Maria Leopoldina de Áustria
Maria Leopoldina | |
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Retrato por Josef Kreutzinger, 1815 | |
Imperatriz Consorte do Brasil | |
Reinado | 12 de outubro de 1822 a 11 de dezembro de 1826 |
Sucessora | Amélia de Leuchtenberg |
Rainha Consorte de Portugal e Algarves | |
Reinado | 10 de março de 1826 a 2 de maio de 1826 |
Predecessora | Carlota Joaquina da Espanha |
Sucessor | Augusto de Beauharnais |
Marido | Pedro I do Brasil & IV de Portugal |
Descendência | Maria II de Portugal Miguel, Príncipe da Beira João Carlos, Príncipe da Beira Januária do Brasil Paula do Brasil Francisca do Brasil Pedro II do Brasil |
Casa | Habsburgo-Lorena (por nascimento) Bragança (por casamento) |
Nome completo | Leopoldina Carolina Josefa Francisca Fernanda |
Nascimento | 22 de janeiro de 1797 |
| Palácio de Schönbrunn, Viena, Áustria, Sacro Império Romano-Germânico |
Morte | 11 de dezembro de 1826 (29 anos) |
| Paço de São Cristóvão, Rio de Janeiro, Brasil |
Enterro | Monumento à Independência do Brasil, São Paulo, Brasil |
Pai | Francisco I da Áustria |
Mãe | Maria Teresa das Duas Sicílias |
Religião | Catolicismo |
Maria Leopoldina de Áustria (Leopoldina Carolina Josefa Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena[1][2][3][4]Viena, 22 de janeiro de 1797 — Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1826) foi arquiduquesa da Áustria, a primeira esposa do imperador D. Pedro I e Imperatriz Consorte do Império do Brasil de 1822 até sua morte, também brevemente sendo Rainha Consorte do Reino de Portugal e Algarves entre março e maio de 1826. Era filha do imperador Francisco I da Áustria e de sua segunda esposa Maria Teresa das Duas Sicílias. Seu casamento com Pedro I e sequente independência do Brasil fizeram com que se tornasse a primeira imperatriz consorte do país e a primeira imperatriz do Novo Mundo.
A educação que Leopoldina recebera em infância e adolescência era eclética e ampla, de nível cultural superior e formação política mais consistente. Tal educação dos pequenos príncipes e princesas da família Habsburgo baseava-se na crença educacional iniciada por seu avô Leopoldo II, que acreditava "que as crianças deveriam ser desde cedo inspiradas a ter qualidades elevadas, como humanidade, compaixão e desejo de fazer o povo feliz".[5] Com uma profunda fé cristã e uma sólida formação científica e cultural – que incluía política internacional e noções de governo –, a arquiduquesa fora preparada desde cedo para reinar.[6][7]
É considerada por muitos historiadores como a principal articuladora do processo de Independência do Brasil ocorrido entre 1821 e 1822, notadamente em setembro de 1822.[8][9][10] O historiador Paulo Rezzutti, autor do livro “D. Leopoldina — A história não contada: A mulher que arquitetou a Independência do Brasil”, sustenta que foi em grande parte graças a ela que o Brasil se tornou uma nação. Segundo ele, a prometida de D. Pedro “abraçou o Brasil como seu país, os brasileiros como o seu povo e a Independência como a sua causa”. Foi também conselheira de Pedro em importantes decisões políticas que refletiram no futuro da nação, como o Dia do Fico e a posterior oposição e desobediência às cortes portuguesas quanto ao retorno do casal à Portugal.[11] Consequentemente, por reger o país em ocasião das viagens de Pedro pelas províncias brasileiras, é considerada a primeira mulher a se tornar chefe de estado na história do Brasil independente.[12][13][14]
Índice
1 Origem e infância
1.1 Primeiros anos
1.2 Educação
2 Casamento em Viena: estratégia política
3 Partida da Áustria, travessia do Atlântico e chegada ao Brasil
4 Regência e Imperatriz do Brasil
4.1 Regência
5 Declínio da saúde e morte
5.1 Comoção popular
5.2 Causa da morte
5.3 Morte e preservação da memória
6 Descendência
7 Genealogia
8 Títulos e tratamentos
9 Representações na cultura
10 Notas
11 Referências
12 Bibliografia
13 Ligações externas
Origem e infância |
Primeiros anos |
Leopoldina nasceu em 22 de janeiro de 1797, no Palácio de Schönbrunn, na cidade de Viena, Áustria. Ela pertencia à Casa de Habsburgo-Lorena, nobre família e uma das mais antigas e poderosas dinastias da Europa, a qual reinou sobre a Áustria de 1282 até 1918, dentre outros territórios que imperaram e era a mais antiga casa reinante na Europa quando Leopoldina nasceu. Era filha do último imperador do Sacro Império Romano-Germânico Francisco II, (o qual, a partir de 1804, passou a ser apenas o "Imperador da Áustria" com o título de Francisco I, porque Napoleão I exigiu que ele renunciasse ao título de imperador, no ano em que Napoleão era sagrado imperador dos franceses), e de sua segunda esposa e prima Maria Teresa da Sicília, princesa das Duas Sicílias, de um ramo da Casa de Bourbon, pois era filha do rei Fernando I das Duas Sicílias e de sua esposa, Maria Carolina da Áustria.
