Sertão nordestino
Nota: Para regiões longe das grandes cidades, veja Sertania.
Nota: "Sertões" redireciona para este artigo. Para outros significados, veja Sertão (desambiguação). Para o livro de Euclides da Cunha, veja Os Sertões.
Nota: Sertanejo redireciona para este artigo. Para outros significados, veja Sertanejo (desambiguação).
O sertão nordestino, também conhecido como sertão, é uma das quatro sub-regiões da Região Nordeste do Brasil, sendo a maior delas em área territorial. Estende-se pelos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Ao contrário dos demais semidesertos do mundo, o sertão não margeia um grande deserto, mas sim zonas úmidas. Isso explica suas peculiaridades biomáticas e sua atipicidade demográfica.[1] Compreende as áreas dominadas pelo clima tropical semiárido (quente e seco),[2] apresentando temperaturas médias elevadas, entre 25 ºC e 30 °C (ultrapassando os 42 ºC nos dias mais quentes somente no Raso da Catarina na Bahia e no centro-sul do Piauí) e duas estações bem definidas: uma chuvosa e outra seca. As chuvas concentram-se em apenas três ou quatro meses do ano, e pluviosidade no Sertão atinge a média de 750 milímetros anuais, sendo que em algumas áreas chove menos de 500 milímetros ao ano.[2]
Índice
1 História
2 Geografia
2.1 Clima
2.1.1 Polígono das Secas
2.2 Caatinga
3 Demografia
3.1 Centros urbanos
3.2 Regiões metropolitanas
4 Cultura
5 Cronologia
6 Notas
7 Referências
8 Ver também
9 Ligações externas
História |
Há duas versões para explicar a origem da palavra Sertão durante a colonização do Brasil pelos portugueses. A primeira sustenta que ao saírem do litoral brasileiro e se interiorizarem, perceberam uma grande diferença climática nessa região semiárida. Por isso, a chamavam de "desertão", ocasionado pelo clima quente e seco. Logo, essa denominação foi sendo entendida como "de sertão", ficando apenas a palavra Sertão. A segunda versão, mais confiável, descreve a palavra como sendo derivada da palavra latina sertanus, que significa área deserta ou desabitada, que por sua vez deriva de sertum, que significa bosque.
O primeiro processo de interiorização dos colonizadores no país ocorreu nessa região, entre os séculos XVI e XVII. Com a falta de oportunidades no litoral, onde predominava a lavoura de cana-de-açúcar, houve um deslocamento de populações para o interior, que especializaram-se no pastoreio, como a criação de gado. A área foi ocupada por grupos de origem europeia e mestiça, de escassos recursos, os quais se miscigenaram continuamente com os povos indígenas do sertão, apesar da hostilidade existente entre vaqueiros e índios.[3]
O desenvolvimento da pecuária pelos possibilitou o desbravamento nos sertões. Os caminhos de boiadas assim criados permitiram a articulação e o intercâmbio entre o litoral nordestino e o interior, dando origem a diversas cidades. O rio São Francisco constituiu uma via natural de entrada para o Sertão, ampliando a extensão da área envolvida nessas trocas.
Geografia |
Clima |
Mais informações: Seca no Brasil
O Sertão é a sub-região que apresenta o menor índice pluviométrico de todo o país.[4] A escassez e a distribuição irregular das chuvas nessa área devem-se, sobretudo, à dinâmica das massas de ar e, também à influência do relevo. As chuvas geralmente ocorrem entre os meses de dezembro e abril.[5][6] Porém em certos anos, não ocorrem precipitações nesse período e a estiagem pode se prolongar dando origem às secas.
Os mecanismos indutores de pluviosidade na região são a umidade da Amazônia, a Zona de Convergência Intertropical e as frentes frias que organizam instabilidades sobre o Sertão. Entretanto, observa-se a irregularidade na atuação desses sistemas meteorológicos devido a inúmeros fatores. Seu período chuvoso depende crucialmente da temperatura no Oceano Atlântico e da ocorrência dos fenômenos El Niño e La Niña. As áreas que apresentam menor pluviosidade estão localizadas no Vale do São Francisco, entre a Bahia e Pernambuco, e nas escarpas do planalto da Borborema, no estado da Paraíba.
