Delação premiada
Delação premiada (expressão coloquial para colaboração premiada), na legislação brasileira, é um benefício legal concedido a um réu em uma ação penal que aceite colaborar na investigação criminal ou entregar seus comparsas. Esse benefício é previsto em diversas leis brasileiras: Código Penal, Leis n° 8.072/90 – Crimes hediondos e equiparados, 9.034/95 – Organizações criminosas, 7.492/86 – Crimes contra o sistema financeiro nacional, 8.137/90 – Crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo, 9.613/98 – Lavagem de dinheiro, 9.807/99 – Proteção a testemunhas, 8.884/94 – Infrações contra a ordem econômica e 11.343/06 – Drogas e afins.[1]
Índice
1 Tornando-se um delator
2 Benefícios aos delatores
3 Utilização em organização criminosa
4 Pontos positivos da delação
4.1 Valores recuperados da corrupção
4.2 Meio de vencer pactos de silêncio entre criminosos
5 Pontos negativos da delação
5.1 Semelhança com a tortura
6 Intermediada pela Polícia Federal
7 Ver também
8 Referências
Tornando-se um delator |
A Lei de Organizações Criminosas (Lei 12.850/2013) define que, para aquele que contribuir efetiva e voluntariamente com a investigação ou processo, o juiz poderá conceder perdão judicial, reduzir a pena de prisão em até dois terços ou substituir por pena restritiva de direitos.[2]
Assim, para que um réu se torne um delator e goze dos benefícios que a lei lhe oferece, o primeiro passo é manifestar oficialmente o interesse em fazer o acordo. Depois, na presença de advogados e procuradores, o réu revela o que tem para delatar. Se o processo avançar, as partes assinam um termo de confidencialidade para evitar vazamentos.[3]
Só depois que a delação for homologada pela Justiça é que as informações poderão ser usadas nas investigações. Junto com os depoimentos, o delator tem que apresentar provas e documentos. Em troca, recebe uma pena mais leve.[3] Especialistas no assunto defendem que a decisão de tornar-se um delator precisa partir voluntariamente do investigado.[2]
Segundo a legislação, a colaboração deve resultar em pelo menos um desses aspectos[2]:
- identificação de outros autores do crime ou membros da organização criminosa;
- revelação da estrutura hierárquica da organização criminosa;
- prevenção de infrações penais decorrentes da atividade criminosa;
- recuperação parcial ou total dos produtos das infrações;
- localização de vítima com integridade física preservada.
Benefícios aos delatores |
A delação premiada pode beneficiar o acusado com:[4][5]
- diminuição da pena de 1/3 (33,3%) a 2/3 (66,6%);
- cumprimento da pena em regime semiaberto;
- extinção da pena;
- perdão judicial.
Utilização em organização criminosa |
Em 2013, a então presidente da república Dilma Rousseff homologou a lei de colaboração premiada para utilização em crime de organização criminosa, na lei 12.850/13.[6][7]
Pontos positivos da delação |
Valores recuperados da corrupção |
Em dois anos, a Operação Lava Jato recuperou mais de 4 bilhões de reais desviados pela corrupção[8][9]. A investigação só avançou até esse ponto em razão das informações obtidas junto às comprovações nos termos das delações premiadas. Em troca de informações, vários delatores conseguiram o benefício da prisão domiciliar.[10]
Meio de vencer pactos de silêncio entre criminosos |
O juiz federal responsável pela primeira sentença do mensalão, Alexandre Sampaio, afirmou que a delação é um instrumento "estritamente regulado em lei" e fundamental para "vencer pactos de silêncio estabelecidos entre criminosos", e disse também que alterar a delação premiada irá "dificultar o acesso da Justiça aos altos escalões das organizações criminosas".[11]
Pontos negativos da delação |
Semelhança com a tortura |
Críticos da delação premiada argumentam que, ao efetuar uma prisão preventiva e condicionar a liberdade do preso a sua delação premiada, a instituição da delação premiada assemelha-se à tortura.[12][13][14]
Intermediada pela Polícia Federal |
Em junho de 2018, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) homologou a delação de Antonio Palocci, no âmbito da Operação Lava Jato. O acordo foi homologado pelo desembargador federal João Pedro Gebran Neto.[15][16][17] Anteriormente, os acordos de colaboração foram intermediados pelo Ministério Público Federal e pela Procuradoria-Geral da República.[18]
Ver também |
- Acordos de delação premiada na Operação Lava Jato
- Delações da JBS na Operação Lava Jato
- Delações da Odebrecht na Operação Lava Jato
Pentito, o equivalente na Itália
Referências
↑ Marcella Sanguinetti Soares Mendes. «A delação premiada com o advento na Lei 9.807/99». ambito-juridico.com.br. Consultado em 7 de julho de 2015
↑ abc gazetadopovo.com.br/ Como se tornar delator?