O nome completo da arquiduquesa de Áustria, que viria a ser a primeira imperatriz do Brasil, era Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena, como informa o seu biógrafo e grande estudioso de sua vida, Carlos H. Oberacker Jr, na obra "A Imperatriz Leopoldina: Sua Vida e Sua Época", confirmado também pela obra "Cartas de uma Imperatriz", de Bettina Kann e outros autores. Em um dos ensaios apresentados no livro, é citado um trecho do publicado no jornal austríaco "Wiener Zeitung", de 25 de janeiro de 1797, dando a notícia do nascimento da Arquiduquesa Carolina Josefa Leopoldina, acontecido três dias antes, num domingo, dia 22 de janeiro. Informa Oberacker Jr. (p. 301 e 302) que o nome "Maria" não se encontra entre os nomes de batismo da Arquiduquesa, o que de fato é verdade. Segundo ele, Leopoldina passou a usá-lo já em sua viagem para o Brasil, ao tratar de alguns negócios particulares. No Brasil, ela passou a assinar somente Leopoldina, ou utilizando o pré-nome Maria, como pode ser visto no seu Juramento à Constituição do Brasil. Uma outra hipótese também apresentada pelo mesmo autor é que Leopoldina teria adotado o nome "Maria" por sua grande devoção à Virgem e invocar sua proteção às crianças portuguesas, e pelo fato de todas as infantas portuguesas usarem este nome.[15]
Maria Leopoldina nasceu em um período turbulento da história europeia, e sua infância e primeira juventude não correram pacificamente; em 1799, Napoleão Bonaparte assume o poder da França no cargo de primeiro-cônsul e posteriormente se auto intitula imperador. A partir daí, estabelece sobre a Europa uma série de conflitos e sistemas de alianças conhecidas como coligações “ou coalizões” que redefinem com frequência as fronteiras do continente. A Áustria é um dos participantes contra a França, presente em todos os cenários do conflito. Napoleão fazia estremecer as antigas instituições do velho continente. Batalhas ferozes abalavam o Império e a Corte. A irmã mais velha, Maria Luísa de Áustria, casou-se com Napoleão Bonaparte em 1810, buscando fortalecer os laços entre França e Áustria. O casamento por procuração de estado foi, sem dúvida, uma das derrotas familiares mais graves. Só a avó materna da princesa, a rainha Maria Carolina das Duas Sicílias, resmungou com a atitude do genro: “É justamente o que me faltava, tornar-me agora ainda avó do diabo”.[16]
Educação |
Aos dez anos a princesa ficara órfã de mãe. Um ano depois seu pai se casaria novamente com aquela que Leopoldina descreveria como a pessoa mais importante de sua vida, Maria Ludovica. Prima de Francisco I, como ele, neta de Maria Teresa a Grande. Superava a defunta imperatriz em cultura e brilho intelectual, pois tivera uma educação esmerada.[17] Musa e amiga pessoal do poeta Goethe, ela foi responsável pela formação intelectual da enteada, desenvolvendo na jovem o gosto pela literatura, a natureza e a música de Haydin e Beethoven. Não tinha filhos próprios, adotava de bom grado os da antecessora, e esses a chamavam de “querida mamãe”.
Leopoldina teve uma infância marcada pela rigidez com os estudos, estímulos culturais diversos e as sucessivas guerras que ameaçavam o império de seu pai. A princesa e seus irmãos foram educados segundos os princípios de seu avô paterno Leopoldo II, que pregava a igualdade entre os homens, tratando a todos com cortesia, a necessidade de praticar a caridade, e acima de tudo, o sacrifício dos próprios desejos em nome das necessidades do Estado. Seu programa de ensino e dos arquiduques incluía disciplinas como leitura, escrita, alemão, francês, italiano, dança, desenho, pintura, história, geografia e música; em módulo avançado, matemática (aritmética e geometria), literatura, física, latim, inglês, grego, canto e trabalhos manuais.[18] Desde cedo, Leopoldina mostrou maior inclinação para as disciplinas de ciências naturais, interessando-se principalmente por botânica e mineralogia.[19] Leopoldina herdou do pai o hábito do colecionismo: montou acervos de moedas, plantas, flores, minerais e conchas.[20] Entre outubro e dezembro de 1816, teve êxito em aprender rapidamente a língua portuguesa, visto que em dezembro, a princesa já conversava com diplomatas portugueses, e vivia "rodeada de mapas do Brasil e de livros que contém a História deste Reino, ou Memórias a ele relativas".[21] Fazia parte da formação da família o aprendizado de línguas, e Leopoldina falava 6 idiomas.
Eram frequentes as visitas a museus, jardins botânicos, fábricas e campos agrícolas. E, não raro, participavam de bailados, atuavam em peças teatrais e tocavam instrumentos para uma plateia com o objetivo de se adaptar aos cerimoniais e à exposição pública. Os príncipes de Habsburgo eram estimulados a frequentar o teatro especialmente para desenvolver a fala pública e expressões sem timidez, maior articulação e oratória sem medos, além de como se portar diante do povo.[22]
Casamento em Viena: estratégia política |
"Bella gerant alii, tu felix Austria nube": "Deixe que os outros façam a guerra, tu, feliz Áustria, casa-te".
Durante séculos, casamentos reais funcionaram como formas de aliança e de apoio político. Por meio do matrimônio construía-se uma teia de interesses e de solidariedade que integrava a cartografia geopolítica do continente europeu.[23] O casamento entre Maria Leopoldina e Pedro de Alcântara resultava em uma aliança estratégica entre as monarquias de Portugal e Áustria.
Teve enorme papel nas negociações do casamento o Marquês de Marialva, o mesmo que negociara, aconselhado por Alexander von Humboldt, a vinda para o Brasil da Missão Artística Francesa. D. João VI tudo fez para incluir nas negociações a infanta Dona Isabel Maria, que seria regente do reino de Portugal de 1826 a 1828 e faleceria solteira. Marialva foi, por exemplo, quem garantiu que a corte estava decidida a voltar para Portugal logo que o Brasil demonstrasse que havia seguramente "escapado das chamas das guerras da independência que avançavam nas colônias espanholas", obtendo assim o consentimento austríaco ao casamento. O contrato foi assinado em Viena a 29 de novembro de 1816. O noivo era o príncipe D. Pedro, filho de João VI e de Carlota Joaquina de Bourbon, herdeiro do trono do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
A cerimônia do casamento, celebrada pelo Arcebispo de Viena, se realizou na terça-feira dia 13 de maio de 1817, data de aniversário de D. João VI. A cerimônia foi realizada por procuração, na Igreja de Santo Agostinho, em Viena. D. Pedro foi representado pelo tio de Dona Leopoldina, o arquiduque Carlos da Áustria-Teschen, grande chefe militar, herói da Batalha de Aspern-Essling, ocorrida em 1809. Maria Leopoldina e Pedro receberam uma bênção nupcial em 6 de novembro de 1817, no Rio de Janeiro, quando do desembarque da princesa no Brasil.
