tais atos violam o Estatuto da Criança e do Adolescente e podem ser denunciados em um Boletim de Ocorrência numa delegacia ou no Ministério Público. A revisão de provas pode ser requerida ao pedagogo ou coordenador e, em caso de recusa, por medida judicial.
Alcunhas ou apelidos (dar nomes)
Normalmente, uma alcunha (apelido) é dada a alguém por um amigo, devido a uma característica "única" dele. Em alguns casos, a alcunha é feita em função de uma característica que a vítima não quer que seja notada, tal como uma orelha grande ou uma forma diferenciada de alguma parte do corpo. Em casos extremos, professores podem ajudar a popularizá-la, mas isto é geralmente percebido como inofensivo ou a agressão é sutil demais para ser reconhecida. Há uma discussão sobre se é pior que a vítima conheça ou não o nome pelo qual é chamada. Todavia, uma alcunha pode, por vezes, tornar-se tão embaraçosa que a vítima terá de se mudar (de escola, de residência ou de ambos).
Locais de assédio
O assédio pode acontecer em qualquer contexto no qual seres humanos interajam, tais como escolas, universidades, famílias, entre vizinhos e em locais de trabalho.
Escolas
Em escolas, o assédio escolar geralmente ocorre em áreas com supervisão adulta mínima ou inexistente. Ele pode acontecer em praticamente qualquer parte, dentro ou fora do prédio da escola.[31][32] Segundo pesquisas,[33] os locais nos quais mais ocorrem no ambiente escolar são, nessa ordem: salas, recreios, entradas e saídas.
Alguns sinais são comuns como a recusa da criança de ir à escola ao alegar "sintomas" como dor de barriga ou apresentar irritação, nervosismo ou tristeza anormais.[20]
Um caso extremo de assédio escolar no pátio da escola foi o de um aluno do oitavo ano chamado Curtis Taylor, numa escola secundária em Iowa, nos Estados Unidos, que foi vítima de assédio escolar contínuo por três anos, o que incluía alcunhas jocosas, ser espancado num vestiário, ter a camisa suja com leite achocolatado e os pertences vandalizados. Tudo isso acabou por o levar ao suicídio em 21 de Março de 1993. Alguns especialistas em bullies denominaram essa reação extrema de "bullycídio".
Os que sofrem bullying acabam desenvolvendo problemas psíquicos muitas vezes irreversíveis, que podem até levar a atitudes extremas como a que ocorreu com Jeremy Wade Delle. Jeremy se matou em 8 de janeiro de 1991, aos 15 anos de idade, numa escola na cidade de Dallas, no Texas, nos Estados Unidos, dentro da sala de aula e em frente de 30 colegas e da professora de inglês, como forma de protesto pelos atos de perseguição que sofria constantemente. Esta história inspirou a música Jeremy, interpretada por Eddie Vedder, vocalista da banda estadunidense Pearl Jam.
Na década de 1990, os Estados Unidos viveram uma epidemia de tiroteios em escolas (dos quais o mais notório foi o massacre de Columbine). Muitas das crianças por trás destes tiroteios afirmavam serem vítimas de bullies e que somente haviam recorrido à violência depois que a administração da escola havia falhado repetidamente em intervir. Em muitos destes casos, as vítimas dos atiradores processaram tanto as famílias dos atiradores quanto as escolas.
No Brasil, em 7 de abril de 2011, a tragédia ocorrida na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo,[34] ganhou grande notoriedade ao demonstrar que um desdobramento trágico a partir do bullying não é uma exclusividade dos Estados Unidos. Na mente do assassino Wellington de Oliveira, a culpa pelas mortes foi dos bulidores, como fica muito bem demonstrado em suas palavras escritas na véspera: "Muitas vezes aconteceu comigo de ser agredido por um grupo e todos os que estavam por perto se divertiam com as humilhações que eu sofria, sem se importar com os meus sentimentos. Embora meus dedos sejam responsáveis por puxar o gatilho, essas pessoas são responsáveis por todas estas mortes, inclusive a minha".[33][35]
Como resultado destas tendências, escolas em muitos países passaram a desencorajar fortemente a prática do assédio escolar, com programas projetados para promover a cooperação entre os estudantes, bem como o treinamento de alunos como moderadores para intervir na resolução de disputas, configurando uma forma de apoio por parte dos colegas.