A ocorrência das secas está diretamente relacionada ao fenômeno do aquecimento das águas do Oceano Pacífico,[6] nas proximidades da costa oeste da América do Sul, denominado El Niño. Esse aquecimento do Pacífico ocorre em períodos irregulares de três a sete anos,[6] interferindo na circulação dos ventos em escala global, e consequentemente, na distribuição das chuvas no Sertão nordestino. Elas acarretam grandes prejuízos aos proprietários rurais, que perdem suas lavouras e criações, e à população em geral, que sofre com a falta de alimentos e água potável nessa sub-região do Nordeste. A área atingida pela seca equivale a três vezes o estado de São Paulo. As chuvas esporádicas e o auxílio emergencial não podem fazer esquecer a necessidade de se criarem alternativas eficazes para combater o problema. Uma alternativa para garantir água durante a seca na zona rural são as cisternas, com capacidade para 15 mil litros custa cerca de R$ 1,8 mil e podem abastecer uma família de cinco pessoas por sete a oito meses de estiagem.[7]
Polígono das Secas |
Ver artigo principal: Polígono das secas
Com o propósito de facilitar ações para combater as secas e amenizar os seus efeitos sobre a população sertaneja, o governo federal delimitou em 1951,[6][8][nota 1] o chamado Polígono das Secas.
Inicialmente, o Polígono abrangia cerca de 950 000 quilômetros quadrados,[6] estendendo-se pelas áreas de clima semiárido. Entretanto, após a ocorrência de grandes secas, a área do Polígono foi ampliada, alcançando parte do estado de Minas Gerais, também atingido pelas estiagens.
Diversos órgãos do governo são responsáveis pelo combate às secas, especialmente o DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), que coordena programas de irrigação, construção de poços artesianos e açudes, bem como outras funções, visando amenizar os problemas da população.
Caatinga |
Ver artigo principal: Caatinga
A Estepe, chamada de Caatinga no Brasil, é a vegetação predominante em todo Sertão e em parte do Agreste. Ela ocupa as áreas de clima semiárido, resistindo às secas através de adaptações naturais, é um tipo de vegetação xerófila de semidesertos.
Demografia |
Centros urbanos |
O seu maior polo geopolítico e civilizacional fica na sua parte mais setentrional e costeira, ou seja, Fortaleza, que também é uma das nove capitais da região.
O sertão também conta com importantes centros urbanos que exercem significativa influência na região, tais como: Picos, Pedro II, Oeiras e São Raimundo Nonato no Piauí; Juazeiro do Norte, Sobral, Icó e Crato no Ceará; Mossoró, Caicó, Assu e Currais Novos no Rio Grande do Norte; Patos, Sousa, Cajazeiras e Pombal na Paraíba; Petrolina, Serra Talhada, Araripina e Arcoverde em Pernambuco; Delmiro Gouveia, Santana do Ipanema, São José da Tapera e Pão de Açúcar em Alagoas; e Vitória da Conquista, Juazeiro, Jequié e Barreiras na Bahia.
Regiões metropolitanas |
O sertão nordestino possui seis regiões metropolitanas oficiais, sendo a mais importante a Região Metropolitana de Fortaleza. Segue abaixo a população de cada uma. Os dados são de 2010.
Posição | Região metropolitana | Estado | População | Imagem de satélite |
---|---|---|---|---|
1 | Fortaleza | Ceará | 3 610 379 | |
2 | RIDE Petrolina e Juazeiro | Pernambuco e Bahia | 742 759 | |
3 | Cariri | Ceará | 537 860 | |
4 | Patos | Paraíba | 224 550 | |
5 | Cajazeiras | Paraíba | 167 979 | |
6 | Vale do Piancó | Paraíba | 146 605 |
Cultura |
O sertão compete com a Zona da Mata pelos melhores carnavais da região. O mesmo ocorre com o São João, já que o Agreste possui os maiores, porém o sertão compete com muitos dos melhores festivais, dentre os quais se destacam o de Patos e Mossoró. No litoral semiárido, também existe a cultura do jangadeiro setentrional, tido como o arquétipo do cearense, mas que não reflete tanto o sertanejo meridional, sem litoral. O principal ritmo nativo do Sertão é o forró.
Muito embora não seja divulgado na grande mídia, a região do sertão é farta no tocante à cultura da poesia popular. É imensa a quantidade de pessoas com habilidade na arte da rima e no improvisar de versos. Através desses repentista, algumas canções tornaram-se conhecidas nacionalmente: como exemplo, a música "Mulher nova bonita e carinhosa", conhecida na interpretação da cearense Amelinha e do paraibano Zé Ramalho é de autoria do cantador repentista pernambucano, Otacílio Batista. Outro exemplo é a música "A volta da asa branca", de autoria de Zé Dantas, outro sertanejo pernambucano, da cidade de Carnaíba.[9][10]
A cultura norte-mineira é uma das mais ricas do Brasil e se difere em cada região, mas se baseia em festas religiosas e folclóricas como levantamento de mastro e os famosos Catopês das Festas de Agosto em Montes Claros. Tem forte influência das lendas e crenças que rondam o Rio São Francisco nas cidades ribeirinhas como Januária, Pirapora, Manga entre outras. Na região do Grande Sertão Veredas, existe a forte tradição da Folia dos Três Reis Magos, que acontece todos os anos no início do ano: os foliões passam de casa em casa e são servidos pão de queijo feito no forno caipira, pinga e café. Uma grande festa na casa de um dos foliões ou devoto fecha a celebração. O vale do Jequitinhonha é também bastante rico culturalmente.[11][12]
Cronologia |
- Século XVII: O sertão é a última região a leste de Tordesilhas a ser conquistada aos nativos (curiosamente a costa de latitude similar foi das primeiras a tal - a questão hidro-geológica explica bastante), no entanto a pioneira na grande pecuária que se desenvolve nas principais bacias da zona (São Francisco, Jaguaribe, Piranhas-Açú, alto Paraíba, etc).