O ponto culminante das cerimônias de casamento foi atingido no Augarten de Viena onde, a 1 de junho, Marialva, que tinha tido poucas oportunidades para revelar o esplendor, riqueza e hospitalidade de sua nação, deu uma suntuosa recepção para a qual fizera preparativos durante todo o inverno.» Pouco tempo antes do casamento, duas fragatas austríacas, a Áustria e a Augusta, partiram para o Rio, com os móveis e decorações para a embaixada da Áustria recém instalada no Rio, o equipamento para uma expedição científica ao interior do Brasil e numerosas mostras de produtos comerciais austríacos.[24]
O príncipe de Metternich, diplomata austríaco, viu no príncipe herdeiro português dom Pedro a possibilidade de fortalecimento dos laços entre os reinos da Áustria e de Portugal, de ideais monárquicos absolutistas. Para dom João VI, foi a oportunidade de estreitar novas alianças com tradicionais dinastias como forma de se contrapor à excessiva influência da Inglaterra nos seus domínios. Já a Áustria via o novo império luso-brasileiro como um importante aliado transatlântico que se inseria perfeitamente nos ideais reacionários da Santa Aliança.[25] O casamento era um ato político e não um impulso sentimental.
O casamento foi realizado por procuração em Viena, no dia 13 de maio de 1817, data de aniversário de dom João VI. O noivo, que não estava presente, foi representado em cerimônia pelo arquiduque Carlos, tio paterno de Leopoldina. No Rio de Janeiro, também foi festejada a notícia do ajustado enlace. Mas dom Pedro I e a arquiduquesa da Áustria só se viram pela primeira vez cinco meses depois – a bordo do barco que a trouxera. Dona Leopoldina desembarcou no Rio de Janeiro em 5 de novembro. No dia seguinte, as definitivas cerimônias de matrimônio se pronunciavam na Capela Real e enchiam de vida eventos por toda a cidade.[26]
Partida da Áustria, travessia do Atlântico e chegada ao Brasil |
A viagem de Leopoldina ao Brasil foi difícil e demorada. A arquiduquesa partiu de Viena em direção a Florença em 2 de junho de 1817, onde esperava definições da corte portuguesa para prosseguir com a travessia que a levaria ao marido, dom Pedro. Ainda era recente o restabelecimento da ordem monárquica, destituída em Recife por revoltosos de ideias liberais no episódio conhecido como Revolução Pernambucana.
Aquela era a primeira vez que a princesa vira o mar.[27] Leopoldina embarcou em Livorno, na Itália, na esquadra portuguesa composta das naus D. João VI e São Sebastião. Era a primeira vez que via o mar. Com uma bagagem de princesa e numerosa comitiva, enfrentou 86 dias de travessia nas águas do Atlântico. Quarenta caixas da altura de um homem contendo o enxoval, livros, suas coleções e presentes para a futura família somavam-se a algumas damas da corte, uma camareira-mor, um mordomo-mor, seis damas, quatro pajens, seis nobres húngaros, seis guardas austríacos, seis camaristas, um esmoler-mor, um capelão, um secretário particular, um médico, um mineralogista e seu professor de pintura.[28]
Partiu definitivamente rumo ao Brasil em 15 de agosto. As diferenças de hábitos e costumes, notadas já no período em que esteve embarcada, prenunciavam as dificuldades que teria de enfrentar no Rio de Janeiro. A primeira vez que pisou em território português, contudo, não foi em terra Brasilis, mas na Ilha de Madeira, em 11 de setembro de 1817.[29][30][31]
À chegada ao Rio, em 5 de novembro, a austríaca teria causado espanto aos reis, que esperavam uma bela princesa. Consta que tinha uma bela face e era obesa. Também era extraordinariamente culta para sua época, com grande interesse pela botânica. A chegada, proporcionou a Jean-Baptiste Debret ocasião para sua primeira intervenção, onde teve 12 dias para ornamentar a cidade. O mesmo possuía um atelier no bairro do Catumbi, onde na sua qualidade de naturalista, fez mais tarde desenhos de plantas e flores para Leopoldina. Diria ele: J’ai été chargé d’exécuter gracieusement pour elle quelques—uns de ces dessins, ce qu’elle (l’impératrice) osait demander, affirmait-elle, au nom de sa soeur, l’ancienne impératrice des Français. (ou seja, "Fui encarregado de executar graciosamente para ela alguns desenhos que ela ousava pedir, dizia, em nome de sua irmã, antiga imperatriz dos franceses.") Pois uma irmã mais velha de Leopoldina foi Maria Luísa, a segunda esposa de Napoleão Bonaparte e segunda imperatriz dos franceses. No atelier, Debret desenhou os grandes uniformes de gala da corte, em verde e ouro, as condecorações do novo Estado, como a Coroa de Ferro criada por Napoleão em 1806 para o Reino da Itália. Debret desenhou também as insígnias da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, comparáveis à da medalha da Legião de Honra, e as da Imperial Ordem da Rosa, instituída em homenagem à neta de Josefina, primeira esposa de Napoleão, Amélia de Leuchtenberg ou de Beauharnais, duquesa de Leuchtenberg.
O historiador Carlos Oberacker, em seu livro "A Imperatriz Leopoldina - Sua Vida e Sua Época", narra que era exímia caçadora e que acompanhou o marido em caçadas na planície de Jacarepaguá durante a lua-de-mel. Ali, na sacristia da Igreja Nossa Senhora da Penha, existe uma cadeirinha, que, segundo a tradição, serviu a Dona Leopoldina. Mais tarde, a cadeirinha foi usada por Teresa Cristina, esposa de D. Pedro II.
O jovem casal foi instalado em uma casa de campo nos terrenos da Quinta da Boa Vista. O diplomata Metternich interceptaria uma carta do barão de Eschwege a seu sócio em Viena em que este dizia: "Por falar no Príncipe Herdeiro, posto que não seja destituído de inteligência natural, é falho de educação formal. Foi criado entre cavalos, e a princesa cedo ou tarde perceberá que ele não é capaz de coexistir em harmonia. Além disso, a corte do Rio é muito enfadonha e insignificante, comparada com as cortes da Europa".