O assédio escolar nas escolas pode também assumir, por exemplo, a forma de avaliações abaixo da média, não retorno das tarefas escolares, segregação de estudantes competentes por professores incompetentes ou não atuantes, para proteger a reputação de uma instituição de ensino. Isto é feito para que seus programas e códigos internos de conduta nunca sejam questionados, e que os pais (que geralmente pagam as taxas) sejam levados a acreditar que seus filhos são incapazes de lidar com o curso. Tipicamente, estas atitudes servem para criar a política não escrita de "se você é estúpido, não merece ter respostas; se você não é bom, nós não te queremos aqui". Frequentemente, tais instituições (geralmente em países asiáticos) operam um programa de franquia com instituições estrangeiras (quase sempre ocidentais), com uma cláusula de que os parceiros estrangeiros não opinam quanto a avaliação local ou códigos de conduta do pessoal no local contratante. Isto serve para criar uma classe de "tolos educados", pessoas com títulos acadêmicos que não aprenderam a adaptar-se a situações e a criar soluções fazendo as perguntas certas e resolvendo problemas.
Local de trabalho
O assédio escolar em locais de trabalho (algumas vezes chamado de Assédio escolar Adulto) é descrito pelo Congresso Sindical do Reino Unido[36] como:
Um problema sério que muito frequentemente as pessoas pensam que seja apenas um problema ocasional entre indivíduos. Mas o assédio escolar é mais do que um ataque ocasional de raiva ou briga. É uma intimidação regular e persistente que solapa a integridade e confiança da vítima do bully. E é frequentemente aceita ou mesmo encorajada como parte da cultura da organização.
Vizinhança
Entre vizinhos, o assédio escolar normalmente toma a forma de intimidação por comportamento inconveniente, tais como barulho excessivo para perturbar o sono e os padrões de vida normais ou fazer queixa às autoridades (tais como a polícia) por incidentes menores ou forjados. O propósito desta forma de comportamento é fazer com que a vítima fique tão desconfortável que acabe por se mudar da propriedade. Nem todo comportamento inconveniente pode ser caracterizado como assédio escolar: a falta de sensibilidade pode ser uma explicação.
Política
O assédio entre países ocorre quando um país decide impor sua vontade a outro. Isto é feito, normalmente, com o uso de força militar, ou com a ameaça de que ajuda e doações não serão entregues a um país. Também é frequente um país mais poderoso não permitir que um país menor se associe a uma organização de comércio.
Militar
Em 2000, o Ministério da Defesa (MOD) do Reino Unido definiu o assédio como: "... o uso de força física ou abuso de autoridade para intimidar ou vitimizar outros, ou para infligir castigos ilícitos".[37] Todavia, é afirmado que o assédio militar ainda está protegido contra investigações abertas. O caso das Deepcut Barracks, no Reino Unido, é um exemplo do governo se recusar a conduzir um inquérito público completo quanto a uma possível prática de assédio escolar militar.
Alguns argumentam que tal comportamento deveria ser permitido por causa de um consenso acadêmico generalizado de que os soldados são diferentes dos outros postos. Dos soldados, se espera que estejam preparados para arriscarem suas vidas, e alguns acreditam que o seu treinamento deveria desenvolver o espírito de corpo para aceitar isto.[38]
Em alguns países, rituais humilhantes entre os recrutas têm sido tolerados e mesmo exaltados como um "rito de passagem" que constrói o caráter e a resistência; enquanto em outros, o assédio sistemático dos postos inferiores, jovens ou recrutas mais fracos pode, na verdade, ser encorajado pela política militar, seja tacitamente ou abertamente (veja dedovschina). Também, as forças armadas russas geralmente fazem com que candidatos mais velhos ou mais experientes abusem — com socos e pontapés — dos soldados mais fracos e menos experientes.[39]
Legislação
No Brasil, o ato pode levar os jovens infratores à aplicação de medidas socioeducativas.[20] De acordo com o código penal brasileiro, a negligência com um crime pode ser tida como uma coautoria.[20] Na área cível, e os pais dos bullies podem, pois, ser obrigados a pagar indenizações e pode haver processos por danos morais.[20] Um das referências sobre o assunto, no Brasil, é um artigo escrito pelo ministro Marco Aurélio Mello, intitulado "Bullying — aspectos jurídicos".[9]