- Século XVIII: Um colono luso-nordestino radicado na estepe franciscana lidera os emboabas rumo a vitória contra os paulistas na direção do alto São Francisco.
- Século XIX: A decadência da pecuária é compensada pelo boom do algodão exportado para o noroeste inglês a exemplo de Liverpool.
- Século XX: Grandes levas de sertanejos pós-boom do algodão vão na direção da Amazônia onde conquistam o Acre, mas também vão a outros biomas do próprio Nordeste nas sedes estaduais e outras regiões (principalmente SP). Muitas personalidades e famosos de várias zonas do país fora da estepe descendem diretamente de sertanejos em várias gerações.
- XXI: A transposição do rio São Francisco gera novas expectativas para o retorno da estepe a grande economia interna e externa a exemplo do que já ocorre na bacia do Jaguaribe, Açú, São Francisco, dentre outros, onde há forte exportação de frutas tropicais para o mercado do norte europeu e até mesmo a única zona vinícula semi-equatorial do mundo, com duas safras por ano. Este vinho único descende de sementes ítalo-estadunidenses, já que as trazidas da Itália para o planalto meridional (região inicial de plantio) não se adaptaram as condições destas longitudes americanas.
Notas
↑ Depois da Lei nº 4 239, de 27 de julho de 1963, estatuiu que o município criado com desdobramento de área de município incluído no Polígono das Secas será considerado como pertencente a este para todos os efeitos legais e administrativos. De outra parte, a Lei nº 4.763, de 30 de agosto de 1965, incluiu o município de Vitória da Conquista.
E finalmente, o Decreto-Lei de nº 63 778, de 11 de dezembro de 1968, delegou ao Superintendente da Sudene a competência de declarar, observada a legislação específica, quais os municípios pertencentes ao Polígono das Secas. Esse Decreto-Lei regulamentou e esclareceu que a inclusão de municípios no Polígono, somente ocorreria para aqueles criados por desdobramento de municípios anteriormente incluídos total ou parcialmente, no mesmo Polígono, quando efetuados até a data da lei regulamentar, ou seja, de 30 de agosto de 1965.
Em 19 de dezembro de 1997, o Conselho Deliberativo da Sudene com a Resolução nº 11 135, aprovou a atualização da relação dos municípios pertencentes ao Polígono das Secas, incluindo aqueles que foram criados por desmembramento até janeiro de 1997.
Referências
↑ http://www.unicef.org/brazil/pt/where_9429.htm
↑ ab I. BOLIGIAN, Levon; II. MARTINEZ, Rogério; III. GARCIA, Wanessa; IV. Alves, Andressa; Geografia, Espaço e Vivência, 6ª série, cap.10, pág. 85, o Agreste e o Sertão, 2005.
↑ RIBEIRO, Darcy. O Brasil sertanejo. In: O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. pp. 364-407. link.
↑ I. BOLIGIAN, Levon; II. MARTINEZ, Rogério; III. GARCIA, Wanessa; IV. Alves, Andressa; Geografia, Espaço e Vivência, 6ª série, cap.10, pág. 85, Por que chove pouco no Sertão, 2005.
↑ http://www.brasilescola.com/brasil/a-seca-no-nordeste.htm
↑ abcde I. BOLIGIAN, Levon; II. MARTINEZ, Rogério; III. GARCIA, Wanessa; IV. Alves, Andressa; Geografia, Espaço e Vivência, 6ª série, cap.10, pág. 86, A Seca no Sertão, 2005.
↑ Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-Árido: Um Milhão de Cisternas Rurais http://www.cliquesemiarido.org.br/>
↑ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L1348.htm
↑ http://www.ufrb.edu.br/janelasculturais/?p=168
↑ http://www.ebah.com.br/content/ABAAAeyswAF/sertao-nordeste
↑ http://www.unicef.org/brazil/pt/where_9429.htm
↑ http://ecoviagem.uol.com.br/brasil/minas-gerais/
Ver também |
- Agreste
- Meio Norte
- Zona da Mata
- Sudene
- Departamento de Nacional de Obras Contra as Secas
- Polígono das secas
Ligações externas |
- Página da Sudene
- Página do DNOCS