Na esteira de Leopoldina chegaram os primeiros imigrantes, colonos suíços que se fixaram nos arredores da corte, fundando Nova Friburgo e instalando-se na futura Petrópolis, residência de verão sobretudo do Segundo Reinado. A partir de 1824, devido à campanha brasileira na Europa organizada pelo major Georg Anton von Schäffer, os alemães chegaram mais numerosos e se instalaram outra vez em Nova Friburgo e nas regiões temperadas das províncias de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, onde a colônia de São Leopoldo foi criada em sua homenagem. Alguns da Pomerânia foram para o Espírito Santo, vivendo até os anos 1880 em tão completo isolamento que nem falavam português.
Regência e Imperatriz do Brasil |
1821 foi o ano de mudanças decisivas na vida de Leopoldina. Pertencente a uma das famílias mais conservadoras e duradouras da Europa – Habsburgo –, vinha de uma educação esmerada fundamentada aos moldes das monarquias absolutistas da época. “O meu esposo, Deus nos valha, ama as novas ideias”, escreveu ao pai, uma assustada princesa Leopoldina em junho de 1821, desconfiada dos novos valores políticos constitucionais e liberais.[32] Testemunhou pessoalmente os eventos ocorridos na Europa anos antes, na qual Napoleão alterou sistematicamente o poder político do continente, tendo isso certa influência em sua maneira de enxergar esses novos conceitos políticos. A educação conservadora e tradicional da qual a princesa fora disciplinada também se soma a esse aspecto.
A princesa, antes carente de afeto e de aprovação, rapidamente dá lugar à mulher adulta que encara a vida sem ilusões. Com o desenrolar do atrito entre Portugal e Brasil, a princesa se envolvia cada vez mais no turbilhão dos acontecimentos políticos que precediam a Independência. Seu envolvimento com a política brasileira a levaria a desempenhar um papel fundamental na Independência, ao lado de José Bonifácio de Andrada. Nessa fase, Leopoldina distancia-se das ideias conservadoras (absolutistas) da corte de Viena e adota um discurso mais liberal (constitucional) a favor da causa brasileira.[33]
Em 25 de abril de 1821, a corte voltou para Portugal. Uma esquadra de 11 navios levou o rei, a corte, a casa real e o tesouro real, e só o príncipe Pedro permaneceu no Brasil como regente do país, com amplos poderes contrabalançados por um conselho de regência. A princípio, Pedro foi incapaz de dominar o caos: a situação estava dominada pelas tropas portuguesas, em condições anárquicas. A oposição entre portugueses e brasileiros tornou-se cada vez mais evidente. Vê-se claramente, na correspondência de Leopoldina, que ela esposou calorosamente a causa do povo brasileiro e chegou a desejar a independência do país, sendo por isso amada e venerada pelos brasileiros.
A jovem princesa, preparada para manter fidelidade à monarquia absolutista, não imaginava que seria regente nos momentos conturbados que antecederam o rompimento com Portugal, nem que defenderia a independência do Brasil antes mesmo de dom Pedro I. A princesa austríaca esteve sempre do lado da causa brasileira e, em várias cartas escritas a seus amigos na Europa, começou a fazer distinção entre portugueses e brasileiros, deixando claro o que pensava sobre a dominação portuguesa sobre a colônia. Com o retorno da corte para Portugal, Leopoldina concebeu que ficar na América era a solução para a defesa da legitimidade dinástica contra os excessos liberais que ameaçavam o poder dos Habsburgo e Bragança no Brasil. Presidindo o Conselho de Ministros durante a viagem do príncipe a São Paulo, apoiou a permanência dele no Brasil, simbolizada no Dia do Fico. Assim, aos 24 anos, tomava uma decisão política que a sentenciava à permanência indeterminada na América e a privaria pelo restante da vida do convívio com o pai, a irmã e outros familiares.
A atitude de D. Leopoldina, defendendo os interesses brasileiros, acha-se eloqüentemente estampada na carta que escreveu a D. Pedro, por ocasião da independência do Brasil. “É preciso que volte com a maior brevidade. Esteja persuadido de que não é só o amor que me faz desejar mais que nunca sua pronta presença, mas sim as circunstâncias em que se acha o amado Brasil. Só a sua presença, muita energia e rigor podem salvá-lo da ruína”.[34]
Segundo Ezekiel Ramirez, abaixo citado, eram visíveis os sinais de uma nascente unidade brasileira como nação independente nas províncias do sul, mas o norte apoiava as Cortes de Lisboa e pediam independência regional. Se o Príncipe Regente tivesse deixado o país naquele momento, o Brasil estaria perdido para Portugal pois as cortes de Lisboa repetiam o mesmo erro que levou as cortes espanholas a perderem as colônias, procurando estabelecer contactos diretos com cada província em particular.
No Rio, milhares de assinaturas colhidas exigiam que os regentes permanecessem no Brasil. "A corajosa atitude de José Bonifácio de Andrada e Silva contra a arrogância dos portugueses encorajou muito as aspirações de unidade que existiam nas províncias meridionais, especialmente em São Paulo. Um grupo de homens altamente cultos liderou este movimento". Depois do dia do Fico, 9 de janeiro de 1822, organizou-se novo ministério sob a chefia de José Bonifácio, "no fundo rigoroso monarquista", e o Príncipe Real cedo conquistaria a confiança do povo. Em 15 de fevereiro de 1822 as tropas portuguesas deixaram o Rio, e sua partida representou a dissolução dos laços entre o Brasil e a metrópole. O príncipe foi triunfalmente recebido nas Minas Gerais.