A legislação jurídica do estado brasileiro de São Paulo define "assédio escolar" como "atitudes de violência física ou psicológica que ocorrem sem motivação evidente, praticadas contra pessoas com o objetivo de intimidá-las ou agredi-las, causando dor e angústia".[40]
Os atos de assédio escolar configuram atos ilícitos, não porque não estão autorizados pelo ordenamento jurídico brasileiro, mas por desrespeitarem princípios constitucionais (exemplo: dignidade da pessoa humana) e o Código Civil Brasileiro, que determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar. A responsabilidade pela prática de atos de assédio escolar pode se enquadrar também no Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço aos consumidores e são responsáveis por atos de assédio escolar que ocorram nesse contexto.[41]
No estado brasileiro do Rio de Janeiro, uma lei estadual sancionada em 23 de setembro de 2010 institui a obrigatoriedade de escolas públicas e particulares notificarem casos de bullying à polícia.[42] Em caso de descumprimento, a multa pode ser de três a 20 salários mínimos (até 10 200 reais) para as instituições de ensino.[42]
Na cidade brasileira de Curitiba, todas as escolas têm de registrar os casos de bullying em um livro de ocorrências, detalhando a agressão, o nome dos envolvidos e as providências adotadas.[7]
Condenações legais
Dado que a cobertura da mídia tem exposto o quão disseminada é a prática do assédio escolar, os júris estão agora mais inclinados do que nunca a se simpatizarem com as vítimas. Em anos recentes, muitas vítimas têm movido ações judiciais diretamente contra os agressores por "imposição intencional de sofrimento emocional" e incluindo suas escolas como acusadas, sob o princípio da responsabilidade conjunta. Vítimas norte-americanas e suas famílias têm outros recursos legais, tais como processar uma escola ou professor por falta de supervisão adequada, violação dos direitos civis, discriminação racial ou de gênero ou assédio moral.
No Brasil, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística realizada em 2009 revelou que quase um terço (30,8 por cento) dos estudantes brasileiros informou já ter sofrido bullying, sendo maioria das vítimas do sexo masculino. A maior proporção de ocorrências foi registrada em escolas privadas (35,9 por cento), ao passo que, nas públicas, os casos atingiram 29,5 por cento dos estudantes.[43] Outra pesquisa no país realizada em 2010 com 5 168 alunos de 25 escolas públicas e particulares revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns em alunos da 5ª e 6ª séries. Entre todos os entrevistados, pelo menos 17 por cento estão envolvidos com o problema - seja intimidando alguém, sendo intimidados ou os dois. A forma mais comum é a cibernética, a partir do envio de e-mails ofensivos e difamatórios em sites de relacionamento como o Orkut.[44]
Em 2009, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontou as cidades de Brasília e Belo Horizonte como as capitais brasileiras com maiores índices de assédio escolar, com 35,6 e 35,3 por cento, respectivamente, de alunos que declararam esse tipo de violência nos últimos 30 dias.[45]
Casos
- Austrália
- Ammy "Dolly" Everett se suicidou em janeiro de 2018 após ser vítima de bullying, na Austrália.[46] Ela ficou famosa durante uma campanha de Natal da empresa Akura, famosa por produzir chapéus típicos. O pai, Tick Everett, contou que Amy tirou a vida "para escapar da maldade deste mundo".[47] Ele não deu detalhes sobre as agressões que a filha sofria, mas fez um texto no Facebook em que convida os responsáveis a irem ao funeral da garota para presenciar a "devastação provocada".[48][49]
- Brasil
- Na Grande São Paulo, uma menina apanhou até desmaiar por colegas que a perseguiam[50] e, em Porto Alegre, um jovem foi morto com arma de fogo durante um longo processo de assédio escolar.[51]