↑ ab g1.globo.com/ Em depoimento a Moro, Palocci deixa claro que sabe mais e quer falar
↑ Rodrigo Murad do Prado (23 de dezembro de 2013). «A delação "premiada" e as recentes modificações oriundas da Lei 12.850/13». DireitoNet. Consultado em 7 de julho de 2015
↑ Nathalia Passarinho (23 de setembro de 2014). «Tire dúvidas sobre delação premiada». G1. Consultado em 7 de julho de 2015
↑ «LEI Nº 12.850, DE 2 DE AGOSTO DE 2013.». Planalto. 2 de agosto de 2013. Consultado em 15 de março de 2016
↑ Carlos Madeiro (4 de março de 2016). «Criada por Dilma, lei da delação permite apurar denúncia de Delcídio». Uol. Consultado em 25 de outubro de 2017
↑ «Lava Jato já recuperou mais de R$ 4 bilhões, afirma Rodrigo Janot». iG. 16 de março de 2016. Consultado em 25 de março de 2016
↑ «MPF congelou equivalente a R$ 4,2 bilhões desviados da Petrobras, diz Janot em Paris». Época Negócios. 16 de março de 2016. Consultado em 25 de março de 2016
↑ Fantástico (14 de março de 2016). «Operação Lava Jato já recuperou quase R$ 3 bilhões em dois anos». G1. Consultado em 15 de março de 2016
↑ Thiago Guimarães (31 de maio de 2016). «Delação premiada é chave para combater 'pacto de silêncio entre criminosos', diz juiz do mensalão». BBC. Consultado em 31 de maio de 2016
↑ Jusbrasil. Disponível em https://portal-justificando.jusbrasil.com.br/noticias/320955281/aceitar-a-delacao-premiada-como-prova-legaliza-a-tortura-cometida-por-juizes. Acesso em 26 de outubro de 2017.
↑ Jusbrasil. Disponível em https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/317089196/delacao-premiada-voluntaria-ou-tortura-autorizada. Acesso em 26 de outubro de 2017.
↑ Forum. Disponível em https://www.revistaforum.com.br/rodrigovianna/plenos-poderes/pedro-serrano-sobre-lava-jato-delacao-premiada-e-confissao-sob-tortura-psicologica/. Acesso em 26 de outubro de 2017.
↑ «TRF-4 homologa delação do ex-ministro Antonio Palocci à Polícia Federal». G1. Globo.com. 22 e junho de 2018. Consultado em 1 de julho de 2018 Verifique data em:|data=
(ajuda)
↑ «Delação de Antonio Palocci é homologada no TRF-4». Correio Braziliense. 22 de junho de 2018. Consultado em 1 de julho de 2018
↑ «Justiça homologa delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci». Gazeta do Povo. 22 de junho de 2018. Consultado em 1 de julho de 2018
↑ «Quem pode fazer delação premiada? Após 4 anos de trabalho conjunto, PF e MPF não têm consenso». Gazeta do Povo. Consultado em 1 de julho de 2018