Regência |
Quando o marido, príncipe regente, viajou a São Paulo em agosto de 1822, para apaziguar a política (o que culminaria na proclamação da independência do Brasil em setembro), Leopoldina exerceu a regência. Grande foi sua influência no processo de independência. Os brasileiros já estavam cientes de que Portugal pretendia chamar Pedro de volta, rebaixando o Brasil outra vez ao estatuto de simples colônia, em vez de um Reino Unido ao de Portugal. Havia temores de que uma guerra civil separasse a Província de São Paulo do resto do Brasil. Pedro entregou o poder a Leopoldina a 13 de agosto de 1822, nomeando-a chefe do Conselho de Estado e Princesa Regente Interina do Brasil, com poderes legais para governar o país durante a sua ausência e partiu para apaziguar São Paulo.
A princesa recebeu notícias que Portugal estava preparando ação contra o Brasil e, sem tempo para aguardar o retorno de Pedro, Leopoldina, aconselhada por José Bonifácio de Andrada e Silva, e usando de seus atributos de chefe interina do governo, reuniu-se na manhã de 2 de setembro de 1822, com o Conselho de Estado, assinando o decreto da Independência, declarando o Brasil separado de Portugal. A imperatriz envia-lhe uma carta, juntamente com outra de José Bonifácio, além de comentários de Portugal criticando a atuação do marido e de dom João VI. Ela exige que Pedro proclame a Independência do Brasil e, na carta, adverte: "O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece".
O oficial chegou ao príncipe no dia 7 de setembro de 1822. Leopoldina enviara ainda papéis recebidos de Lisboa, e comentários de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, deputado às cortes, pelos quais o Príncipe-Regente se inteirou das críticas que lhe faziam na metrópole. A posição de João VI e de todo o seu ministério, dominados pelas cortes, era difícil.
Enquanto se aguardava o retorno de Pedro, Leopoldina, governante interina de um Brasil já independente, idealizou a bandeira do Brasil, em que misturou o verde da família Bragança e o amarelo ouro da família Habsburgo. Outros autores opinam que Jean-Baptiste Debret, artista francês, foi o autor do pavilhão nacional que substituía o azul e branco da vetusta corte portuguesa, símbolo da opressão do antigo regime. Depois disso, Leopoldina se empenhou a fundo no reconhecimento da autonomia do novo país pelas cortes europeias, escrevendo cartas ao pai, imperador da Áustria, e ao sogro, rei de Portugal.[35][36]
Foi aclamada imperatriz em 1 de dezembro de 1822, na cerimônia de coroação e sagração de Pedro I.
Declínio da saúde e morte |
Comoção popular |
A ligação escandalosa do marido com Domitila (ou Titília, como ele a chamava na intimidade) deixava a imperatriz humilhada. A filha que teve com Domitila – na mesma época em que a imperatriz dava a luz outra criança – recebeu do pai o nome de Isabel Maria de Alcântara e o título de Duquesa de Goiás. Em carta à irmã que morava na Europa, Maria Leopoldina desabafa: “O monstro sedutor é a causa de todas as desgraças”. Solitária, isolada, devotada apenas a parir um herdeiro para o trono – o futuro Dom Pedro II nasceria em 1825 e Leopoldina tornava-se cada vez mais depressiva. Desde o início de novembro de 1826 a imperatriz não se encontrava bem de saúde. Cólicas, vômitos, sangramentos e delírios foram frequentes nas últimas semanas de vida da imperatriz, cuja saúde definhou rapidamente.
A imperatriz Leopoldina era querida por todo o povo brasileiro, e sua popularidade era maior e mais expressiva do que a de Pedro, diga-se de passagem. O Rio de Janeiro começou a acompanhar a gravidade da doença de d. Leopoldina. O embaixador da Prússia, Theremim, oficiava a respeito das demonstrações públicas a Berlim:[37]
“A consternação no meio do povo era indescritível; nunca [...] foi visto igual sentimento uníssono. O povo se encontrava literalmente nos joelhos rogando ao Todo Poderoso pela conservação da imperatriz, as igrejas não se esvaziavam e nas capelas domésticas todos se encontravam de joelhos, os homens formavam procissões, não de habituais que quase costuma provocar risos, mas sim de verdadeira devoção. Em uma palavra, tal inesperada afeição, manifestada sem dissimulação, deve ter sido para a alta enferma uma verdadeira satisfação”.
No dia 7 de dezembro, o Diário Fluminense noticiava que o povo do Rio de Janeiro continuava, em sua ansiedade, a procurar a todos os momentos saber do “estado aflitivo” de d. Leopoldina:[38]
“Já pelos boletins, já pessoalmente dirigindo-se à Imperial Quinta, onde se mistura grandes e pequenos, nacionais, e estrangeiros, ricos e pobres, com as lágrimas nos olhos, o rosto abatido e o coração repassado de amargura e inquietação, fazem tremendo esta pergunta – Como está a Imperatriz?”.
Na tarde do dia 6, conforme noticiava o mesmo jornal, e confirmaria futuramente o sermão de frei Sampaio. Diversas procissões acompanhando “as Sagradas Imagens das respectivas igrejas” tinham como destino a Capela Imperial. Segundo frei Sampaio:[39]
“Nunca se observou na estrada de São Cristóvão maior concurso de povo; atropelavam-se as carruagens; todos corriam em lágrimas, entretanto que no centro da cidade giravam as procissões de preces, com suas imagens, e com acompanhamento de todo o clero, assim regular ou secular. O povo não pode ver sem público sinais de piedade a imagem de Nossa Senhora da Glória, que nunca saiu de seu templo, e que pela primeira vez, debaixo de muita chuva, ia como visitar a princesa, que aparecia todos os sábados aos pés dos seus altares [...] Não houve, em uma palavra, irmandade alguma, que não levasse à Capela Imperial os Santos da maior devoção”.