- Em maio de 2010, a Justiça obrigou os pais de um aluno do Colégio Santa Doroteia, no bairro Sion de Belo Horizonte, a pagar uma indenização de 8 mil reais a uma garota de 15 anos por conta de assédio escolar.[52] A estudante foi classificada como "G.E." (sigla para integrantes de "grupo de excluídos") por ser supostamente feia: as insinuações se tornaram frequentes com o passar do tempo, e entre elas, ficaram as alcunhas de "tábua", "prostituta", "sem peito" e "sem bunda".[53][54] Os pais da menina alegaram que procuraram a escola, mas não conseguiram resolver a questão.[55][56] O juiz relatou que as atitudes do adolescente acusado pareciam não ter "limite" e que ele "prosseguiu em suas atitudes inconvenientes de 'intimidar'", o que deixou a vítima, segundo a psicóloga que depôs no caso, "triste, estressada e emocionalmente debilitada".[57] O colégio de classe média alta não foi responsabilizado.[57]
- Na Universidade de São Paulo, o jornal estudantil "O Parasita" ofereceu um convite a uma "festa brega" aos estudantes do curso que, em troca, jogassem fezes em um gay.[58][59] Um dos alunos a quem o jornal faz referência chegou a divulgar, em outra ocasião, que estudantes de farmácia chegaram a atirar uma lata de cerveja cheia em um casal de homossexuais, que também era do curso, durante o tradicional happy hour de quinta-feira na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Ele disse que não pretende tomar nenhuma providência judicial contra os colegas, embora tenha ficado revoltado com a publicação da cartilha.[59]
- Também em junho de 2010, um aluno de nona série do Colégio Neusa Rocha, no Bairro São Luiz, na região da Pampulha de Belo Horizonte, foi espancado na saída de seu colégio, com a ajuda de mais seis estudantes armados com soco inglês.[60] A vítima ficou sabendo que o grupo iria atacar outro colega por ele ser "folgado e atrevido", sendo inclusive convidada a participar da agressão.[60]
- Durante o ano de 2010, Bárbara Evans, filha de Monique Evans e estudante da Universidade Anhembi Morumbi (onde cursava o primeiro ano de nutrição), em São Paulo, entrou na Justiça com um processo de assédio escolar realizado por seus colegas.[61] No dia 12 de junho de 2010, um sábado à noite, o muro externo do estacionamento do campus Centro da referida universidade foi pichado com ofensas a ela e a sua mãe.[62]
- Em recente caso julgado no Rio Grande do Sul (Processo nº 70031750094 da 6ª Câmara Cível do TJRS), a mãe do bullie foi condenada civilmente a pagar indenização no valor de 5 mil reais à vítima. Foi um legítimo caso de cyberbullying, já que o dano foi causado por meio da Internet, em fotolog (flog) hospedado pelo Portal Terra. No caso, o portal não foi responsabilizado, pois retirou as informações do ar em uma semana. Não ficou claro, entretanto, se foi uma semana após ser avisado informalmente ou após ser judicialmente notificado.[63]
- Alguns casos de assédio escolar entre crianças têm anuência dos próprios pais, como um envolvendo um garoto de 9 anos de Petrópolis. A mãe resolveu tirar satisfação com a criança que constantemente agredia seu filho na escola e na rua, mas o pai do outro garoto, em resposta, procurou a mãe do outro garoto chamado de "boiola" e "magrelo". Ela foi empurrada em uma galeria, atingida no rosto, jogada no chão e ainda teve uma costela fraturada. O caso, registrado em um vídeo, foi veiculado na internet e ganhou os principais jornais e telejornais brasileiros.[64][65]
- Em 2011, a 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro condenou uma escola privada a pagar indenização a uma vítima de bullying.[66]
- Em 2011, o Massacre de Realengo, no qual 12 crianças morreram alvejadas por tiros, foi atribuído, por ex-estudantes da escola e ex-colegas do atirador, a uma vingança por bullying.[67] O atirador, que se suicidou durante a tragédia, também citou o bullying como a motivação para o crime nos vídeos recuperados pela polícia durante as investigações.[68][69]
- Um garoto de Campo Grande do oitavo ano de ensino fundamental foi obrigado por outro garoto a passar por diversas situações vexatórias, como fazer atividades escolares e pagar lanches para ele na escola para ser poupado de agressões físicas.[70][71] O caso avançou para a extorsão de dinheiro, causando, à vítima, a subtração de cerca de 500 reais em em ano.[70] O caso foi parar na 27º Promotoria da Infância e Juventude do município, que apurou, por meio de ligações telefônicas, que realmente ocorria a extorsão. Um flagrante feito pela polícia quando o garoto daria mais 50 reais ao agressor.[70] Penalizado, o garoto foi submetido a ações previstas no programa contra violência e evasão escolar, o Procese, em desenvolvimento no município há dois anos. O valor subtraído foi pago pela mãe do agressor aos pais do garoto agredido.[70] O bullie de 13 anos foi obrigado pela promotoria a levar os pratos utilizados durante a merenda e a lavar o pátio escolar durante 3 meses, além de poder ter de frequentar um curso sobre bullying.[70]
- Também em fevereiro de 2012, pais de duas adolescentes de Ponta Grossa, no Paraná, foram condenados pela Justiça após uma denúncia de cyberbullying, cometida pelas filhas, a pagar 15 mil reais de indenização por danos morais para a família da vítima.[72] Duas colegas de sala da vítima teriam conseguido a senha de uma página de relacionamentos na internet e violaram a conta da adolescente, postando mensagens pornográficas e alterando a fotografia do perfil.[72] Após postar as mensagens, as autoras ainda cancelaram a senha da vítima, o que impediu que ela soubesse o que estava acontecendo.[73]
- Em 2013, Alexandre Esteves dos Santos, aluno da "Escola Estadual Efigênia de Jesus Werneck", em Santa Luzia, atirou em dois colegas.[74][75] Em depoimento à polícia afirmou ser vítima de bullying.[76][77][78]
- Na manhã da sexta-feira do dia 20 de outubro de 2017, no Colégio Goyases, em Goiânia, um aluno vítima de bullying abriu fogo contra os colegas, matando dois e ferindo quatro.[79][80][81] Ele cursava o oitavo ano e era filho de policiais militares,[82][83][84] e foi contido pelos colegas e pela coordenadora quando parou para recarregar a arma.[85][79] O Governo de Goiás decretou luto oficial por três dias.[86][87] Os pais dos alunos fizeram vigília durante a noite em frente ao colégio onde houve atentado.[88] O Ministério Público do Estado de Goiás recomendou na tarde do sábado 21 de outubro a internação provisória por 45 dias do autor dos disparos, e horas depois, a juíza plantonista Mônica Cézar Moreno Senhorello acatou o pedido.[89]
- Em Várzea Paulista, na noite do dia 18 de dezembro de 2017, um menino de 12 anos foi assassinado a pauladas por uma criança de 9.[90][91] Segundo o delegado Marcel Fehr, a vítima provocava constantemente o menino, que é estrábico, chamando-o de "galo cego" e "caolho".[92][93] A vítima ainda chegou a ser socorrida ao Hospital Universitário de Jundiaí, mas não resistiu aos ferimentos.[94][95]
- Estados Unidos
- Em 27 de fevereiro de 2008, um jovem que dizia estar sofrendo bullying abriu fogo em uma escola de Ohio.[96] Pelo menos três estudantes morreram.[97][98]
- Em 2013, Hannah Smith se suicidou após ser vítima de cyberbullying.[99][100][101]
Portugal
- Em 9 de Fevereiro de 2010, Luís Carmo, professor de Música, de 51 anos de idade, numa escola de Fitares, parou o carro na Ponte 25 de Abril e suicidou-se atirando-se ao rio. O professor era alvo de vários abusos por parte dos alunos. A escola foi acusada de nada ter feito para punir os responsáveis, apesar de várias queixas.[102]
Bulicídio
Ver artigo principal: Bulicídio
Bulicídio é uma palavra-valise atribuída à morte de uma pessoa devido ao bullying ou cyberbullying, seja ela um suicídio ou assassínio.[103][104][105]
O termo foi primeiramente utilizado em 2001 por Neil Marr e Tim Field no livro Bullycide: Death at Playtime.[106][107]
Casos famosos de bulicídio
- Amanda Todd
- Eric Harris e Dylan Klebold
- Megan Meier
- Phoebe Prince
- Seung-Hui Cho
- Tyler Clementi
- Rehtaeh Parsons
- Ryan Patrick Halligan
- Wellington Menezes de Oliveira
- Ammy 'Dolly' Everett[108][109][110][111]
- Hannah Smith[112]
- Bethany Thompson[113][114][115][116]
Ver também
- Assédio moral
- Assédio sexual
- Abuso de poder
Bullying, filme de 2009- Bulicídio
- Cyberbullying
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↑ 11-year-old brain cancer survivor kills herself after being 'bullied over appearance'
↑ Cancer survivor, 11, ‘shot herself because she was bullied about her uneven grin caused by tumour surgery’
↑ Niña sobreviviente de cáncer cerebral, se suicida por el bullying
Ligações externas
- Commons
- Wikiquote
- Serviço comunicAÇÃO do Programa Diga Não ao Bullying que fornece notícias sobre o bullying por meio do Twitter
Bullying: é preciso levar a sério ao primeiro sinal
Cyberbullying: a violência virtual- Tudo sobre Bullying
- Cartilha "Bullying não é brincadeira", produzida pelo Ministério Público do Estado da Paraíba.
- 1º parte do episódio Assédio escolar do Almanaque Educação, da TV Cultura