Causa da morte |
Há divergências sobre a causa mortis da primeira imperatriz do Brasil. Para alguns autores, teria falecido em consequência de uma septicemia puerperal, enquanto o imperador se encontrava no Rio Grande do Sul, aonde fora inspecionar as tropas durante a Guerra da Cisplatina.[40]
É no entanto muito difundida a versão de que Maria Leopoldina teria morrido em consequência das agressões desferidas contra si durante acesso de raiva de seu marido, o imperador, versão essa corroborada por historiadores como Gabriac, Carl Seidler, John Armitage e Isabel Lustosa.[41][42][43] Essa suposta causa da morte sofreu um revés, com a recente exumação de seus restos mortais onde não se verificou nenhuma fratura.[44] Isso se teria dado em 20 de novembro de 1826, quando assumiria a regência do país para que Pedro pudesse viajar ao Sul para tratar da guerra contra o Uruguai. Querendo demonstrar ser mentira o boato sobre suas relações extraconjugais e o clima ruim entre o casal, Pedro I resolveu que o beija-mão à regente seria feito em sua presença, junto a Domitília de Castro, marquesa de Santos e dama de companhia da imperatriz. Maria Leopoldina, arquiduquesa austríaca, achou uma enorme humilhação ser recebida pela corte junto à amante de seu marido, e afrontou Pedro recusando-se a entrar na sala do trono. O imperador, de gênio volátil, tentou arrastá-la pelo palácio, agredindo-a com palavras e chutes. Acabou por comparecer ao beija-mão acompanhado unicamente pela marquesa de Santos. Há que se ressaltar que não se conhece outra testemunha no momento do fato além dos três, e que as suspeitas sobre as agressões sofridas teriam sido levantadas pelas damas e médicos que ampararam Maria Leopoldina na sequência. Contudo, a realidade dos fatos fora outra:
Exagerou-se, que Pedro lhe dera um pontapé, razão da doença. A cena, presenciada pelo agente austríaco [refere-se ao embaixador austríaco, Filipe Leopoldo Wenzel, Barão de Mareschal], consistiu em palavras desatinadas. O certo é que não faltaram motivos a Leopoldina para a perturbação da gravidez, a cujo malogro sucumbiu.[45]
A imperatriz, que havia meses encontrava-se em grave processo de depressão e na 12ª semana de gravidez, teve a saúde profundamente abalada. Em sua última carta à irmã Maria Luísa, ditada à marquesa de Aguiar, menciona um terrível atentado que sofrera pelas mãos de seu marido na presença da amante:
São Cristóvão, 8 de dezembro de 1826, às 4 horas da manhã
Minha adorada mana!
Reduzida ao mais deplorável estado de saúde e tendo chegado ao último ponto de minha vida em meio dos maiores sofrimentos, terei também a desgraça de não poder eu mesma explicar-te todos aqueles sentimentos que há tanto tempo existiam impressos na minha alma. Minha mana! Não tornarei a vê-la! Não poderei outra vez repetir que te amava, que te adorava! Pois, já que não posso ter esta tão inocente satisfação igual a outras muitas que não me são permitidas, ouve o grito de uma vítima que de tu reclama - não vingança - mas piedade, e socorro do fraternal afeto para meus inocentes filhos, que órfãos vão ficar, em poder de si mesmos ou das pessoas que foram autores das minhas desgraças, reduzindo-me ao estado em que me acho, de ser obrigada a servir-me de intérprete para fazer chegar até tu os últimos rogos da minha aflita alma. A Marquesa de Aguiar, de quem bem conheceis o zelo e o amor verdadeiro que por mim tem, como repetidas vezes te escrevi, essa única amiga que tenho é quem lhe escreve em meu lugar.
Há quase quatro anos, minha adorada mana, como a ti tenho escrito, por amor de um monstro sedutor me vejo reduzida ao estado da maior escravidão e totalmente esquecida pelo meu adorado Pedro. Ultimamente, acabou de dar-me a última prova de seu total esquecimento a meu respeito, maltratando-me na presença daquela mesma que é a causa de todas as minhas desgraças. Muito e muito tinha a dizer-te, mas faltam-me forças para me lembrar de tão horroroso atentado que será sem dúvida a causa da minha morte. Cadolino, que por ti me foi recomendado, e que me tem dado todas as provas da maior subordinação e fidelidade, é quem fica encarregado de entregar-te a presente, e declarar-te o que por muitos motivos não posso confiar a este papel. Tendo ele todas as informações que são precisas sobre este artigo, nada mais tenho a acrescentar, confiando inteiramente na sua probidade, honra e fidelidade.
Faltaria ao meu dever se, além de ter declarado ao Marechal e a Cadolino que tenho dívidas contratadas (ou contraídas?) para sustentar os pobres, que de mim reclamarão algum socorro, e para as minhas despesas particulares, não dissesse a ti que o Flach, de quem tenho muitas vezes escrito, é digno de toda tua consideração e de meu Augusto Pai, a quem peço-te remeter a inclusa.
Este virtuoso amigo, além de ter se sacrificado e comprometido a si mesmo e seus negócios para me servir, não desprezou meio algum para me procurar socorros. Peço-te por quanto tens de mais sagrado de lhe prestares todo o auxílio, de modo que ele possa satisfazer aquelas dívidas que por mim tem contraído. Recomendo este exemplo da mais virtuosa amizade. Cadolino te dirá qual foi o procedimento de Marechal para comigo. A Marquesa de Aguiar fica encarregada de dar a ti os mais miúdos detalhes sobre quanto diz respeito às minhas queridas filhas. Ah, minhas queridas filhas! Que será delas depois da minha morte? É a ela que entreguei a sua educação até que o meu Pedro, o meu querido Pedro não disponha o contrário. Adeus minha adorada mana.
Permita o Ente Supremo que eu possa escrever-te ainda outra vez, pois que será o final do meu restabelecimento.
L. S. B. Marquesa de Aguiar Escrevi.[46][nota 1]
Durante a agonia de Leopoldina surgiram os mais diversos boatos: de que a imperatriz era prisioneira na Quinta da Boa Vista, de que estava sendo envenenada por seu médico a mando da marquesa de Santos entre outros. A popularidade de Domitília de Castro, que já não era das melhores, piorou, tendo sua casa em São Cristóvão sido apedrejada e seu cunhado, camareiro da imperatriz, alvejado por dois tiros. O direito de presidir as consultas médicas à imperatriz, como sua dama de companhia, lhe foram negadas, e ministros e funcionários do paço sugeriram que ela não deveria continuar frequentando a corte.
O comunicado emitido em 11 de dezembro ao imperador sobre a morte de sua esposa relata convulsões, febre alta e delírios. O filho que carregava no ventre morreu consigo. Gozando de grande apreço pela população, que lhe admirava muito mais do que ao marido, teve sua morte chorada por grande parte da nação.[47]
Esta versão dos acontecimentos foi propagada até a Europa, tendo a reputação de Pedro ficado de tal modo manchada que o seu segundo casamento tornou-se deveras dificultoso. É dito que o primeiro galardoado da Imperial Ordem de Pedro Primeiro, Francisco I da Áustria, teria recebido a comenda como um pedido de desculpas do imperador brasileiro.
Luiz Roberto Fontes, médico legista que acompanhou a análise forense da família imperial realizada entre março e agosto de 2012, afirmou que uma doença grave causou o aborto e o óbito de d. Leopoldina, e não uma briga entre o casal na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. "O que temos condições de dizer, hoje, é do que a imperatriz não morreu. Se houve mesmo uma briga por causa da traição de Dom Pedro I, ela não tem a ver com a morte de dona Leopoldina", explica o legista ao público de uma palestra no MusIAL (Museu do Instituto Adolfo Lutz). "Ela teve uma infecção grave, mas não sabemos ainda qual é essa doença. Precisamos de mais análises para descobrir a causa da morte. A tomografia não mostrou fratura no fêmur ou em outro osso, descartando a lenda da queda de uma escada ou do acidente [provocado por Dom Pedro]. Pelos exames, vimos que a causa pode ser uma grave infecção que ela teve por três semanas".[48]
Morte e preservação da memória |
Morreu no Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, bairro de São Cristóvão, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, em 11 de dezembro de 1826. Seu filho que carregava no ventre morreu com ela.[49]
A cerimónia fúnebre foi presidida por Francisco Mont'Alverne, pregador oficial do Império do Brasil.
Seu corpo, revestido do manto imperial, foi colocado em três urnas: a primeira de pinho português, a segunda de chumbo (com a inscrição latina própria, sobre a qual havia uma caveira com duas tíbias cruzadas e, sobre esta o brasão imperial em prata) e a terceira de cedro.
Foi sepultada no Convento da Ajuda, na atual Cinelândia. Quando o convento foi demolido, em 1911, os restos foram transladados para o Convento de Santo Antônio, também no Rio de Janeiro, onde foi construído um mausoléu para ela e alguns membros da Família Imperial. Em 1954, foram transferidos definitivamente para um sarcófago de granito verde ornado de ouro, na Capela Imperial, sob o Monumento do Ipiranga, na cidade de São Paulo.
Descendência |
De seu casamento com Pedro I teve os seguintes filhos:[50]
Maria II de Portugal (4 de Abril de 1819 - 15 de Novembro de 1853), casada primeiro com Augusto de Beauharnais; sem descendência. Casada depois com o príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Gota-Koháry; com descendência.
Miguel, Príncipe da Beira (nascido e morto a 24 de Abril de 1820)
João Carlos, Príncipe da Beira (6 de Março de 1821 - 4 de Fevereiro de 1822)
Januária do Brasil (11 de Março de 1822 - 13 de Março de 1901), casada com o príncipe Luís de Bourbon-Duas Sicílias; com descendência.
Paula do Brasil (17 de fevereiro de 1823 - 16 de Janeiro de 1833), morreu de meningite aos nove anos de idade.[51]
Francisca do Brasil (2 de Agosto de 1824 - 27 de Março de 1898), casada com o príncipe Francisco Fernando de Orléans; com descendência.
Pedro II do Brasil (2 de Dezembro de 1825 - 5 de Dezembro de 1891), casado com a princesa Teresa Cristina das Duas Sicílias; com descendência.
Genealogia |
Maria Leopoldina de Áustria | Pai: Francisco I da Áustria | Avô paterno: Leopoldo II, Sacro Imperador Romano-Germânico | Bisavô paterno: Francisco I, Sacro Imperador Romano-Germânico |
Bisavó paterna: Maria Teresa da Áustria | |||
Avó paterna: Maria Luísa da Espanha | Bisavô paterno: Carlos III da Espanha | ||
Bisavó paterna: Maria Amália da Saxônia | |||
Mãe: Maria Teresa das Duas Sicílias | Avô materno: Fernando I das Duas Sicílias | Bisavô materno: Carlos III da Espanha | |
Bisavó materna: Maria Amália da Saxônia | |||
Avó materna: Maria Carolina da Áustria | Bisavô materno: Francisco I, Sacro Imperador Romano-Germânico | ||
Bisavó materna: Maria Teresa da Áustria |
Títulos e tratamentos |
Estilo imperial e real de tratamento de Maria Leopoldina da Áustria | |
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Estilo imperial | Sua Majestade Imperial |
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Estilo real | Sua Majestade Fidelíssima |
Estilo alternativo | Senhora |
- 22 de janeiro de 1797 – 11 de agosto de 1804: "Sua Alteza Real, Arquiduquesa Leopoldina da Áustria"
- 11 de agosto de 1804 – 6 de novembro de 1817: "Sua Alteza Imperial e Real, Arquiduquesa Leopoldina da Áustria"
- 6 de novembro de 1817 – 12 de outubro de 1822: "Sua Alteza Real, a Princesa do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves"
- 12 de outubro de 1822 – 11 de dezembro de 1826: "Sua Majestade Imperial, a Imperatriz do Brasil
- 10 de março de 1826 – 28 de maio de 1826: "Sua Majestade Fidelíssima, a Rainha de Portugal"
Representações na cultura |
A imperatriz Leopoldina já foi retratada como personagem no cinema e na televisão, interpretada por Kate Hansen no filme "Independência ou Morte" (1972), Maria Padilha na novela "Marquesa de Santos" (1984) e Érika Evantini na minissérie "O Quinto dos Infernos" (2002).
A vida de Leopoldina também foi tema do enredo de 1996 da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, cujo próprio nome já deriva indiretamente do seu (porque a escola é sediada na zona da Estrada de Ferro Leopoldina, assim batizada em homenagem à imperatriz). Na ocasião, a carnavalesca Rosa Magalhães recebeu apoio do governo da Áustria para a realização do desfile.
Em 2007, a atriz Ester Elias deu vida a uma Leopoldina no musical Império, de Miguel Falabella, que conta parte da história do Império do Brasil.
Em 2017, a atriz Letícia Colin interpretou a imperatriz Leopoldina na telenovela das 18h Novo Mundo na Rede Globo.[53]
Em 2018, Leopoldina e a Imperatriz Leopoldinense foram homenageadas pela escola de samba Tom Maior, no carnaval de São Paulo.
Notas
↑ Estudos recentes demonstram que essa última carta de Leopoldina pode ser uma fraude. A original, em francês, nunca foi encontrada em qualquer arquivo, no Brasil ou no exterior. A cópia existente no Arquivo Histórico do Museu Imperial, em Petrópolis, está escrita em português, com uma única frase em francês dizendo que a transcrição foi feita de acordo com uma original expedida em 12 de dezembro de 1826. Essa cópia, utilizada por todos os estudiosos até então, só surgiu no Rio de Janeiro em 5 de agosto de 1834 — quase oito anos após a morte de Leopoldina — para ser registrada junto ao tabelião Joaquim José de Castro. Serviram como testemunhas para atestar a origem da carta: César Cadolino, J. M. Flach, J. Buvelot e Carlos Heindricks. Desses, comprovadamente com dois, Cadolino e Flach, Leopoldina fizera grandes dívidas e nada melhor, para os credores, do que ter uma confissão delas feita pela própria imperatriz. (REZZUTTI, Paulo. Titília e o Demonão. Cartas Inéditas de Pedro I à Marquesa de Santos. Geração Editorial, 2011.)
Referências
↑ "Casamento de d. Pedro"' in: "O Arquivo Nacional e a História Luso-Brasileira"
↑ CASTRO, Manuel António de. D. Carolina Josefa Leopoldina, Princeza Real do Reino Unido, de Portugal, Brazil, e Algarves, 1819
↑ Carolina Josefa Leopoldina, imperatriz Leopoldina
↑ Primeira imperatriz do Brasil - Maria Leopoldina
↑ Rezzutti, Paulo (2017). D. Leopoldina, a história não contada: A mulher que arquitetou a independência do Brasil. Brasil: Leya. p. 48
↑ Rezzutti, Paulo (2017). D. Leopoldina, a história não contada: A mulher que arquitetou a independência do Brasil. Brasil: Leya. p. 48
↑ Rezzutti, Paulo (2017). D. Leopoldina, a história não contada: A mulher que arquitetou a independência do Brasil. Brasil: Leya. pp. 364–365–369–370
↑ superuser (1 de setembro de 2013). «Maria Leopoldina assina o decreto da Independência do Brasil». HISTORY
↑ «A Independência do Brasil decretada por uma mulher». Terra
↑ «Como Leopoldina influenciou a política do Brasil e se tornou uma grande imperatriz?». VIX. 25 de julho de 2017
↑ Rezzutti, Paulo (2017). D. Leopoldina, a história não contada: A mulher que arquitetou a independência do Brasil. Brasil: Leya. pp. 206–207
↑ «Maria Leopoldina da Áustria: a primeira mulher a governar o Brasil Independente». Rainhas Trágicas. 2 de setembro de 2017
↑ Modelli, Laís (10 de dezembro de 2017). «Quem foi a primeira mulher a governar o Brasil». BBC Brasil (em inglês)
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↑ Rezzutti, Paulo (2017). D. Leopoldina, a história não contada: A mulher que arquitetou a independência do Brasil. Brasil: Leya. pp. 104
↑ Rezzutti, Paulo (2017). D. Leopoldina, a história não contada: A mulher que arquitetou a independência do Brasil. Brasil: Leya. pp. 46
↑ Rezzutti, Paulo (2017). D. Leopoldina, a história não contada: A mulher que arquitetou a independência do Brasil. Brasil: Leya. pp. 42
↑ Rezzutti, Paulo (2017). D. Leopoldina, a história não contada: A mulher que arquitetou a independência do Brasil. Brasil: Leya. pp. 92
↑ Rezzutti, Paulo (2017). D. Leopoldina, a história não contada: A mulher que arquitetou a independência do Brasil. Brasil: Leya. p. 48-49
↑ Rezzutti, Paulo (2017). D. Leopoldina, a história não contada: A mulher que arquitetou a independência do Brasil. Brasil: Leya. pp. 49
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↑ Rezzutti, Paulo (2017). D. Leopoldina, a história não contada: A mulher que arquitetou a independência do Brasil. Brasil: Leya. pp. 50
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Bibliografia |
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- LACOMBE, Américo Jacobina, tradutor, Correspondência entre Maria Grahan e a Imperatriz Dona Leopoldina, Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1997.
- PRANTNER, Johanna, Imperatriz Leopoldina do Brasil, Editora Vozes, Petrópolis, 1998.
- RAMIREZ, Ezekiel Stanley, As relações entre a Áustria e o Brasil - 1815-1889, Coleção, Brasiliana, Volume 337, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1968, tradução e notas por Américo Jacobina Lacombe.
- REZZUTTI, Paulo, D. Leopoldina, a história não contada", LeYa/Casa da Palavra, São Paulo, 2017.
Ligações externas |
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Casa Imperial do Brasil
Maria Leopoldina de Áustria Casa de Habsburgo-Lorena Ramo da Casa de Habsburgo 22 de janeiro de 1797 – 11 de dezembro de 1826 | ||
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Precedida por Carlota Joaquina da Espanha | Imperatriz Consorte do Brasil 12 de outubro de 1822 – 11 de dezembro de 1826 | Sucedida por Amélia de Leuchtenberg |
Rainha Consorte de Portugal e Algarves 10 de março de 1826 – 2 de maio de 1826 | Sucedida por Augusto de Beauharnais | |
Princesa do Brasil 13 de maio de 1817 – 12 de outubro de 1822 | Título abolido Independência do Brasil |